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"Só paro quando Deus me disser: para, é a hora. Aí vou, mas contrariada"

A cantora e compositora brasileira Joanna está de regresso aos palcos portugueses. Com espetáculos idealizados especialmente para o público português, Joanna interpretará os grandes sucessos da sua carreira, em Lisboa e na Póvoa de Varzim.

"Só paro quando Deus me disser: para, é a hora. Aí vou, mas contrariada"
Notícias ao Minuto

08:45 - 18/10/18 por Filipa Matias Pereira

Cultura Joanna

Joanna dispensa apresentações. Com uma discografia repleta de sucessos, a cantora e compositora brasileira regressa a Portugal depois de quase uma década sem pisar os palcos nacionais. 

Em 2019, comemorará 40 anos de carreira. Os anos passam, mas o brilho no olhar quando fala do seu amor maior, a música, não se dissipa. Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Joanna recordou os primeiros anos do seu percurso profissional. Uma conversa que não passou à margem das novidades que a cantora tem bem 'guardadas' para o próximo ano. 

Com concertos agendados para a próxima sexta-feira em Lisboa, no Coliseu dos Recreios, e na Póvoa de Varzim, no sábado, dia 20, Joanna presenteará os fãs com os grandes êxitos que marcaram a sua carreira. 

No final, a plateia pedirá, provavelmente, que Joanna cante 'só mais uma vez', como tão nostalgicamente diz na sua música emblemática 'Amanhã talvez'. Aclamada pelo público brasileiro, português e da América Latina, a também compositora é considerada por muitos como uma referência incontornável na música romântica brasileira. 

Há cerca de uma década que não vinha a Portugal. O que podem esperar os portugueses dos concertos que terão lugar em Lisboa e na Póvoa de Varzim?

A última vez que cá estive foi no Coliseu de Lisboa, onde gravei um DVD, ‘Joanna em Portugal’, que aliás foi muito bem aceite no Brasil, inclusive.

Agora temos dois espetáculos que foram precisamente feitos para o público português. Sempre me dediquei em ‘full time’ às coisas que faço fora do Brasil. Não que não me dedique ao que faço lá, mas há todo um sentimento diferente quando trazemos a nossa música para outro país, especialmente para este que sempre me abraçou e me recebeu com um sorriso nos lábios.

Sempre fui muito bem recebida e espero ser igualmente bem recebida nestes espetáculos que serão muito bonitos. Representarão um misto de tudo o que fiz durante os últimos 10 anos; uma pequena retrospetiva da minha carreira relembrando grandes sucessos.

Mas também estão previstas grandes homenagens a alguns compositores como Chico Buarque, Gonzaguinha e pessoas que estiveram sempre presentes na minha vida. E preparámos o concerto para que isso pudesse acontecer aqui.

Podemos esperar então um concerto idealizado para os fãs portugueses?

Sim, também haverá músicas portuguesas….

Pode levantar um pouco o véu?

[Risos] Um dos homenageados será Jorge Palma.

Agora sim, tenho dois álbuns feitos com muita dedicação, que serão lançados entre o final deste ano e o início do próximoJá passou algum tempo desde que lançou o seu último disco.

Por opção fiquei sem gravar durante um bom tempo, período durante o qual me dediquei a perceber a dinâmica do mercado. Sou muito meticulosa para fazer qualquer tipo de lançamento.

Nós cantores temos um passado; uma carreira inteira. E é difícil não nos conectarmos com o próprio poder físico de um CD. Mas o mercado está em mudança e embora eu transite muito bem nas redes sociais, que acho fundamental no mercado atual, ainda tenho de assimilar esta nova realidade. Por isso, durante este tempo dediquei-me muito ao estudo da música, às minhas composições, aos novos e antigos parceiros, e a aspetos da minha vida diária que acabei por deixar em detrimento de tudo o que sou pela minha carreira.

E agora, sim, tenho dois álbuns feitos com muita dedicação, que serão lançados entre o final deste ano e o início do próximo, acompanhados por um DVD. E a novidade deste último trabalho é que fiz parcerias com autores portugueses.

Notícias ao MinutoJoanna está de regresso a Portugal © BETI NIEMEYER

Em breve comemorará 40 anos de carreira; um marco histórico. Qual o balanço que faz destas quatro décadas?

Houve uma evolução enorme e um amadurecimento em todos os sentidos possíveis, mas principalmente a nível musical, onde acho que cresci muito mais. E é muito importante saber que faço parte da memória musical brasileira.

Costumo dizer que cantar é semear luzes e somos os vaga-lumesE da portuguesa também...

Sim, da portuguesa e da América Latina também. Isto de fazer parte da memória musical das pessoas é extraordinário. Costumo dizer que cantar é semear luzes e somos os vaga-lumes [metáfora que alude pirilampo] que piscam incessantemente na vida de cada um, levando essa luz, essa alegria.

