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"Sá Carneiro queria sempre mais. É essa ambição que devemos ter"

JSD lança hoje um livro em homenagem a Sá Carneiro, no dia em que se assinalam 40 anos da morte do fundador e dirigente do PSD. Ao Notícias ao Minuto, Alexandre Poço falou sobre a importância de retratar e lembrar o histórico social-democrata. '40 anos, 40 testemunhos sobre Sá Carneiro' conta ainda com os prefácios de Marcelo e Rui Rio, que decorrem sobre o papel de Sá Carneiro no país, mas também sobre o estado atual da democracia portuguesa.

"Sá Carneiro queria sempre mais. É essa ambição que devemos ter"
Notícias ao Minuto

09:27 - 04/12/20 por Mafalda Tello Silva

Política Alexandre Poço

Cumprem-se, esta sexta-feira, dia 4 de dezembro, quatro décadas sobre a trágica morte de Francisco Sá Carneiro. Com o objetivo de realizar uma homenagem "muito especial" ao histórico social-democrata, a Juventude Social Democrata (JSD) reuniu um conjunto de depoimentos escritos por reconhecidas personalidades da sociedade portuguesa, num livro que "ficará para sempre na memória dos portugueses".

No prefácio de abertura da obra '40 anos, 40 testemunhos sobre Sá Carneiro', Alexandre Poço, presidente da estrutura jovem do PSD, sublinha que esta homenagem "espelha a vontade de que as ideias e o legado de Sá Carneiro inspirem" todos os portugueses e, em particular, os jovens, numa mobilização contra o "determinismo da descrença ou a apatia inerte que grassa no nosso tempo". 

Em declarações ao Notícias ao Minuto, o dirigente da 'jota' reiterou que ainda falta "materializar" o "país idealizado" por Sá Carneiro e esclareceu que estará sempre nas mãos ds gerações mais novas a possibilidade de "se fazer o que ainda não foi feito". Como primeira prioridade para alcançar a visão do fundador do PSD e da JSD, Alexandre Poço apontou para a construção de um país onde as pessoas possam "ter qualidade de vida para as cumprir as suas aspirações", sempre através "da liberdade e da igualdade de oportunidades". 

Destacando que, nos dias de hoje, Portugal é um país que apresenta "níveis de desenvolvimento longe dos almejáveis", que se figura como das nações "mais pobres da União Europeia" e que vive "asfixiado pelos baixos salários e expectativas", Alexandre Poço observou também que este é o quadro de um país com qual Sá Carneiro "não se contentaria".

"Quando analisamos aquilo que fez, pensou, disse ou escreveu, verificamos que Sá Carneiro queria sempre mais. Não se contentava com o presente. Ambicionava mais para a democracia portuguesa, para Portugal no contexto europeu, para a qualidade de vida dos portugueses e é essa ambição que devemos ter. (...) Almejar sempre mais para o país e querer andar mais rápido. Diz-se que Sá Carneiro tinha em muitas situações pressa. Nós temos de ter essa pressa quando achamos que o nosso país não pode ser aquilo que é", vincou. 

Ainda sobre o legado do "Patriota e Estadista", o líder da estrutura jovem elaborou que, apesar de ser sempre necessário enquadrar "o tempo e as circunstâncias" à atuação de qualquer político, esse traço particular de insatisfação de Sá Carneiro deve ser uma qualidade a adquirir por quem está na política. 

Para Alexandre Poço, "o que é preciso" é que os agentes e decisores políticos não se fiquem "por meias tintas" ou compactuem "com uma apatia e discrença generalizada". "É por isso que na JSD procuramos arregaçar as mangas e reformar o país"

E como olharia Sá Carneiro para o PSD de hoje? Segundo o presidente da JSD, a resposta é simples: "Teria a capacidade de observar que o partido, nas décadas que se seguiram à sua morte, bebeu do seu legado e das suas ideias e manteve o traço de ser a força política mais reformista de Portugal".

Notícias ao Minuto                                           © JSD

O lançamento da obra - que conta com textos assinados por Pinto Balsemão, Adriano Moreira, Cavaco Silva, Durão Barroso, João Soares Santana Lopes, Passos Coelho ou Paulo Portas - está marcado para a tarde de hoje, no Grémio Literário, em Lisboa, e contará com a presença do  Presidente da República e do Presidente do PSD

É de recordar que em 4 de dezembro de 1980, Sá Carneiro, então primeiro-ministro, e Adelino Amaro da Costa, ministro da Defesa, morreram na queda do avião Cessna quando partiram de Lisboa para um comício de campanha no Porto, assim como a tripulação e restante comitiva: Snu Abecassis, Manuela Amaro da Costa, António Patrício Gouveia, Jorge Albuquerque e Alfredo de Sousa. Inicialmente, o motivo da queda foi atribuído a um acidente, mas, anos mais tarde, após várias comissões parlamentares de inquérito, ganhou força a tese de atentado, nunca tendo sido incriminados os suspeitos da alegada sabotagem da aeronave. Quatro décadas depois o mistério mantém-se. 

