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O rapto da filha, a morte do irmão... A vida difícil de Isabel Ruth

A atriz esteve este sábado à conversa com Daniel Oliveira no programa 'Alta Definição', da SIC.

O rapto da filha, a morte do irmão... A vida difícil de Isabel Ruth
Notícias ao Minuto

15:17 - 23/11/19 por Notícias Ao Minuto

Fama Atriz

Além dos vários momentos da sua carreira, Isabel Ruth recordou as fases que mais a marcaram ao longo da vida, como a morte do irmão.

Estava em África com os pais e a irmã quando recebeu a notícia que o irmão mais velho tinha morrido, aos 12 anos.

“O meu irmão ficou em Portugal porque teve uma doença da coluna, corou-se, foi operado e ficou a andar, correu tudo bem, tinha 12 anos. Mas depois apanhou uma meningite tuberculosa e morreu. Nós estávamos em África. O meu pai já sabia que ele estava doente, mas como não queria que a minha mãe voltasse, escondeu isso. Quando chegou o telegrama de que ele tinha morrido, lembro-me que estávamos em nossa casa e a minha mãe simplesmente desmaiou. Foi um choro e uma coisa horrível”, lembrou, referindo que nessa altura a mãe decidiu separar-se do pai.

“O meu pai sempre foi um bocado mulherengo e a minha mãe há muito que se queria separar, mas essa foi a razão mais forte para ela se ir embora dele”, acrescentou.

Ainda jovem, para Isabel foi “um desgosto profundo” receber a notícia da morte do irmão, tendo escrito mais tarde um poema inspirado nesse momento de dor. “Chorei a escrever isso, fartei-me de chorar”, confessou, recordando o último momento que esteve com ele.

“Quando as crianças aos 10/11 anos adoecem, desenvolvem uma inteligência qualquer e ele realmente surpreendia. Era um miúdo que toda a gente gostava. Claro que nós não temos a perceção que a morte vem tão cedo, mas há qualquer coisa que, de repente, transforma uma criança. E é engraçado porque quando nós nos despedimos para ir para África ele partiu o mealheiro que tinha e disse: Vou distribuir o dinheiro pelas duas [Isabel e a irmã] porque eu nunca mais vos vou ver. Nunca mais me esqueci dessa frase e, de facto, nunca mais nos vimos”, lembrou.

Casamento com João D'Ávila

Apesar de não ter sido para sempre, o casamento com João D'Ávila foi muito importante e marcante para Isabel, que guarda um carinho especial desse amor.

“Conhecer o João e casar com ele foi mesmo a paixão, mesmo separados há tantos anos, foi o meu único marido, apesar de ter sido apenas 8 anos de casamento”, admitiu, reforçando que o também ator foi “muito importante na sua vida”, um verdadeiro amigo.

“Conheci-o aos 14 anos”, contou. “Até na dança o João foi quem me levou para Londres para eu frequentar o Royal Ballet School. Ele é que me criou, sou uma criação do João D'Ávila e agradeço-lhe isso a ele. Mas depois e quis voar nas minhas asas e afastei-me desse criador. Isso também foi uma fase dolorosa para mim e para ele. Por muito que eu o amasse, tinha que ir à procura de mim”, desabafou.

“Por muito que nos amem, nós temos que perceber o que é que andamos aqui a fazer, de verdade. Quem é que somos. Fui muito feliz com o João. Tive imensos êxitos, deixei a dança, correu tudo muito bem, mas isso não me satisfez completamente e, inconscientemente, fui à procura de qualquer coisa que no fundo é uma procura que nunca mais acaba e, sem querer, meti-me por atalhos. De certa maneira fui o herói da minha vida e o herói tem sempre que se confortar com dificuldades e ultrapassa”, continua, acrescentando de seguida: “Agora que estou distanciada desses tempos, analiso-me um bocado, os riscos que corri, os abismos por onde andei e como sobrevive

Cometeu algumas loucuras e, diz, “andou à beira do abismo”. “Estou muito grata porque não caí. Estive perto, mas acho que havia em mim um desejo muito sincero de perceber o que é na verdade o amor, o que é que eu estou aqui a fazer”, partilhou.

“Não criei os meus filhos todos”

É mãe de três filhos, duas raparigas e um rapaz, hoje com 42, 50 e 56 anos, a atriz confessa que o filho foi criado pela sua mãe. “Fiquei muito descansada porque eu amava a minha mãe. Para mim não foi nenhum problema, ainda por cima a minha mãe que tinha perdido um filho com 12 anos e depois nasce um rapaz… Percebi que aquilo foi rever o filho dela”, explicou.

