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Ex-deputado Pedro Soares critica fechamento e fulanização do BE

O ex-deputado do BE Pedro Soares garante que o movimento Convergência "não quer cavar trincheiras", mas assegurar que os críticos internos "não são tidos como heréticos", criticando o fechamento e a fulanização do partido, que deve ser "oposição influente".

Ex-deputado Pedro Soares critica fechamento e fulanização do BE
Notícias ao Minuto

09:00 - 22/12/19 por Lusa

Política Pedro Soares

Em entrevista à agência Lusa, Pedro Soares, que não se vê como principal rosto do movimento Convergência, recusa "qualquer expectativa de disputa de lideranças" do BE, mas é um dos nomes que mais se destacam entre os mais de 60 militantes que, descontentes com o rumo político e interno do partido, convocaram o encontro nacional Convergência, que decorreu há duas semanas em Lisboa.

"Nós não queremos cavar trincheiras. Ao contrário de cavar trincheiras como alguns têm feito, nós queremos retirar trincheiras, retirar muros, abrir espaço de diálogo porque nós temos uma perspetiva do Bloco que tem a ver com a sua matriz", resume.

Na visão do antigo deputado do BE, com o fim da 'Geringonça', a direção de Catarina Martins deve agora assumir "com toda clareza" que o partido é "uma oposição influente, que faz propostas, que procura que haja mudanças e que influencia a governação".

Uma das preocupações da Convergência -- e que aliás motivou a criação deste movimento - prende-se com as recentes saídas de vários militantes do partido, porque "o descontentamento sobre determinadas situações que se vivem dentro do Bloco não podem dar origem a mais saídas, a mais sangramento".

"É necessário criar uma esperança dentro do BE, a esperança de que o Bloco se vai manter como uma força plural, que as divergências internas não são perseguidas, que os camaradas que têm essas divergências não são tidos como heréticos, que não vai haver cordões sanitários à volta de movimentos que queiram discutir e debater as coisas", sublinha.

Para Pedro Soares, fundador do partido, "o erro da campanha" para as legislativas foi o facto de as propostas e bandeiras do BE "terem ficado submersas no debate" se os bloquistas queriam ou não um novo acordo com o PS.

Ao longo da entrevista, o membro da articulação nacional da Convergência oferece sempre resistência ao rótulo de "oposição interna" e quando, questionado sobre o porquê, explica: "em termos teóricos, nós não estaremos de acordo com todas as decisões tomadas pela direção e portanto seremos oposição, mas nós preferimos não utilizar essa terminologia porque ela de facto tende a extremar posições".

Apesar das críticas, Pedro Soares -- um dos 80 membros da Mesa Nacional do BE, eleito então pela moção liderada por Catarina Martins -- assume estar "de acordo com muitas das coisas que a direção atual do Bloco faz" e mostra "orgulho" na forma como a líder "tem conseguido afirmar e prestigiar" o partido, mas considera que "não chega".

"O Bloco é demasiadamente importante para se fechar e ter um comportamento que, de algum modo, mimetize o comportamento tradicional dos outros partidos", critica, considerando que o partido "não se pode fulanizar".

O bloquista condena também "um certo autocentramento", sendo um dos objetivos da Convergência "resgatar a ideia do partido-movimento" e a pluralidade fundadora do partido.

Confrontado com a resposta da direção do partido sobre o momento em que aparecem as críticas em relação à 'Geringonça', Pedro Soares lembra que já "em 2016 os dirigentes do Bloco levantaram essa questão" e que isso "é público".

"A Marisa Matias fez declarações públicas sobre essa matéria em que dizia claramente que era preciso repensar os acordos das esquerdas (...) Nas reuniões da direção nacional subsequentes a essas declarações, vários dirigentes, um deles fui eu, coloquei a necessidade de confrontar o PS, o Governo com um novo caderno de encargos", contrapõe.

Este foi, aliás, um dos motivos que o levou a não ser candidato a deputado nas últimas legislativas, depois de ter estado na fotografia da primeira reunião que deu origem à 'Geringonça', ter sido coordenador autárquico e ter até assumido uma das pastas-bandeira dos bloquistas, a habitação.

"Este meu posicionamento crítico não era bem visto por alguns setores dentro do Bloco e portanto eu acho que, em coerência, o que tinha que fazer era não continuar no Parlamento e manter a minha atividade política e cívica", justifica.

Confrontado sobre se tinha sido o facto de ter dado como morada a sede do partido em Braga que determinou o seu afastamento da atual direção, Pedro Soares considera que se trata de "pura intriga", rejeitando ter tido qualquer benefício.

"Eu sei que isso internamente foi aproveitado por algumas pessoas, mas eu nem sequer quero pronunciar-me sobre isso porque eu recuso, assim como recuso a fulanização, também recuso a intriga, que eu acho que é deplorável e eu não quero entrar nesse caminho", assegura.

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