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"Para a Macedónia, é uma final do Mundial. Para nós, também terá de ser"

Equipa das quinas joga a qualificação para o Mundial'2022 frente à Macedónia do Norte, uma equipa que nunca marcou presença numa fase final de um Campeonato do Mundo. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Silas, que se estreou pela seleção frente aos macedónios, disse acreditar na vitória portuguesa.

"Para a Macedónia, é uma final do Mundial. Para nós, também terá de ser"
Notícias ao Minuto

08:04 - 27/03/22 por Rodrigo Querido

Desporto Exclusivo

Portugal e Macedónia do Norte medem forças na próxima terça-feira, no Estádio do Dragão, por um lugar na fase final do Mundial'2022. Se os lusos são habituais 'clientes' desta prova de seleções, o mesmo não se pode dizer dos macedónios que nunca foram a um Campeonato do Mundo. Prevê-se, por isso, um encontro de uma vida para a formação forasteira.

Quem o diz é Jorge Silas, ex-futebolista que se estreou pela seleção nacional, precisamente, num particular frente à, na altura, Macedónia, pela mão do antigo selecionador nacional Luiz Felipe Scolari. Em conversa exclusiva com o Desporto ao Minuto, o treinador sublinhou que Portugal terá pela frente um jogo difícil, e que a Macedónia do Norte fará o tudo por tudo para alcançar esse lugar no Mundial'2022.

"Eu acredito que não seja fácil, mas a Itália seria mais difícil. Mesmo que a Macedónia do Norte tenha ganho à Itália e à Alemanha [ndr.: na fase de grupos desta qualificação], acredito que o jogo contra os italianos seria mais difícil para Portugal por variadíssimas razões. Acho que um jogo como o Itália-Macedónia do Norte não acontece todos os dias.  Itália rematou muitas vezes, e não conseguiu fazer o golo, só na primeira parte tiveram uma séria de remates", começou por dizer Silas, destacando que Portugal precisa de entrar com um nível de concentração muito elevado para evitar ser surpreendido pelo adversário que ocupa o 67.º lugar do ranking da FIFA.

"Agora, se não entramos com os níveis de concentração que se exige, podemos ser surpreendidos. Mas não acho que isso não irá acontecer, porque é um jogo que dita uma presença num Mundial, e todos os jogadores e treinadores estão cientes do que isso quer dizer. No futebol, tudo pode acontecer. É verdade que a Macedónia do Norte ganhou a Itália e que os dados não faziam prever que isso acontecesse, mas acho que seria mais difícil para nós se tivéssemos os italianos como adversários", sustentou, recordando ainda o jogo de estreia pela equipa das quinas, em abril de 2003, precisamente contra a Macedónia.

"Lembro-me de quase tudo. Recordo que substitui o Sérgio Conceição, que foi na Suíça e que vencemos com um golo do Figo. Era um jogo particular. Na altura, não fazíamos jogos de qualificação, porque Portugal já tinha garantido a qualificação para o Euro'2004, que estávamos a organizar. Foi um dia especial. O ponto mais alto da carreira de um jogador é representar o seu país, e representar Portugal, para mim, que jogava no União de Leiria, foi importante. Lembro-me de que vínhamos de um torneio de seleções B, e eu até tinha sido o melhor jogador dessa competição, e na altura o mister Scolari estava a vê-lo e acho que foi aí que ele decidiu convocar-me", vincou.

Notícias ao Minuto Silas conta com três internacionalizações pela seleção nacional© Getty Images  

Jogo de uma vida para os macedónios

Apesar de ocuparem uma posição mais baixa no ranking da FIFA, Jorge Silas acredita que os macedónios vão fazer o tudo por tudo para afastar Portugal do Mundial'2022 e carimbar o bilhete para um Campeonato do Mundo pela primeira vez na sua história.

"Tenho a certeza de a Macedónia do Norte irá fazer o jogo da vida deles. É o jogo mais importante da vida daqueles jogadores e da vida futebolística do país em si, porque nunca estiveram no Mundial. Para eles, é como se fosse uma final de um Mundial, mas para nós também tem de ser. Se não ganharmos, não conseguimos chegar a uma final. Toda a gente está ciente disto", destacou o treinador de futebol, alertando ainda que Portugal tem de evitar algumas desconcentrações que demonstrou no jogo com a Turquia.

"Já na primeira parte do jogo de sábado, a Turquia deu sinais de que podia criar problemas. Tiveram ocasiões, muitas entradas pelo corredor central e alguma pressão alta que talvez não estivéssemos preparados. Nessa primeira parte, entrámos a ganhar com justiça, mas acabámos por cometer alguns erros que a Turquia soube explorar. E não podemos voltar a cometê-los. Os jogos são diferentes, mas já tivemos a prova de que, se a Macedónia do Norte marcar primeiro e tiver de defender em bloco baixo sabe, fazê-lo bem. E não sofrem golos com facilidade", afirmou Silas, acrescentando:

"Por isso é que acho que é importante fazermos uma primeira parte sem entrar em desesperos, porque um jogo não se ganha em 45 minutos, mas em 90 minutos. Mas, como já disse, é importante manter um nível de concentração elevado durante todo o jogo. Não podemos dar-nos ao luxo de fazer golo e desligar-nos, porque pode ser prejudicial para nós."

