Crise? Sem "arrefecimento", quem ganhará "não serão forças democráticas"
Adalberto Campos Fernandes apelou ao "sentido de responsabilidade de todos, uma certa contenção, uma certa distensão do ambiente, e até um ranger de dentes", apontando que "por sentirmos que estamos a ser alvos de injustiça ou de informações infundadas, não estamos num ambiente de conversa de café".
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Política Adalberto Campos Fernandes
O ex-governante socialista Adalberto Campos Fernandes considerou, na segunda-feira, que caso não haja “um arrefecimento da tensão que existe” entre os diferentes órgãos de soberania, nomeadamente o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, “quem vai tirar partido não vão ser, seguramente, as forças democráticas”.
“Estamos a viver um momento inusitado do ponto de vista de uma tensão entre órgãos de soberania, entre instituições, Conselho de Estado, procuradores-gerais adjuntos. Dá a sensação de que vivemos um momento em que estão todos contra todos, e isto não augura nada de bom, porque estamos a viver uma das crises políticas mais graves dos últimos anos”, começou por dizer o antigo ministro da Saúde, no seu espaço de comentário na CNN Portugal.
E concretizou: “Tínhamos uma maioria absoluta que suportava o Governo, estávamos numa fase crítica de implementação do PRR e de sustentabilidade das contas públicas e de afrontamento da situação interna no contexto de crise internacional, e creio que a maioria dos portugueses estão a olhar para isto com uma enorme preocupação porque, ao entrarmos num ciclo pré-eleitoral, se este clima não abranda, se não há um arrefecimento da tensão que existe entre as diferentes partes, quem vai tirar partido disto não vão ser, seguramente, as forças democráticas.”
O responsável apelou, por isso, ao “sentido de responsabilidade de todos, uma certa contenção, uma certa distensão do ambiente, e até um ranger de dentes”, apontando que “porque por muitas razões que nos assistam, em determinados momentos, por sentirmos que estamos a ser alvos de injustiça ou de informações infundadas, não estamos num ambiente de conversa de café”.
“Estamos a falar entre representantes de órgãos de soberania ao mais alto nível, seja na justiça, seja na política, seja no Estado, e creio que quem esfrega as mãos nestes momentos não são os portugueses que querem que esta crise se ultrapasse rapidamente”, reiterou.
Recordando que “não detemos a informação completa sobre o que se passou”, Adalberto Campos Fernandes apontou que estamos perante “um jogo de respostas e de afirmações indiretas daquilo que terá acontecido e que foi dito num contexto de reserva, mas que não deveria de ter sido difundido e que envolve o Presidente da República, o primeiro-ministro, conselheiros de Estado, e também as críticas surgidas no contexto da Procuradoria-Geral da República”.
O antigo ministro mostrou, por isso, “preocupação pelas consequências que poderemos vir a ter daqui para a frente”, uma vez que “temos de encontrar uma solução estável, politicamente duradoura, a partir do dia 10 de março”.
“A continuarmos por este caminho, creio que estamos a criar todas as condições para que, ao contrário de uma solução estável encontremos uma solução profundamente instável e que a democracia saia a perder”, rematou.
De notar que António Costa escusou-se novamente a revelar se e quando pediu ao Presidente da República para chamar ao Palácio de Belém a procuradora-geral da República e lembrou que há "dever de confidencialidade" no Conselho de Estado.
Em declarações aos jornalistas numa cerimónia de homenagem ao 50.º aniversário da fundação do PS, na localidade alemã de Bad Münstereifel, o secretário-geral do partido, questionado sobre a revelação, por parte do conselheiro de Estado António Lobo Xavier, de que foi em sede de Conselho de Estado que o primeiro-ministro adiantou ter sido ele próprio a pedir a Marcelo Rebelo de Sousa que chamasse ao Palácio de Belém a procuradora-geral sobre a investigação ‘Operação Influencer’, salientou que não teve "nenhuma conversa pública" com Lobo Xavier.
No passado sábado, António Costa já afirmara não se recordar de ter falado publicamente sobre quem chamou ao Palácio de Belém a procuradora-geral da República e salientou que nunca transmite por heterónimos conversas com o Presidente da República, isto depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter revelado, em Bissau, na sexta-feira, que foi o primeiro-ministro quem lhe pediu para chamar Lucília Gago ao Palácio de Belém para esta lhe dar explicações sobre o processo em que o ainda líder do executivo está envolvido.
Marcelo Rebelo de Sousa fez questão depois de assinalar que esse pedido já tinha sido mencionado publicamente pelo primeiro-ministro, mas António Costa insiste que nunca falou sobre esta questão em público.
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