Sá Carneiro, "quem viu e quis, antes de todos, o que haveria de ser o futuro"

Juntamente com Alexandre Poço e Rui Rio, Marcelo Rebelo de Sousa é um dos três autores que prefacia a coletânea de testemunhos sobre Sá Carneiro. Em quatro páginas, o Presidente da República homenageia o histórico social-democrata, recordando-o como "um dos Pais Civis da nossa Democracia" e decorrendo sobre os principais obstáculos e conquistas que marcaram o percurso o político do advogado e, inevitavelmente, do PSD e do próprio país. 

"Para o Partido Popular Democrático, hoje Partido Social Democrata, Francisco Sá Carneiro foi, é e será a grande referência pessoal e política. Para Portugal, Francisco Sá Carneiro foi, é e será quem viu e quis, antes de todos, o que haveria de ser o futuro", começa por denotar o Chefe de Estado.

Sobre o papel de Sá Carneiro no PSD, Marcelo Rebelo de Sousa destaca a capacidade do fundador de entender, desde cedo, a "a diversidade frentista do partido, em termos doutrinários e ideológicos". E, para além de todas as vitórias alcançadas, o Presidente da República não deixa de enaltecer, em particular, a resistência, integridade e persistência do político nos momentos mais difíceis da sua carreira. Entre eles, Marcelo Rebelo de Sousa evoca: a "queda do Primeiro Governo Constitucional", a "campanha contra si e os partido feitos, à renúncia do Presidente António Spínola", a "muito frustrante derrota nas legislativas de 1976" e vários momentos de "profunda cisão" e "divisão interna" dentro do partido ao logo dos anos. 

"Ninguém mais desempenhou um tal papel, afirmando e consolidando, no período mais difícil, um dos dois maiores partidos da Democracia Portuguesa", avalia. 

Ainda que o trabalho partidário seja indissociável do contributo para a democracia, o Presidente da República faz ainda questão de particularizar o impacto que o social-democrata teve na história de Portugal, elogiando, acima de tudo, a capacidade de Sá Carneiro em 'ver e querer', "antes de todos, o que haveria de ser o futuro".

Esta aptidão, frisa o Chefe de Estado, verificou-se quando o antigo primeiro-ministro "viu e quis" uma "Democracia sem tutela militar", uma "Democracia referendária e não apenas representativa" ou uma "revisão constitucional que acelerasse o período transitório de vigência do sistema de Governo herdeiro direto da revolução". 

"Porque tudo isto viu e quis, muito antes de se ter efetivado, não tendo tido a oportunidade histórica de assistir à sua concretização. Por tudo isto lhe deve Portugal uma homenagem -também ela única - nos quarenta anos da sua morte", conclui. 

Rui Rio: Da "coragem e coerência" de Sá Carneiro ao repudio dos "movimentos que se alimentam de ódios"

Ao contrário de Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rio optou por escrever um texto num registo mais pessoal, que se transforma numa análise sobre o PSD e o estado da democracia em Portugal "40 anos depois" da morte de Sá Carneiro. 

Começando por confessar que foi por causa do histórico social-democrata que decidiu filiar-se no PSD, o atual presidente do partido 'laranja' admite também que "ainda hoje" se revê em muitos dos "atos e intervenções" de Sá Carneiro.  

Posto isto, Rui Rio destaca duas "características" que considera que "definem" o perfil de Sá Carneiro, designadamente: "a coragem e a coerência com que sempre esteve na vida pública, ao colocar sempre em primeiro lugar o interesse do país e dos portugueses, em detrimento do partido e do seu próprio interesse particular". Não sendo a primeira vez que o atual líder do PSD defende que o interesse nacional deve-se sobrepor ao partidário, Rui Rio prossegue comparando o partido de ontem como o de hoje.

Lembrando Sá Carneiro "definiu o rumo" para o PSD ser um "partido de centro, mais extamente, de centro esquerda", Rui Rio afirma que, atualmente, o PSD ocupa o espaço de uma força política de centro "que, a par das liberdades e da qualidade da própria democracia, se preocupa com a classe média, com o emprego, com a criação de riqueza e, fundamentalmente, com o futuro do país".

Ainda sobre o PSD dos dias de hoje, o atual dirigente aproveita também para destacar que o partido "respeita as minorias", mas é "de vocação maioritária", recusando "os extremos" e aspirando à construção de "um país com mais qualidade de vida, em que a felicidade é a luz que nos guia". 

"Não nos deixamos iludir, nem acreditamos em movimentos que se alimentam de ódios, de divisões e da fraqueza de alguns grupos menos protegidos. A política existe para resolver os problemas das pessoas e, nunca, para tentar tirar dividendos partidários desses mesmos problemas", garante o dirigente, num momento em que o partido recupera de severas críticas após o acordo PSD/Chega nos Açores. 

Quanto ao sistema político português, Rui Rio recupera ainda uma das bandeiras que tem marcado a seu mandato enquanto presidente do partido, reiterando que é "urgente fazer reformas no sistema" devido ao "desgaste que o tempo lhe provocou". "A liberdade com responsabilidade e os valores éticos como base inviolável do nosso comportamento individual e coletivo têm de voltar a ganhar a força e a implantação que, em tempos, já tiveram", acrescenta. 

Por fim, Rui Rio apela aos "líderes políticos e partidários", à "sociedade em geral" e "aos jovens, em particular", que façam parte dessa mudança que pensa para o país, lembrando que "honrar Sá Carneiro é justamente procurar responder aos desafios estruturais do regime e da nossa sociedade", objetivo que sempre "norteou" o fundador do PSD. 

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