Surpresas estratégicas iniciais e os regressos de Pepe e Cancelo

Questionado sobre se Fernando Santos poderá, novamente, proceder a algumas apostas inesperadas no onze inicial, à semelhança do que aconteceu com as escolhas de Diogo Costa e Otávio para o duelo com os turcos, Jorge Silas acredita que isso não fará qualquer diferença perante um adversário que passará a maior parte do jogo a defender e a apostar no contra-ataque.

"Neste jogo, não será por aí. Claramente a Macedónia do Norte irá jogar em bloco baixo, porque teve resultado bons assim, foi assim que ganhou a Itália e Alemanha. A estratégia deles passará por jogar mais atrás e explorar um contra-ataque ou uma bola parada. Temos de ser nós a estar muito mais atentos ao que eles podem apresentar a nível ofensivo do que o contrário. Já sabemos que vão optar por estar mais atrás e aguentar ao máximo sem sofrer. E, por isso, não acho que irá haver nenhuma surpresa estratégica da nossa para com eles, nem estão preocupados com isso. Este tipo de estratégia é importante perante um adversário que sabemos que irá jogar mais em cima ou que tenha um jogador que seja chave nesse aspeto, mas frente a um adversário que tem um bloco mais baixo não há grandes estratégias", disse Silas, destacando a importância de jogadores que chegam à área com alguma facilidade, como Cristiano Ronaldo, Diogo Jota ou Bernardo Silva.

"A seleção de Portugal chega sempre à área com muita gente que faz golos. Eu acho que há uma diferença entre a nossa seleção e a italiana, que é o facto de temos muitos jogadores que aportam golo como o Ronaldo, o Jota, o Bruno Fernandes, com meias-distâncias fortíssimas, o Bernardo, e até o João Félix e o Rafael Leão. Itália tem bons jogadores no meio-campo, mas não têm tanto golo como os nossos. Somos mais fortes em certos aspetos do que os italianos, porque temos finalizadores para todos os gostos. Tenho a certeza de que, se a Macedónia do Norte se meter muito atrás, vamos conseguir fazer golo, porque temos ferramentas para contrariar isso", afirmou Silas, que apontou ainda alguns aspetos aos quais a equipas das quinas terá de ter em atenção no encontro da próxima terça-feira.

"Temos de ter muito cuidado com a transição ofensiva deles e o contra-ataque, sabendo onde pará-los e como pará-los. É preciso para a seleção da Macedónia do Norte muito longe da nossa área para que depois não existam bolas paradas, um dos pontos importantes na maneira como eles vão jogar. Temos também de ter alguma paciência e não perder tanto a bola como o fizemos na primeira parte contra a Turquia, que lhes permitiu fazer os contra-ataques. Se chegarmos ao último terço com facilidade e critério acabaremos por fazer golo porque temos jogadores que aportam muito golo e que são difíceis de parar", sustentou.

Pepe, que está a recuperar da infeção por Covid-19, e João Cancelo, que já cumpriu o jogo de castigo, vão regressar aos eleitos de Fernando Santos para este jogo com a Macedónia do Norte, e Silas acredita que irão dar mais segurança defensiva à seleção nacional.

"Vão ser regressos importantes. O Cancelo, por exemplo, é mais um jogador que ajuda muito no processo ofensivo, não perde a bola com facilidade e temos visto no seu clube a qualidade que tem apresentado a nível ofensivo. E até me tinha esquecido de referir o Otávio, que marcou golo e fez assistência, e o Matheus Nunes. A minha única preocupação é o que é que acontecerá quando perdermos a bola, o que é que a Macedónia do Norte poderá apresentar e explorar, e é aí que temos de estar muito certos a nível estratégico. Em tão poucos dias é difícil apresentar uma estratégia ofensiva que seja infalível para nós. O mais importante é que tenhamos uma estratégia defensiva bem delineada porque ofensivamente vamos acabar por fazer golos e criar oportunidades", sustentou.

Ristovski de regresso a solo português

Do lado dos macedónios estará um velho conhecido de Silas e dos adeptos portugueses que dá pelo nome de Stefan Ristovski. O lateral macedónio foi treinado pelo técnico no Sporting, mas o antigo jogador não acredita que p conhecimento que o ex-leão tenha do futebol português possa jogar a favor dos forasteiros.

"Não acredito que seja uma vantagem para eles. O futebol é muito imprevisível para que um só jogador que tenha estado em Portugal e conheça mais ou menos o futebol português consiga só por si levar vantagem. Aliás, os jogadores de Portugal a maioria não joga no nosso campeonato e o facto de o Ristovski ter jogador aqui não quer dizer que conheça assim tão bem os jogadores e as dinâmicas que Portugal possa apresentar. Hoje em dia todas as equipas se conhecem muito bem e há ferramentas que nos mostram tudo o que as equipas têm, por onde podem atacar mais, quais os espaços predominantes entre os jogadores. Qualquer equipas que nos queira conhecer bem consegue fazê-lo. Uma coisa que existe e que é impossível controlar é a criatividade do jogador, por muitas ferramentas que tenhamos", finalizou.

Leia Também: "Portugal tem de ser dominante e tentar esmagar a Macedónia do Norte"

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