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Podemos confiar nas alegações verdes dos detergentes?

Nem todos os detergentes são amigos do ambiente, mas muitos alegam compromissos ambientais que podem induzir os consumidores em erro, afirma a DECO PROTESTE.

Podemos confiar nas alegações verdes dos detergentes?

Empenhados em combater a prática através da qual as empresas afirmam estar a fazer mais pelo ambiente do que na realidade estão, a DECO PROTESTE tem analisado, em conjunto com outras organizações de defesa do consumidor europeias, as alegações verdes e a performance ambiental de 228 detergentes.

Este estudo realizou-se no âmbito do projeto europeu CLEAN, iniciativa financiada pelo Programa Europeu para os Consumidores, da Comissão Europeia, que pretende aumentar a consciência dos consumidores para o impacto ambiental dos detergentes de uso doméstico, assim como contribuir para a disciplina relativamente a alegações pouco fundamentadas e práticas comerciais desleais, note-se.

Na mira desta análise, além de detergentes para a máquina da loiça e para a lavagem manual da loiça, foram analisados detergentes multiusos e detergentes para casas de banho de marcas tradicionais e de marcas que se assumem como ecológicas, revela a DECO. 

Saliente-se que como ponto de partida para o estudo, 4210 consumidores em Portugal, Bélgica, Itália e Espanha foram ouvidos. Os resultados revelam que a maioria dos consumidores presta atenção às alegações ambientais quando compra detergentes. Ainda assim, apenas uma minoria considera estar bem informada sobre o tema, sustenta a defesa do consumidor.

Além das dúvidas acerca das alegações ambientais, mais de metade dos inquiridos acredita que estas alegações servem apenas como ferramenta de marketing, o que revela desconfiança na informação prestada pelas marcas.

Verificou-se que nos 228 detergentes analisados, apenas uma pequena percentagem é isenta de substâncias nocivas quer para o ambiente quer para a saúde. Além disso, muitos destes detergentes continuam a ter na sua composição ingredientes que se podem evitar, uma vez que não comprometem a sua eficácia, como fragrâncias e corantes.

"Descobrimos também que os detergentes em cápsula hidrossolúvel para máquinas de lavar roupa e para máquinas de lavar loiça não libertam quantidades significativas de microplásticos nas águas residuais durante os ciclos de lavagem", afirma a DECO.

"Porém, os testes indicam que a roupa em tecido sintético é a principal responsável pela libertação de microplásticos nas águas residuais durante a lavagem, o que significa que é preciso um esforço colaborativo entre todos, incluindo a indústria têxtil, para encontrar uma solução que trave a poluição causada pelas microfibras da roupa", sustenta a organização, acrescentando que "ainda assim, não se pode excluir a influência que alguns detergentes em cápsula hidrossolúvel têm na libertação de microplásticos presentes nas fibras da roupa."

Revela ainda a DECO que após esta análise concluiu que o ecodesign, que pode ajudar a reduzir o impacto ambiental das embalagens, ainda não é uma prioridade para a maioria das marcas. Sendo que muitos dos produtos analisados ainda têm embalagens que não incorporam materiais reciclados e, por isso, dificultam a reciclagem.

Por referência a atributos ambientais nos rótulos dos detergentes, a maioria dos produtos tradicionais fazem, sobretudo, alegações ambientais com referência aos ingredientes e à própria embalagem. No caso dos detergentes que se assumem como ecológicos, as alegações estão, quase sempre, relacionadas com bem-estar animal e o impacto ambiental geral do produto.

Nesse sentido, para a DECO, os rótulos dos produtos devem conter apenas informação verificada e verdadeira, clara e descomplicada e deve ainda excluir alegações baseadas em aspirações futuras ou compromissos ambientais genéricos.

Em suma, a DECO PROTESTE defende que a escolha de produtos sustentáveis deve ser a mais fácil possível para o consumidor. Uma vez que, já existem produtos no mercado que combinam uma boa performance e um menor impacto ambiental, a defesa do consumidor acredita que a decisão de produzir fórmulas e embalagens com menor impacto ambiental está nas mãos da indústria e que essa mudança não tem de resultar num produto mais caro ou menos eficiente para o consumidor. 

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