Deputado receia que descentralização seja "tiro de pólvora seca"
O presidente da comissão parlamentar que está a analisar a descentralização de competências para as autarquias admitiu hoje que "o processo está atrasadíssimo", receando que entendimento entre Governo e PSD venha a ser "um tiro de pólvora seca".
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Política Pedro Soares
"O processo está atrasadíssimo, estamos praticamente no fim de abril. A não ser que haja pedidos de apreciação parlamentar, os diplomas setoriais podem ir saindo, agora há um que é essencial, e o PSD dizia que sem esse não trataria dos outros, que é a Lei das Finanças Locais, que tem de ir à Assembleia da República", afirmou à agência Lusa Pedro Soares (BE).
Para o presidente da comissão parlamentar de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, a revisão da Lei das Finanças Locais "é um diploma que implica um processo de especialidade complexo, que deve ser aprofundado e o tempo é muito escasso".
O Governo e o PSD assinaram na quarta-feira uma "declaração conjunta sobre descentralização" que prevê que a lei-quadro para a transferência de competências para as autarquias e entidades intermunicipais, em apreciação no parlamento, "tem de estar concluída até ao final da presente sessão legislativa", ou seja, até julho deste ano.
A lei-quadro da descentralização deve ser complementada pelos decretos-lei setoriais, pela revisão da Lei das Finanças Locais (LFL) e pelos "envelopes" financeiros associados a cada autarquia, "com identificação das verbas por área de competência", lê-se no documento.
Segundo Pedro Soares, apesar de ainda desconhecer em pormenor o acordo, o Governo e o PSD parecem não estar "muito preocupados" com a LFL, "porque as transferências até 2021 vão ser feitas orçamento a orçamento, casuisticamente".
"Acho que não vai necessitar de alterações, à priori, da Lei das Finanças Locais, o que precisa é do cálculo de quanto custam as transferências de competências que serão feitas e meter isso no orçamento. Portanto, acho que isto é um bocadinho um tiro de pólvora seca, porque não há diplomas setoriais", frisou.
O presidente da comissão parlamentar sabe que há negociações sobre a LFL com a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), mas "não chegou nada ao parlamento".
"É tudo muito vago, tudo muito pouco estimulante, o que preocupa é se o Governo, o PS e o PSD vão ter disponibilidade, ou não, para que o processo legislativo seja feito de forma ponderada, fazendo as audições e as consultas necessárias, decorrendo de acordo com aquilo que é tradição na nossa comissão", vincou Pedro Soares.
O deputado do Bloco de Esquerda salientou que o trabalho na especialidade em torno da LFL "é um dos momentos essenciais de todo o processo", que implica a consulta a diversas entidades e espera para ver se o Governo e o PSD tencionam "acelerar ou fazer de acordo" com os procedimentos do parlamento.
A declaração conjunta assinada pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e pelo líder dos Autarcas Sociais-Democratas, Álvaro Amaro, prevê que a lei-quadro da descentralização deve ser complementada pelos decretos-lei setoriais, pela revisão da LFL e pelos "envelopes" financeiros associados a cada autarquia, "com identificação das verbas por área de competências".
A declaração conjunta estabelece que, na lei-quadro, "seja consagrado o princípio do gradualismo para que todas as autarquias locais assumam as novas competências até 2021".
Nos Orçamentos do Estado de 2019 a 2021 será inscrito o montante do Fundo de Financiamento da Descentralização, previsto na LFL, com os valores a transferir para as autarquias que financiem as novas competências.
A transferência de competências deve ser acompanhada por uma comissão com representantes da ANMP, Associação Nacional de Freguesias (Anafre), do Governo e parlamento, que "avaliará a adequabilidade dos recursos financeiros de cada área de competências".
Na declaração assinada na presença do primeiro-ministro, António Costa, e do presidente do PSD, Rui Rio, também consta a constituição de uma Comissão Independente para a Descentralização para estabelecer as linhas da reforma do Estado ao nível regional, metropolitano e intermunicipal, até julho de 2019.
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