O mundo está ligado à máquina e esta imagem é mais relevante que nunca
Numa altura em que as notícias falsas representam um desafio a ser ultrapassado pelo Facebook e outras tecnológicas, é difícil não ver a imagem de Zuckerberg a entrar na conferência da Samsung com outros olhos.
© Twitter / Nicolas Debock
Tech Influência
Entre todos os equipamentos e dispositivos móveis desvendados no Mobile World Congress de Barcelona no início do ano, a imagem do CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, a entrar na conferência da Samsung foi um dos assuntos mais falados da altura. O facto de todos os presentes estarem ligados em realidade virtual (literalmente ligados à máquina), fez surgir logo na altura comparações com filmes como ‘Matrix’.
Agora, no final de 2016 e à luz da polémica relacionada com as notícias falsas que povoam as plataformas online, é difícil olhar para ela não como um sinal de um qualquer futuro distante sombrio, mas como uma demonstração de que já lá chegámos.
Como referiu o The Verge na altura, o que impressiona mais não é o facto de toda a audiência da conferência não ter reparado que o CEO do Facebook acabou de passar por eles. O que causou arrepios por toda a internet é o facto de ter sido sido o próprio Zuckerberg a partilhar a imagem, com ele próprio notoriamente satisfeito com a situação.
O mundo está focado nas redes sociais, sem contestar aquilo que lê e muito menos em quem lho dá a ler
A verdade é que a rede social de Zuckerberg se tornou uma espécie de centro informativo, isto apesar de o líder do Facebook se ter afastado por várias vezes da ideia da sua empresa pertencer à área dos media. A confiança cega de muitos internautas no que veem nas redes sociais levou a que fossem partilhadas milhares de vezes notícias falsas no Facebook, publicações que muitos acreditam terem tido uma influência real no resultado, por exemplo, das eleições presidenciais dos EUA a favor de Donald Trump.
Para muitos a solução poderá estar na aposta de curadores humanos que se certifiquem de que as notícias e publicações mais ‘quentes’ são fidedignas. Porém, o Facebook não tem a mesma ideia e em 2016 despediu a sua equipa de curadores da secção Trending News entre críticas de parcialidade política. A solução passou pela integração de algoritmos, algoritmos estes que, por muito eficazes que sejam, foram desenvolvidos por uma empresa cujas receitas passam quase exclusivamente pelo setor da publicidade.
Uma ex-colaboradora do Facebook (precisamente da antiga equipa do Trending News) chegou mesmo a afirmar que a aposta em curadores humanos seria a única forma de impedir a disseminação de notícias falsas.
Até em sentido figurado, os presentes na plateia da conferência da Samsung representam bem esta ideia. O mundo está focado nas redes sociais, sem contestar aquilo que lê e muito menos em quem lho dá a ler. Pior do que tudo, muitos deles sabem que o que estão a partilhar não é fidedigno, o que torna o Facebook para muitos grupos uma ferramenta de desinformação.
O Facebook não é o único a ser ‘culpado’ desta negligência. A Google já admitiu que tem sido displicente no seu papel e tem permitido a livre circulação de notícias falsas no seu motor de busca utilizado por milhões de pessoas em todo o mundo. Uma vez provado que plataformas como o Google ou o Facebook têm uma influência tangível na opinião pública sobre determinados assuntos, as duas tecnológicas já garantiram que estão a desenvolver soluções e ferramentas que combatam este problema.
Mesmo que já tenhamos chegado ao tão temido futuro distópico, é bom saber que ainda podemos voltar atrás ou pelo menos que é reconhecido que não se pode continuar a caminhar nesta direção. Que 2016 sirva de exemplo não só para as grandes tecnológicas como também para os internautas, que deverão analisar com cuidado a informação que é partilhada online.
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