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Fogo pôs Vila Nova da Rainha no mapa e pintou região (outra vez) de negro

Foi há uma semana que o mundo desabou para a pequena localidade de Vila Nova da Rainha, no concelho de Tondela, uma região que há três meses lidara com a tragédia dos incêndios de outubro.

Fogo pôs Vila Nova da Rainha no mapa e pintou região (outra vez) de negro
Notícias ao Minuto

08:00 - 21/01/18 por Inês André de Figueiredo com Melissa Lopes

País Tondela

Vila Nova da Rainha, concelho de Tondela. Dia 13 de janeiro, dia de torneio de sueca na Associação Recreativa e Humanitária de Vila Nova da Rainha. O edifício acolhia mais de 60 pessoas, naquela noite de inverno. Uns jogavam às cartas, no primeiro andar, outros, no andar de baixo, assistiam ao jogo Braga – Benfica. Não fosse a tragédia, e teria sido uma noite feliz e animada na terra. Mas não foi.

Por volta das 21 horas, fez ontem uma semana, a explosão de uma salamandra originava o pânico entre as dezenas de pessoas que ali passavam, de uma forma ou de outra, o serão.

Foi exatamente no primeiro andar, onde decorria o torneio de sueca, que teve início o fogo, após a explosão. Um teto falso consumido num ápice, a acumulação de fumos, o pânico e locomoção limitada dos idosos que ali se encontravam ditaram a tragédia.

O autarca falava "numa situação muito crítica", logo após a explosão. Adivinhava-se o pior e os momentos seguintes confirmavam isso mesmo. 

Oito mortos e 38 feridos, numa terra fustigada por outra tragédia negra, os incêndios de outubro, há menos de três meses. O número de vítimas mortais subiria para nove durante a semana, com um dos feridos internados a não resistir. Estava internado no Hospital de São João, no Porto. 

Dos 38 feridos iniciais, nove já tinham tido alta hospitalar ao final da manhã de domingo, 13 foram internados no hospital de Viseu, dois deles na unidade de cuidados intensivos. Dos restantes 16 feridos graves, cinco foram enviados para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, seis para o Porto e os restantes para Lisboa. Quanto à jovem de 15 anos, internada no Hospital Dona Estefânia, saiu esta quarta-feira dos cuidados intensivos.

Notícias ao MinutoNoite trágica em Vila Nova da Rainha fez nove vítimas mortais© GlobalImagens

Na própria noite da tragédia, Marcelo Rebelo de Sousa fazia saber que iria visitar Vila Nova Rainha no dia seguinte. No terreno, assegurava que “tudo tinha funcionado” no socorro às vítimas e aos familiares e amigos das vítimas dizia: “O primeiro sinal de solidariedade foi vosso e continua a ser vosso e aquilo que vos peço é que não desmobilizem. Há famílias com dor”. De Vila Nova da Rainha, o chefe de Estado seguiria para  o hospital de Viseu. "Deram-me ânimo e eu dei-lhes ânimo", afirmava após visitar feridos internados. 

No dia seguinte, a tragédia vivida em Portugal, naquela noite de sábado, fazia eco na imprensa mundial.

O 'negro' trouxe dúvidas sobre a segurança do local

Depois da tragédia que trouxe o ‘negro’ de volta a Tondela, a segurança da Associação Cultural, Recreativa e Humanitária de Vila Nova da Rainha foi colocada, por diversas vezes, em causa. Da salamandra, às portas - uma só abria para dentro e a outra estava trancada -, passando pela falta de extintores.

Na noite em que tudo aconteceu, terá havido uma ignição na salamandra que se encontrava no primeiro andar, onde decorria o torneio de sueca. O teto começou a arder, o fogo e o fumo propagaram-se muito rapidamente e uma janela foi partida, o que terá acelerado a combustão.

A Associação Portuguesa de Segurança garantiu que a “instalação incorreta da salamandra com tubagens que atravessavam o teto falso, a existência de materiais altamente inflamáveis e produtores de gases tóxicos no teto, e saídas de emergência bloqueadas” levaram à tragédia.

A porta trancada, a que abria para dentro e o pânico

No edifício não havia portas com barras anti-pânico, mas legalmente não tinham de existir, já que a licença fora emitida antes de o regime jurídico ter obrigado à presença das mesmas.

Foi essa mesma questão que dificultou a fuga, já que as pessoas desceram do primeiro andar, amontoaram-se no fim das escadas por não conseguirem abrir a porta e o pânico instalou-se. Quando quem estava no andar de baixo se apercebeu, já era tarde. Tentavam abrir a porta mas não era possível pois não havia espaço.

Notícias ao MinutoPorta da associação que dava acesso à rua© Global Imagens

A outra porta, que abria de facto para fora, existia, estava bem perto da primeira, mas encontrava-se trancada. Foi um jipe que acabou por abalroá-la para permitir a fuga de algumas pessoas.

Quando o cenário ficou à vista de todos, pouco havia a fazer.

O apoio às vítimas está garantido, independentemente da investigação

Notícias ao MinutoAssociação Cultural, Recreativa e Humanitária de Vila Nova da Rainha© Global Imagens

Apesar da presença de diversas versões e de ‘culpas’, a seguradora da associação, Liberty Seguros, irá “disponibilizar de imediato”, a favor das vítimas do incêndio, “a totalidade dos capitais das várias coberturas contratadas ao abrigo do contrato de seguro em vigor”.

“Trata-se de "uma decisão irreversível, não ficando, por isso, dependente do resultado das investigações a que as autoridades competentes necessariamente irão proceder quanto às causas da tragédia”, garantiu a seguradora.

O Ministério Público já instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias em que ocorreu o incêndio e a Polícia Judiciária ajudará a investigar o caso.

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