Deu os primeiros passos no mundo discográfico em 1979. Como define o seu estilo de música? Onde ia ‘beber’ para se inspirar?

O mundo discográfico começou em 1979, mas antes disso já havia em mim uma construção de querer seguir a carreira artística porque tenho familiares músicos e isso incentivou-me muito. Por exemplo, o meu pai era muito musical.

Era violinista, correto?

Sim. Infelizmente deixou-nos há dois anos. Mas sempre tive uma casa cheia de música e inspirava-me muito em bandas americanas e cantores brasileiros, naturalmente. No início da minha carreira comecei por cantar Carole King, Carly Simon, Bee Gees e, claro, muita Bossa Nova e música popular brasileira que enriqueceu muito a minha caminhada romântica.

Foram essas influências que se refletiram no seu primeiro álbum, ‘Nascente’?

O ‘Nascente’ marcou o meu nascimento para a música. Tratava-se de um disco misto, com as minhas composições. Já compunha nessa época e tinha vários parceiros que mantenho até hoje. Lembro-me que era um disco muito polivalente, com muitas vertentes musicais, e refletia exatamente o que aprendi nesse tempo de carreira, de bailes da vida. Nessa altura, abracei a minha carreira simplesmente por gostar de cantar, não esperando nenhuma remuneração, era mesmo amor.

Cada filho [álbum] nós gostamos de um jeito diferente, mas com o mesmo amorDa sua longa discografia, qual o álbum que mais a marcou?

É uma pergunta difícil porque cada filho nós gostamos de um jeito diferente, mas com o mesmo amor. O primeiro foi muito importante, talvez por ter marcado o 'boom' e me ter permitido descobrir aquilo que eu sempre amei, a música.

Mas houve também dois projetos que fiz ao longo da minha carreira que foram simbólicos. Um deles foi um projeto de regravações de um grande compositor brasileiro, Lupicínio Rodrigues. Tratou-se de projeto com o qual trabalhei durante três a quatro anos.

Se tivesse oportunidade de escolher um cantor português para subir ao palco consigo, quem escolheria?

Rui Veloso seria um deles até porque já gravei músicas dele no disco anterior. E fizemos uma gravação especial aqui no Coliseu, onde cantei a ‘Paixão’, que adoro. Admiro também vozes como a da Mariza, uma das mais bonitas dos últimos tempos.

Uma das suas músicas mais emblemáticas em Portugal, ‘Amanhã Talvez’, foi lançada em 1986. Foi escrita pela Joanna?

Foi escrita por uma dupla que trabalhava com imensos cantores. Nesse ano, eles fizeram duas ou três músicas especialmente para mim. Uma delas foi o ‘Sonho a Dois’, que também se destacou muito em Portugal.

Enquanto compositora, em que se inspira para escrever?

No que vejo na vida e nas pessoas e no que leio nos livros. Como faço composição com outros parceiros, vou dividindo com eles esse sentimento. Às vezes escrevia letras e musicava-as também, mas gosto de fazer isso com um parceiro para que essas sensações não sejam só minhas. Gosto de ter com quem as dividir.

A música nasce do coração e daquilo que percebemosÉ uma cantora romântica. Gosta de escrever sobre o amor?

Gosto de escrever sobre tudo o que percebemos que é importante ser dito. Às vezes a música vem de uma forma inesperada, de lugares surpreendentes. A música nasce do coração e daquilo que percebemos.

As suas músicas fizeram, ao longo de vários anos, parte de bandas sonoras de novelas brasileiras. Esse foi também um aspeto determinante para a progressão da sua carreira?

Esse aspeto é importante para nós, enquanto artistas, em qualquer situação que estejamos. É óbvio que tendo uma canção numa novela temos muito mais exposição. Há muito mais hipótese de aquela canção se tornar num mega sucesso. Mas mais importante do que tudo, é trilhar uma carreira com dignidade, trilhar com verdade; trabalhar muito, mostrar o trabalho e as pessoas assimilarem-no.

Notícias ao MinutoJoanna preparou um concerto especial para os fãs portugueses © BETI NIEMEYER

O Brasil valoriza os artistas que tem?

A maioria, sim. Porém, é óbvio que é preciso um esforço constante. Os meios de comunicação em geral sempre contribuem muito para que o cantor tenha longevidade. E a forma como se comporta o mercado musical relativamente a um cantor também depende muito dessa projeção.

Não quero parar nunca. Ou, melhor, só paro quando Deus me disser: para, é a hora. Aí eu vou, contrariada mas vou.Depois de 40 anos de carreira, há ainda algum projeto na música que gostaria de concretizar?

Muitos, sou uma ‘aquariana’ [do signo aquário] em ebulição. Estou sempre a querer escolher novos caminhos, novas coisas, novos horizontes. Não quero parar nunca. Ou, melhor, só paro quando Deus me disser: para, é a hora. Aí eu vou, contrariada mas vou.

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