Novo Banco constituiu provisões para compensar perdas com crédito
O grupo Novo Banco já acumulou, desde a sua criação, quase 3,7 mil milhões de euros em provisões para fazer face a perdas potenciais, a maior parte respeitantes a crédito em incumprimento ou em risco de o ser.
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Casa 3,7 mil milhões
Na segunda-feira à noite, o Novo Banco divulgou os resultados até setembro, indicando que nos primeiros nove meses do ano teve prejuízos de 419,2 milhões de euros, um agravamento de 8,9% face às perdas registadas no mesmo período do ano passado.
O grupo bancário criado em agosto de 2014 (aquando da resolução do BES - Banco Espírito Santo) indicou que o resultado antes de impostos foi negativo em 355,6 milhões de euros, melhor em 34,7% do que até setembro de 2016, mas que tomou a "decisão de não registar impostos diferidos adicionais", pelo que o resultado líquido (após impostos) foi de agravamento de prejuízos para 419,2 milhões de euros.
A Lusa questionou o Novo Banco sobre a decisão quanto aos impostos diferidos, mas até ao momento não obteve resposta.
Nos primeiros nove meses do ano, o Novo Banco constituiu imparidades (provisões para perdas potenciais) no valor de 563,2 milhões de euros, ainda assim menos 199,4 milhões do que no mesmo período do ano anterior (ou 26% em termos relativos).
A maior parte das provisões foram para fazer face a perdas com créditos concedidos, de 378,1 milhões de euros.
Desde que foi criado que o Novo Banco vem colocando de lado elevados montantes para provisões, para fazer face a ativos que lhe trazem perdas, o que tem penalizado significativamente o seu resultado.
No primeiro ano de funcionamento, entre 04 de agosto e 31 de dezembro de 2014, o Novo Banco constituiu imparidades de 699,1 milhões de euros.
Já em 2015 estas ascenderam a 1.057,9 milhões de euros e, em 2016, houve mais 1.374,7 milhões, dos quais 739,3 e 672,6 e milhões de euros para crédito, respetivamente.
Somando estes valores aos 563,2 milhões de euros até setembro, as provisões criadas pelo Novo Banco desde sua criação já ascendem a 3.695 milhões de euros.
Deste total, 2.137,7 milhões são provisões para crédito, o equivalente a quase 60%.
Os resultados do Novo Banco até setembro dizem respeito ao período em que pertencia na totalidade ao fundo de resolução, entidade gerida pelo Banco de Portugal.
O Novo Banco foi vendido, em meados de outubro, ao fundo norte-americano Lone Star. Este fundo de investimento passou a deter 75% da instituição, enquanto o fundo de resolução bancário (até então o único acionista) manteve 25% do capital social.
O banco passou assim para a esfera privada, executando nos próximos cinco anos um plano de reestruturação negociado com a Comissão Europeia, que passa por concentração das atividades na península ibérica, venda ou descontinuidade de operações no estrangeiro e venda de seguradoras (desde logo a GNB Vida). Estão ainda previstas medidas para aumento de receitas e para redução de custos.
Para ficar com a maioria do banco, o Lone Star não pagou qualquer valor, tendo acordado colocar 1.000 milhões de euros para o capitalizar, sendo que 750 milhões de euros já foram injetados.
Contudo, o legado do Novo Banco quanto a ativos 'tóxicos' não passou totalmente para o novo principal acionista.
É que, no âmbito da venda, o Fundo de Resolução ficou com a incumbência de injetar, durante oito anos, até 3,89 mil milhões de euros no Novo Banco por perdas que venham a ser reconhecidas com os chamados ativos 'tóxicos' (crédito malparado e imobiliário) e alienações de operações não estratégicas, caso ponham em causa os rácios de capital da instituição.
Ainda quanto às contas do Novo Banco até setembro, o produto bancário reduziu-se em 13,5% para 516,9 milhões de euros, com a margem financeira a cair 26,9% para 285,9 milhões de euros, enquanto as comissões aumentaram 12% para 231,1 milhões de euros.
Nos gastos, entre janeiro e setembro, o banco reduziu os custos operativos em 12,4% face ao mesmo período de 2016 para 394,2 milhões de euros, o que justificou com "as melhorias concretizadas ao nível da simplificação dos processos e da otimização das estruturas com a consequente redução de balcões e colaboradores".
Face a setembro de 2016, o Novo Banco reduziu o número de trabalhadores em 457 (tendo agora 5.675, a maior parte em Portugal) e as agências em 111 (tendo agora 475, a maior parte em Portugal).
Os depósitos subiram 5,3% (cerca de 1.300 milhões de euros) face a setembro de 2016 para 25.960 milhões de euros.
Já o 'stock' total de crédito caiu 6,25% para 32.010 milhões de euros.
Ainda assim, o banco destaca que, apenas no terceiro trimestre, o crédito a particulares subiu 64 milhões de euros (para 11.364 milhões), com destaque para o aumento de 58 milhões de euros dos empréstimos para comprar habitação.
O crédito a empresas, que representa mais de 60% da carteira de crédito do Novo Banco, desceu 283 milhões de euros (para 20.646 milhões).
Quanto a indicadores da qualidade do crédito, o crédito em risco do Novo Banco era em setembro de 25,2% do crédito total, acima dos 24,8% de setembro de 2016, enquanto o crédito vencido há mais de 90 dias estava estabilizado nos 16,9% do crédito a clientes bruto.
O banco refere que "as coberturas do crédito vencido (94,6%) e do crédito não produtivo (51,9%) foram reforçadas, apresentando-se superiores ao registo do final do exercício de 2016", e que as provisões para crédito totalizavam em setembro 5,2 mil milhões de euros, o que equivale a 16,3% do total da carteira de crédito.
Por fim, em termos de solvabilidade, o grupo Novo Banco fechou setembro com um rácio de capital CET1 de 10,9% (com regras do período de transição), abaixo dos 12% de final de 2016.
A instituição diz, contudo, que já em outubro reforçou "de forma significativa o seu capital", isto tendo em conta "nomeadamente a compra e reembolso antecipado de dívida e o aumento de capital no montante de 750 milhões de euros". Contudo, não revela o valo do rácio de capital atual.
Além de Portugal, o Novo Banco tem sucursais em Espanha, Reino Unido e Luxemburgo e está em processo de venda de 90% do capital social do Banco Internacional de Cabo Verde à 'holding' IIBG, aguardando as aprovações necessárias, desde logo do banco central de Cabo Verde.
O banco quer ainda vender a seguradora GNB Vida, tendo já repetido várias vezes que espera firmar um acordo para a sua venda até final deste ano.