Luís Montenegro, o resistente que vai levar o PSD de volta ao Governo
Luís Montenegro, antigo líder parlamentar do PSD nos tempos da "troika", será o próximo primeiro-ministro, depois de vencer legislativas disputadas dois anos antes do previsto a que, internamente, muitos admitiam que não chegasse.
© Zed Jameson/Bloomberg via Getty Images
Política Legislativas
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, indigitou hoje Luís Montenegro como primeiro-ministro.
O 19.º presidente do PSD vai assumir a liderança do Governo - nove anos depois de o partido ter deixado o poder, em 2015 - sem ter tido experiência executiva, embora já tenha dito publicamente que recusou por três vezes ocupar cargos no Governo (com Santana Lopes e duas com Passos Coelho) por razões familiares.
Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 51 anos, nasceu no Porto, mas viveu sempre em Espinho (Aveiro) e é advogado de profissão.
Montenegro estreou-se no parlamento aos 29 anos, em 2002, na lista de Aveiro encabeçada por Marques Mendes e quando Durão Barroso era presidente do PSD e primeiro-ministro, depois de ter iniciado uma carreira política que começou na JSD e passou pela Câmara Municipal de Espinho, onde foi vereador.
Nas autárquicas de 2005, candidatou-se a presidente do município, mas foi derrotado por José Mota, do PS.
Depois de ter sido 'vice' da bancada social-democrata na direção de Miguel Macedo, foi eleito líder parlamentar após a vitória de Pedro Passos Coelho nas legislativas, em junho de 2011.
Manteve-se neste cargo até 2017, tornando-se o líder parlamentar com maior longevidade no PSD, e foi no período da 'troika' - em janeiro de 2014 - que disse que "a vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor", frase que lhe viria a merecer muitas críticas.
Nas disputas internas no PSD, Luís Montenegro foi tendo opções diferentes: nas diretas de 2007, entre Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, foi mandatário distrital do ex-autarca de Gaia; um ano depois, assumiu o lugar de porta-voz da candidatura à liderança de Pedro Santana Lopes, contra Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho; já em 2010 apoiou Passos Coelho, contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco; em 2018, apoiou Santana Lopes contra Rui Rio já na reta final da campanha interna, e em 2021, no próprio dia das diretas, escusou-se a revelar publicamente em quem votaria, na disputa entre Rui Rio e Paulo Rangel.
No final de 2017, chegou a ponderar uma candidatura à liderança do partido, quando Pedro Passos Coelho anunciou que não se recandidataria, mas acabou por concluir que não estavam reunidas as condições para avançar "por razões pessoais e políticas".
Luís Montenegro deixou o parlamento em abril de 2018, 16 anos depois de tomar posse como deputado e, em janeiro de 2019, desafiou o então presidente do PSD, Rui Rio, a convocar eleições antecipadas no partido, um repto de que viria a sair derrotado e que já considerou "um grande erro".
Depois desse episódio, faz uma pausa na política, termina as colaborações regulares com órgãos de comunicação social e frequenta um programa de gestão avançada para executivos e líderes do Instituto Europeu para Administração de Empresas em França.
Em janeiro de 2020, disputa e perde as eleições diretas para a liderança do PSD, mas obriga Rui Rio a uma inédita segunda volta no partido (Miguel Pinto Luz foi o terceiro candidato que ficou pela primeira volta, com cerca de 9,5% dos votos) e conseguiu 47% do partido.
Na noite da derrota, em 18 de janeiro de 2020, o antigo deputado avisou logo que não valia a pena anunciarem a sua morte política, considerando que essa notícia seria "manifestamente exagerada", mas manteve-se discreto na sua intervenção política nos dois anos seguintes e não entrou nas eleições internas no final de 2021, disputadas pelo eurodeputado Paulo Rangel e ganhas pelo antigo presidente da Câmara do Porto.
Na sequência da derrota do partido nas legislativas de 2022, que o PS venceu com maioria absoluta, Rio não se recandidatou e Montenegro voltou a disputar o lugar de presidente do PSD contra o antigo vice-presidente do partido Jorge Moreira da Silva, que vence com facilidade com mais de 70% dos votos.
A inesperada demissão do primeiro-ministro, António Costa, em novembro passado na sequência de um processo judicial em que o seu nome foi envolvido, levou-o a disputar legislativas dois anos mais cedo do que o previsto, e numa altura em que alguns já admitiam a sua substituição após as europeias de junho por Pedro Passos Coelho.
Para as eleições de 10 de março, Montenegro decidiu reeditar a Aliança Democrática de 1979 e assinou um acordo de coligação pré-eleitoral com o CDS-PP, partido que tinha saído do parlamento nas últimas eleições, e com o PPM.
Se na campanha conseguiu ter ao seu lado todos os ex-líderes, nos quase dois anos da sua liderança foi o antigo Presidente da República Aníbal Cavaco que mais vezes lhe manifestou apoio, e a quem Montenegro apontou como "a sua referência política maior".
Tal como Cavaco, que começou por liderar um governo minoritário, Montenegro acredita que a vitória tangencial da AD de 10 de março poderá significar apenas o começo de um regresso do PSD a anos de governação para "mudar Portugal".
Em dezembro do ano passado, o Ministério Público do Porto abriu um inquérito a alegados benefícios fiscais atribuídos à habitação que construiu em Espinho, um processo ainda sem desenvolvimentos, mas pelo qual o líder do PSD disse não se sentir "minimamente condicionado", garantindo que "tudo está dentro da regularidade".
Casado e com dois filhos, o desporto é uma paixão que começou na juventude, tendo jogado futebol e voleibol de praia. Durante o verão, nas férias escolares, foi nadador-salvador durante vários anos e, atualmente, pratica golfe.
Na sua infância, tinha a alcunha de 'Ervilha'- por ser "redondinho", ter olhos verdes e pela cor de um fato de treino que usava sempre apesar de, no futebol, preferir o azul e branco do Futebol Clube do Porto.
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