Adotar "é um ato de grande generosidade, mas não é um mar de rosas"
Coordenadora da Pediatria do Hospital da Cruz Vermelha realça a importância da "maturidade afetiva" dos adotantes para que todo o processo de acolhimento corra bem.
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País Crianças
O relatório do Conselho Nacional para a Adopção (CNA) de 2022, divulgado esta semana pelo jornal Expresso, revela que o número de adoções voltou a descer o ano passado e que o número de devoluções de crianças aumentou.
Os dados preocupantes foram analisados, esta quinta-feira, pela Coordenadora da Pediatria do Hospital da Cruz Vermelha, Isabel Saraiva de Melo, no programa 'Esta Manhã', da TVI.
De acordo com a médica pediatra, a "maturidade afetiva" dos adotantes e a "gestão de expetativas" por parte dos responsáveis pelo processo de adoção são dos aspetos mais importantes a ter em conta para evitar a devolução da criança.
"É muito importante avaliar, além das capacidades económicas da família, da situação da casa, se há espaço para a criança, a disponibilidade afetiva dos pais e a maturidade afetiva. É muito importante gerir as expetativas da família que vai adotar. Quando mais velha for a criança mais difícil será, sendo que isso também terá outras partes boas", realçou Isabel Saraiva de Melo, aproveitando para falar das várias fases pelas quais a nova família pode passar.
"Numa primeira fase poderá haver uma fase quase de lua de mel, em que estão todos muito encantados e que a criança está muito feliz por estar fora da instituição. A seguir vem uma fase mais reativa, em que vai testar os limites, ver se aquela família quer mesmo ficar com ela, se estão mesmo dispostos a aturá-la. É normal, é o que os nossos filhos fazem na adolescência, mas nos processos de adoção é tudo mais rápido", descreveu.
Para evitar que a situação se complique, a médica aconselha as famílias a "prepararem-se", "a pedir ajuda quando as coisas começa a ser difíceis". Além do acompanhamento técnico e do pediatra da criança, pode ser necessário procurar ajuda na área da "saúde mental, para lidar com a situação".
Os adotantes devem, por isso, segundo a pediatra, ter consciência, "antes de levarem uma criança para casa" que ter um filho é "um compromisso para a vida, vitalício" e que, ao contrário dos recém-nascidos, estas crianças já trazem "uma bagagem de vida muito pesada".
"Não tiveram uma vinculação bem conseguida quando eram pequeninos. Viveram numa instituição muitas vezes muito tempo, onde a atenção é dispersa por melhor que seja e a vinculação não é tão boa. E, portanto, é com esperança que vão para este novo projeto e quando são devolvidas têm as expetativas frutadas novamente e sentem uma maior dificuldade em se voltar a vincular", sublinhou, acrescentando que é preciso dar tempo ao tempo, "respeitar o espaço e o processo" de cada criança.
"É um compromisso de vida muito bonito e é um ato de grande generosidade adotar uma criança, mas não é um mar de rosas, vai ter as suas dificuldades e isso é normal. É normal haver mais problemas na adoção porque o tempo de adaptação é mais curto. Nós quando trazemos um recém-nascido para casa, temos todo o tempo", concluiu.
Recorde-se que, segundo o relatório do ano passado do Conselho Nacional para a Adopção, 14 crianças foram devolvidas em 2022. Dez delas já conseguiram um novo lar, mas quatro ainda permanecem em instituições.
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