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"Envergonha-me saber que há um português com fome"

Ramalho Eanes, antigo Presidente da República, esteve esta noite em entrevista na TVI.

"Envergonha-me saber que há um português com fome"
Notícias ao Minuto

22:34 - 08/01/16 por Anabela de Sousa Dantas

Política Ramalho Eanes

No 'Jornal das 8' da TVI, o antigo chefe de Estado falou esta noite sobre a sua experiência em Belém, indicando que foram “dez anos especiais que corresponderam à fase de consolidação democrática” e “um período que não se compara a nenhum outro período”.

Falando da sua função como Presidente da República. Eanes afirmou que teve “sempre o cuidado de ouvir, de ouvir sistematicamente, de refletir e só depois deliberar”. Motivo pelo qual talvez tenha recusado terminantemente comparações com outros chefes de Estado, indicando que “as comparações seriam sempre um pouco abusivas”, pois “é fácil emitir opiniões quando não se tem a informação toda”.

Desafiado a responder quanto à sua inclinação política, se mais à Esquerda, Direita ou ao Centro, o General explicou que a “vida é uma longa aprendizagem”, não se focando numa rotulação política das suas crenças. “Quando olho o meu percurso entendo que fiz muitas coisas bem, muitas coisas boas e muitas coisas menos boas e muitas coisas más”, sublinhou.

Judite de Sousa instou depois, o antigo presidente a nomear as conquistas mais importantes do seu passado político. Ao que Ramalho Eanes respondeu com a “conquista das liberdades”, “a afirmação de que a democracia é a pátria das liberdades” e com o estabelecimento de “só um poder democrático: o poder político”.

O Estado Social surge com a segunda grande conquista. “Foi bem estabelecido tendo em conta a situação em que se vivia”, explicou Ramalho Eanes, quando questionado sobre situação atual do mesmo.

“Se está tudo bem? Não. Nós realizámo-lo [ao Estado Social] com um modelo orçamental sistematicamente perverso, deficitário. Desde o 25 de Abril até agora, as despesas foram sempre superiores às receitas e nos devíamos ter cuidado porque quando se gasta mais do que aquilo que se ganha o único recurso é o empréstimo e isso tem consequências”, adiantou.

Por isso, concluiu, “envergonha-me, e deve envergonhar todos os portugueses, saber que há um português com fome”, vincou, num comentário claramente dirigido à precaridade vivida por muitas famílias portuguesas em resultado da crise que se tem feito sentir nos últimos anos.

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