“Eu afastei-me, mas estava segura de que estava ali. Não é a presença física que se ama mais porque há pais que estão tão presentes na vida dos filhos e não os amam. Claro que é muito importante amar os filhos próximo, mas eu amava muito as pessoas que tomavam conta dos meus filhos”, acrescentou. “Os meus filhos são os meus filhos e um bom pai ou uma boa mãe sabe o que é um amor pelo um filho. E também sei [o que é um amor de um filho]”, continuou.

O Rapto da filha

A dada altura da sua vida, Isabel viveu um outro momento muito doloroso quando a filha mais velha foi raptada pelo pai da mesma. “Resisti a isso, mas posso dizer que foi o maior abalo da minha vida, o maior sofrimento. Nessa altura tinha estado a viver em Madrid e estava cá há mais ou menos 15 dias. Afastei-me porque me queria separar e trouxe a minha filha porque não a queria perder”, começou por contar, lembrando de seguida o dia difícil que viveu quando o ex-companheiro levou a menina.

Isabel recorda que o pai da filha apareceu em sua casa para visitar a criança. A atriz deixou os dois em casa e foi a mercearia. Quando voltou já não os viu.

Ela já não lá está, nem a mala, nem o passaporte… Fiquei quase sem me poder mexer. Meto-me num táxi e vou a correr para o aeroporto, e quando lá chego pergunto pelo avião para Madrid. Disseram-me que tinha acabado de sair. Voltei para casa em estado de choque. Fui mergulhar dentro de mim – tenho umas técnicas de meditação – e desapareci. A dor era tão forte que eu não conseguia mexer-me. Fiquei ali quietinha, fechei os olhos e quando abri era noite. Para mim passou um minuto, mas [na verdade] neste fechar de olhos e abrir passaram oito horas. Quando abri os olhos estava bem, lúcida, não estava contente, mas estava lúcida e conseguia mexer-me”, partilhou.

“Quando não podemos fazer nada sobre isso, não temos se não que aceitar e esperar. É doloroso. Passados sete anos tive outra filha. A dor acalmou, depois encontrei-me com a minha filha”, contou, detalhando o primeiro encontro que teve com a filha.

Uma coisa dramática, a filha a correr para a mãe e a mãe a correr para a filha. As duas a chorar. Conversamos muito, choramos… Não recuperei no todo porque também não fui egoísta ao ponto de separá-la de uma infância que ela teve que não foi comigo. Ela adaptou-se a outra família e quando cresceu fez a sua escolha, e a escolha foi com quem ela mais conviveu e com quem mais esteve. Ela está bem e eu também estou bem. Entretanto tive outra filha que me apagou essa dor insuportável. Podia ter-me vitimizado, mas isso não aconteceu. Provavelmente a morte de um filho é capaz de ser muito pior do que um rapto, mas também depende como é o rapto”, continuou.

Mas não ficou por aqui e explicou: “O rapto daquelas crianças que depois nunca mais sabem delas é uma coisa horrível. Ao menos eu sabia e, de certa maneira, percebia porque é que ela foi raptada. Conto isto com uma certa leveza porque não gosto de alimentar coisas dramáticas. As coisas são como são e a mim aconteceu-me isto. Hoje em dia tenho os alicerces muito fortes apesar desses dramas todos. Apesar de tudo, tenho três filhos, são os meus queridos e desejo-lhes que tenham muita força e que consigam, tal como eu, aceitar os obstáculos que, provavelmente, vão ter, e o sofrimento que ainda vão ter”.

“Os meus filhos amam-me, só a que vive em Espanha é que tem sempre uma pedrinha que lá no fundo não aceitou, não compreendeu bem, acho que o pai também a manipulou. Não a vejo há uns anos porque achamos as duas que era melhor assim. Desejo que eles mais do que me amarem a mim, se amem muito a eles próprios”, disse.

Morte da mãe também “foi doloroso”

Viu partiu a mãe, quando esta tinha 92 anos, e este foi outro momento difícil da vida de Isabel Ruth, que falou também do dia em que a progenitora foi para o hospital depois de sofrer um AVC.

“Eu estava em Lisboa, falei com o meu filho e ele disse-me que a avó tinha tido um AVC. Meti-me num táxi e fui até à Parede [Cascais]. Eu a chegar e a ambulância a partir. Morreu ao terceiro dia. Fez 92 anos e morreu no dia a seguir aos anos dela. Sussurrei-lhe ao ouvido tanta coisa e ela ouviu porque eu pedia para ela mexer os dedos se ouvisse o que eu estava a dizer e ela mexeu”, revelou, partilhando algumas das palavras que disse à mãe nos seus últimos momentos de vida.

“Disse para ela me perdoar algumas coisas que tivesse feito e que a amava muito, sobretudo foi isso”, destacou.

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