Em conferência de imprensa junto à entrada da Torre dos Clérigos, a candidata da CDU apontou que os moradores do Porto "estão a ser progressivamente empurrados para as periferias e concelhos limítrofes seja pela falta de casas, seja pelos preços proibitivos, seja por causa do barulho e falta de regras".

Ilda Figueiredo disse saber que hoje, na cidade, já há mais dormidas em alojamento local do que nos hotéis e hostels, acrescentando que nem todos os alojamentos estão registados, o que gera, conforme disse, "consequências na vida das pessoas", bem como "concorrência desleal".

"Temos assistido a pressões imensas para os residentes e comerciantes deixarem os prédios que estão a ser vendidos a fundos imobiliários e sujeitos a especulação imobiliária. A Câmara tem de intervir e estabelecer um regulamento claro que defenda os moradores. Não se pode transformar esta zona histórica numa autêntica 'disneylandia'", disse.

Ilda Figueiredo também desafiou o Governo a intervir no que diz respeito às ilhas espalhadas pela cidade, criticando o facto de "já existirem pressões para se transformarem em projetos imobiliários".

As "ilhas" no Porto são bairros operários típicos do século XIX, constituídos por edifícios unifamiliares, normalmente com um piso e separados ou ladeados por um corredor de acesso à via pública.

"As ilhas devem ser preferencialmente para habitação social, para pessoas que precisam de habitação a preços baixos. Além da Câmara, também o Estado devia intervir. E a Câmara tem de se preocupar mais com todos: com quem vive e quem visita. É necessário dar maior atenção aos equipamentos coletivos e à salubridade e limpeza públicas", acrescentou.

A candidata da CDU quer sanitários e balneários públicos "com dignidade" e o "estabelecimento de roteiros pela cidade para que a pressão não esteja toda no centro", defendendo, nomeadamente, o alargamento da classificação dos estabelecimentos históricos a outros locais do Porto.

Nesta sessão a CDU frisou que a "identidade do Porto está na população e nos usos e costumes", com o deputado da Assembleia da República (AR), Jorge Machado, a procurar "deixar claro" que "ninguém está contra o alojamento local, nem contra o crescimento do turismo" mas "o que é demais é exagero", concluiu.

Jorge Machado contou que o PCP entregou na AR um projeto-lei sobre a exploração dos estabelecimentos de alojamento local, o qual se baseia na realidade de Lisboa e do Porto, mas tem âmbito nacional.

O PCP propõe limites nos prédios de habitação e que os condomínios tenham uma palavra a dizer em relação ao número de apartamentos alocados ao alojamento local e a criação de um teto, um limite máximo, de espaços.

"Houve recentemente manifestações em Veneza [Itália] com a população a exigir poder viver na sua própria cidade. Há estudos que mostram que Lisboa foi das cidades europeias que se descaracterizou mais rapidamente nos últimos anos. E o Porto vai pelo mesmo caminho. Defendemos a criação de um 'plafond' do número de alojamentos locais. Um número variável de Câmara para Câmara de acordo com o estudo que cada uma faça. É necessário definir regras que possam salvaguardar as cidades", sintetizou o deputado.

Além de Ilda Figueiredo (CDU), concorrem à Câmara do Porto o independente Rui Moreira, apoiado pelo CDS-PP e MPT, Manuel Pizarro do PS, o independente Álvaro Almeida, pela coligação PSD/PPM, João Teixeira Lopes do Bloco de Esquerda e Orlando Cruz (PPV/CDC).

As eleições autárquicas estão marcadas para 01 de outubro.