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Tecnológica chinesa suscita preocupações sobre segurança nacional na UE

A tecnológica chinesa Nuctech, que cresceu à sombra do Partido Comunista Chinês e não pode operar nos EUA por questões de segurança, está hoje presente em 26 dos 27 Estados da UE, escreve hoje a agência noticiosa AP.

Tecnológica chinesa suscita preocupações sobre segurança nacional na UE
Notícias ao Minuto

07:06 - 21/01/22 por Lusa

Tech Segurança

Fundada como uma ramificação da Universidade Tsinghua, uma universidade pública de pesquisa de elite em Pequim, a Nuctech chegou a ser dirigida pelo filho do ex-líder da China, Hu Jintao (mandato presidencial: 15 de março de 2003 a 14 de março de 2013).

O Fórum Económico Mundial em Davos. Os maiores portos da Europa. Aeroportos, desde Amesterdão a Atenas. Fronteiras da OTAN com a Rússia. Todos dependem de equipamentos fabricados pela Nuctech, que rapidamente se tornou a empresa líder mundial, em faturamento, para 'scanners' de cargas e veículos.

A Nuctech está impossibilitada de operar nos Estados Unidos desde há vários anos devido a preocupações com a segurança nacional, mas encontrou na Europa campo aberto à sua atividade, instalando os seus dispositivos em 26 dos 27 Estados membros da UE, de acordo com registos de compras públicas, governos e empresas consultados pela Associated Press (AP).

A complexidade da estrutura de propriedade da Nuctech e sua presença global em expansão levantaram alarmes em ambos os lados do Atlântico.

Um crescente número de autoridades ligadas à segurança e analistas ocidentais temem que a China possa explorar os equipamentos Nuctech para sabotar os principais pontos de trânsito ou obter acesso ilícito a dados governamentais, industriais ou pessoais dos itens que passam pelos seus dispositivos.

Os críticos da Nuctech alegam que o governo chinês subsidiou a empresa para que ela possa minar os concorrentes e dar a Pequim uma influência potencial sobre infraestrutura crítica no Ocidente, enquanto a China procura estabelecer-se como uma superpotência tecnológica global.

"Os dados processados por esses dispositivos são muito sensíveis. São dados pessoais, dados militares, dados de carga. Em jogo podem estar segredos comerciais. Você quer ter a certeza de que está nas mãos certas", disse Bart Groothuis, diretor de segurança cibernética do Ministério da Defesa holandês antes de se tornar membro do Parlamento Europeu.

"Você depende de um ator estrangeiro que é um adversário geopolítico e rival estratégico", acrescentou, citado pela AP.

Bart Groothuis e outros dizem que a Europa não tem ferramentas para monitorar e resistir a essa possível invasão. Diferentes Estados membros (da UE) adotaram visões opostas sobre os riscos de segurança da Nuctech. Ninguém foi capaz de fazer uma contagem pública abrangente de onde e quantos dispositivos Nuctech foram instalados em todo o continente.

A Nuctech descarta essas preocupações, vincando que as suas operações europeias cumprem a legislação local, incluindo verificações de segurança rígidas e regras de privacidade de dados.

"É o nosso equipamento, mas são seus dados. O nosso cliente decide o que acontece com os dados", disse Robert Bos, vice-diretor-geral da Nuctech nos Países Baixos, onde a empresa possui um centro de pesquisa e desenvolvimento.

Robert Bos considera que a Nuctech é vítima de alegações infundadas que, desde 2019, reduziram a sua participação de mercado na Europa quase para metade.

"É muito frustrante para ser honesto", disse Bos à AP.

"Nos 20 anos que levamos de entrega destes equipamentos nunca tivemos problemas de violações ou vazamentos de dados. Até hoje nunca tivemos nenhuma prova disso", acrescentou.

Além dos sistemas de scaneamento de pessoas, bagagens e cargas, a empresa fabrica detetores de explosivos e dispositivos interligados para o reconhecimento facial, medição de temperatura corporal e identificação de cartão de cidadão ou cartões de identificação para empresas.

Os críticos da Nuctech temem que, sob as leis de segurança nacional da China, que exigem que as empresas chinesas entreguem os dados solicitados pelas agências de segurança do Estado, a Nuctech seria incapaz de resistir às exigências de Pequim para entregar dados confidenciais sobre a carga, pessoas e dispositivos que passam pelos seus equipamentos.

O risco é que Pequim possa aproveitar a presença da Nuctech em toda a Europa para recolher grandes dados sobre fluxos comerciais transfronteiriços, extrair informações de redes locais, como manifestos de remessa ou informações de passageiros, ou sabotar fluxos comerciais em caso de conflito.

Os aeroportos de Londres, Amesterdão, Bruxelas, Atenas, Florença, Pisa, Veneza, Zurique, Genebra e mais de uma dúzia em toda a Espanha assinaram acordos para equipamentos Nuctech, contratos e documentos governamentais e anúncios corporativos.

A estrutura de propriedade da Nuctech é tão complexa que pode ser difícil para pessoas de fora entenderem as verdadeiras linhas de influência e responsabilidade, destaca a AP.

O que está claro é que a Nuctech, desde suas origens, está ligada ao governo chinês, interesses académicos e militares.

A Datenna, uma empresa holandesa de informações económicas focada na China, mapeou a estrutura de propriedade da Nuctech e encontrou uma dúzia de grandes entidades em quatro camadas de participação, incluindo quatro empresas estatais e três entidades governamentais.

Atualmente, o acionista maioritário da Nuctech é a Tongfang Co., que tem uma participação de 71% e o maior acionista da Tongfang, por sua vez, é o braço de investimentos da China National Nuclear Corp (CNNC), um conglomerado estatal de energia e defesa controlado pelo Conselho de Estado da China.

O Departamento de Defesa dos EUA classifica a CNNC como uma empresa militar chinesa porque partilha tecnologias e conhecimentos com o Exército de Libertação Popular.

A Nuctech sustenta que as suas operações são moldadas pelas forças do mercado, não pela política, e diz que a CNNC não controla a sua gestão ou tomada de decisões.

Mas Jaap van Etten, ex-diplomata holandês e presidente do conselho de administração da Datenna, a questão é: "Se queremos ou não permitir que a Nuctech, que é controlada pelo Estado chinês e ligada às forças armadas chinesas, se envolva em partes cruciais de nossa política. segurança e infraestrutura nas fronteiras".

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