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"Cada um, na sua medida, pode ajudar os outros"

Fernanda Figueiredo dos Santos reformou-se aos 38 anos. Agora, aos 69, foi distinguida com o Troféu Português do Voluntariado 2016.

"Cada um, na sua medida, pode ajudar os outros"
Notícias ao Minuto

07:18 - 14/01/17 por Patrícia Martins Carvalho

País Voluntariado

Fernanda Figueiredo dos Santos reformou-se aos 38 anos, quando lhe foi diagnosticada Esclerose Lateral Amiotrófica. Porém, e apesar das dificuldades físicas provocadas pela doença, esta irmã Doroteia não se deixou abater.

Professora de matemática, Fernanda decidiu continuar ativa e não entregar-se à doença e, por essa razão, voluntariou-se no Centro São Pedro Claver, um projeto dos Leigos para o Desenvolvimento em Portugal que tem como objetivo prestar apoio escolar a alunos africanos a estudar na área da Grande Lisboa que têm dificuldades na aprendizagem dos conteúdos cá lecionados.

Agora, ao fim de 16 a prestar voluntariado no centro, Fernanda, de 69 anos, foi distinguida com o Troféu Português do Voluntariado 2016 que foi entregue no Dia Internacional dos Voluntários, a 5 de dezembro.

“Senti que era uma recompensa do meu trabalho, mas muito humildemente tenho que dizer que como eu há muitas outras pessoas”, começou por dizer esta irmã Doroteia ao Notícias ao Minuto, garantindo que receber um prémio “não é essencial”, embora reconheça que “às vezes incentiva as pessoas”.

O seu dia a dia, contou, é basicamente destinado ao voluntariado.

“A minha vida é o voluntariado. Quando não tenho consultas e não estou na hidroterapia estou no voluntariado, seja no centro, na Santa Casa da Misericórdia do Lumiar ou nas coisas da comunidade religiosa”, explicou.

No Centro S. Pedro Claver dá explicações de matemática a alunos entre o 6.º e o 11.º anos e na Santa Casa do Lumiar dedica-se – uma tarde por semana – a dar uma “dimensão espiritual” aos idosos que lá estão.

A viver no Colégio de Santa Doroteia em Lisboa, esta irmã disse ao Notícias ao Minuto que o voluntariado sempre fez parte da sua vida, em especial o religioso.

Fiz voluntário com jovens, adolescentes, na preparação religiosa, na animação litúrgica, também dei catequese bíblica a adultos… enfim, é algo que faz parte da nossa vida enquanto religiosas

Depois de ter sido reformada por invalidez, Fernanda poderia ter resumido a sua existência às funções religiosas da sua comunidade, mas isso era pouco e não a fazia sentir-se útil à sociedade.

“Tenho pena de que muitas pessoas se reformem e se deixem ficar em casa, colocando de parte todas as possibilidades de ajudar os outros. Nem que fosse uma vez por semana era ótimo, pois cada um, na sua medida, pode ajudar os que mais precisam”, lamentou.

Ao longo de 16 anos de explicações no centro, Fernanda tem muitas histórias para contar. Quando lhe pedimos que nos contasse uma, logo recordou o caso de um aluno que tinha muitas dificuldades, mas que graças à sua ajuda conseguiu ter boas notas. Mas não é isso que a faz recordar-se dele.

“A mãe dele tinha morrido há pouco tempo e ele sabia que eu era religiosa, então começou a ir à missa ao nosso colégio, levando o irmão e a irmã. Depois acabou por fugir às matemáticas e tirou Direito e atualmente está a trabalhar em Angola, tendo uma carreira bem-sucedida”, acrescentou.

A irmã Doroteia lembra-se também de outra jovem que recebeu explicações no centro e que acabou por conseguir estudar no Instituto Superior Técnico.

“No terceiro ano veio ao centro oferecer-se para dar explicações. Queria ajudar porque também ela foi ajudada”, contou, frisando que “é importante colocarmos ao serviço dos outros aquilo que podemos dar”.

Falando num contexto mais religioso, a irmã Doroteia concorda com o facto de o Papa Francisco estar a aproximar os jovens da Igreja, mas sublinha que “nem todos são o Papa e a verdade é que gostamos muito de louvar a ação do Papa, mas depois no dia a dia não seguimos as ações cristãs do Papa”.

E as paróquias, considera, têm um papel fundamental na captação de jovens para a dimensão religiosa. “Tem de haver um discurso mais jovem nas paróquias e é preciso dar-lhes uma maior responsabilização, porque eles gostam que lhes peçamos coisas, coisas com responsabilidade”, finalizou.

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