Sampaio. Partidos à direita ressalvam diferenças mas elogiam o exemplo
Os partidos à direita no parlamento ressalvaram hoje as suas diferenças políticas relativamente a Jorge Sampaio, mas expressaram respeito pelo antigo Presidente da República e quase todos fizeram elogios ao percurso e modo de estar na política.
© Getty Imagens
Política Óbito/Sampaio
Numa sessão evocativa na Assembleia da República, em nome do PSD, Fernando Negrão defendeu que Jorge Sampaio "nunca se esqueceu da sua qualidade de cidadão comum" e que esse "é um património que deve servir de exemplo a todos quantos na vida assumem funções de alta responsabilidade".
"Que este exemplo de sentido cívico dure e perdure em todos e, sobretudo, nas gerações mais novas", afirmou o deputado do PSD e vice-presidente da Assembleia da República, considerando que Sampaio deixou "um manual de boas práticas" para o exercício da política, "que se traduz no cumprimento da palavra, na frontalidade e na verdade, no compromisso, na seriedade, na retidão e elegância do trato".
Fernando Negrão observou: "E tanto que nos falta esse exemplo de verdade, de compromisso e de seriedade. Saibamos honrá-lo".
Na sua intervenção, o social-democrata referiu que o seu partido e Jorge Sampaio tiveram "profundas divergências", que não mencionou, preferindo realçar a "recíproca consideração política".
Fernando Negrão agradeceu-lhe pela "persistente ação política de oposição e combate à ditadura" e enalteceu o papel do antigo Presidente da República na "libertação de Timor" e a sua "luta de apoio aos refugiados, quase até ao último dia da sua enorme vida".
O líder parlamentar do CDS-PP, que discursou antes, também lembrou Jorge Sampaio enquanto "jovem e corajoso opositor que durante o Estado Novo foi advogado e defensor de muitos presos políticos" e "líder estudantil", e elogiou o seu "empenho na causa de Timor" e, mais recentemente, "a forma como se empenhou na causa dos refugiados".
Telmo Correia frisou, no entanto, que o seu partido sempre encarou Sampaio, "em democracia, como um adversário político", de quem divergiu "quando criou a precursora aliança com o PCP que o levou à conquista da Câmara de Lisboa" e quando dissolveu o parlamento em 2004, "interrompendo o percurso de um Governo legítimo" PSD/CDS-PP chefiado por Pedro Santana Lopes.
Apesar das divergências, o líder parlamentar do CDS-PP expressou respeito, apreço e admiração pelo antigo Presidente da República, declarando que "foi sempre coerente, enquanto homem de esquerda, socialista, de cartão e convicção" e que foi mesmo, no seu entender, "a figura mais importante da esquerda democrática depois de Mário Soares".
"Apreço sincero pela sua forma de estar sempre cordial, correta e afável. Jorge Sampaio era capaz de dar uma palavra de estímulo a um adversário político num momento mais difícil", disse. "Admiração pela sua elevação no discurso político, pela forma séria e digna como representou Portugal, sendo ao mesmo tempo institucional e emocional", completou.
O presidente e deputado único da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, ressalvou igualmente que discordou "quase sempre das posições que Jorge Sampaio assumiu na sua vida política após o 25 de Abril" e que o seu partido se demarca da sua "visão socialista da sociedade".
Em seguida, porém, Cotrim de Figueiredo sustentou que Jorge Sampaio "exibiu traços dignos de serem exemplo para todos" e "foi um exemplo precoce em Portugal de como as figuras políticas não têm de se conformar a um padrão ou a uma persona", ao não esconder "o seu lado mais simples e mais humano".
"Foi, desde logo, durante a ditadura, um lutador pela liberdade, esse valor supremo para qualquer liberal. Poucos deixarão de admirar a defesa intransigente que fez dos estudantes e oposicionistas do Estado Novo numa altura em que tal exigia não só força de caráter, mas coragem", referiu.
Segundo o deputado da Iniciativa Liberal, "a luta pela liberdade, a coragem, a simplicidade e a visão global que tinha do mundo" são qualidades de Sampaio que "devem inspirar e que continuam a fazer falta no Portugal de hoje, em particular, entre os que exercem cargos de especial responsabilidade".
Pelo Chega, o deputado Diogo Pacheco de Amorim prestou homenagem a Jorge Sampaio por este ter sido chefe de Estado: "Como tal e assim sendo, curvo-me perante a sua memória", disse, dirigindo "uma palavra de solidariedade" à sua família e ao PS.
Pacheco de Amorim, deputado em substituição de André Ventura, que suspendeu o mandato, assinalou que as ideias políticas de Sampaio "estavam nos antípodas" das do Chega e manifestou discordância em relação às "decisões mais relevantes que tomou como primeira figura do Estado".
"Mas não é um juízo sobre a vida política do doutor Jorge Sampaio que para nós se encontra hoje e aqui em causa. O que está hoje aqui em causa é a vida de alguém que, independentemente da opinião que possamos ter sobre o seu percurso, teve, de facto, um percurso -- e não são muitos aqueles que verdadeiramente o tiveram e que de tal se podem orgulhar. As ideias políticas que balizaram esse percurso não eram as nossas, mas eram as suas, e isso nos basta. Que descanse em paz", concluiu.
Jorge Sampaio, também antigo deputado e líder parlamentar do PS, morreu na sexta-feira, aos 81 anos. O Governo decretou três dias de luto nacional pela sua morte, até segunda-feira, e cerimónias fúnebres de Estado, que se realizaram entre sábado e domingo.
Nascido em Lisboa em 18 de setembro de 1939, Jorge Fernando Branco de Sampaio foi secretário-geral do PS (1989-1992), presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1995) e Presidente da República (1996 e 2006).
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