Casa da família de Siza Vieira é "universo" da Casa da Arquitetura
A casa centenária da família do arquiteto Álvaro Siza, localizada na Rua Roberto Ivens, em Matosinhos, distrito do Porto, passou hoje a pertencer ao "universo da Casa da Arquitetura" e vai abrir-se ao mundo como residência artística.
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Casa Casa da família de Siza Vieira
Os cinco quartos, várias salas, jardim e pavilhão exterior no quintal -- e que foi literalmente a "primeira obra" do arquiteto Álvaro Siza Vieira, feita aos 14 anos de idade, e com conceção do seu pai Júlio -, é a partir de hoje pertença do "universo da Casa da Arquitetura -- Centro Português de Arquitetura", anunciou esta manhã o presidente da instituição cultural, José Manuel Dias da Fonseca.
"Para nós é importante juntar ao património da Casa da Arquitetura, a casa histórica da família de Siza Vieira para servir a arte e a cultura. Não será uma casa só para recuperar, mas também para abrir ao mundo, e que o arquiteto Siza esteve 500% envolvido", declarou Dias da Fonseca, durante a cerimónia pública de apresentação do edifício no número 582 da rua Roberto Ivens, e que sofreu obras de recuperação.
O primeiro convidado a ir residir na, agora, recuperada casa da família de Siza Vieira, primeiro português a receber o Prémio Pritzker em 1992, vai ser o "arquiteto João Luís Carrilho da Graça, que vai ter uma nova exposição na Casa da Arquitetura, cuja inauguração acontece no dia 08 de abril próximo", avançou hoje aos jornalistas o diretor executivo da instituição, Nuno Sampaio.
"Agora, com a ajuda de Siza Vieira e da família vamos decorar a casa, com quadros, cinzeiros (...). A casa vai poder ser residência de investigadores, curadores, jornalistas, que vão poder coabitar mais tempo e trabalhar sobre os acervos da casa da Arquitetura", explicou Nuno Sampaio, recordando que está é a "terceira intervenção" que Álvaro Siza Vieira faz na casa de família. A primeira foi nos finais dos anos 40 do século XX, a segunda foi em 2009 e a terceira em 2022.
"É muito bom neste tempo, tão mau para a arquitetura, uma cidade [Matosinhos] ter um propósito de recuperar e conservar a casa", disse Álvaro Siza Vieira, presente na cerimónia de apresentação pública, assumindo que nestes últimos anos do seu tempo profissional o que mais tem feito é recuperar obras que fez no passado, mas que está "cansado".
O prémio Pritzker recordou que a casa da família é uma obra do seu pai -- Júlio -- e que foi o seu pai que lhe pediu para fazer um pavilhão no quintal da casa, quando tinha 14 anos de idade, com telha, e com um laboratório para o irmão, engenheiro químico.
"Foi a minha primeira obra literalmente, com a conceção do meu pai", declarou, assumindo que nunca chegou a viver na casa depois de transformada, porque "casou e foi viver para o Porto".
Siza acrescentou que voltou a participar com "entusiasmo" na recuperação da casa da família, considerando que era "bom" que uma cidade tivesse interesse pela arquitetura.
As obras de recuperação ficaram a cargo da Câmara Municipal de Matosinhos.
Para a presidente da autarquia, Luísa Salgueiro, a entrega da casa da família de Siza Vieira à Casa da Arquitetura é um "momento que tem uma enorme importância para Matosinhos", pois hoje o edifício "é devolvido à comunidade com a traça original".
O edifício da Roberto Ivens pertenceu à família do arquiteto Álvaro Siza que a remodelou, a pedido do pai de Álvaro Siza, em 1961.
A residência, que chegou a ser a sede da Casa da Arquitetura antes da sua transferência para as atuais instalações no Quarteirão da Real Vinícola, foi adquirida pela Câmara de Matosinhos, em 2007 e, dois anos depois, em 2009, foi alvo de um processo de reabilitação com a assinatura do arquiteto Álvaro Siza.
As "Residências da Casa são uma componente fundamental" do Centro de Estudos e Investigação da Casa da Arquitetura, cujo objetivo é funcionar como um "polo dinamizador do estudo e investigação em torno da arquitetura contemporânea" e dos "acervos que se encontram ao cuidado do Arquivo da Casa", explica a Casa da Arquitetura numa nota de imprensa.
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