Desenvolvimento das tecnologias deve incluir pensamento sobre "mau uso"
A diretora da WithSecure Christine Bejerasco defende, em entrevista à Lusa, que é tempo para se começar "a pensar" quando se desenvolve novas tecnologias como é que estas podem ser mal utilizadas, pois a regulação "é lenta".
© Rita Franca/NurPhoto via Getty Images
Tech WithSecure
A diretora de segurança da informação ('chief information security officer') da WithSecure, com sede em Helsínquia, tem trabalhado em cibersegurança nos últimos 20 anos.
Questionada sobre o papel da inteligência artificial (IA), Bejerasco refere que o que tem visto "é que as ameaças seguem as tendências das tecnologias e todas as estas tecnologias são neutras".
Ou seja, "depende realmente da pessoa que está a segurar [a tecnologia] nas mãos ou da motivação da pessoa para fazer um mau uso do mesmo", salienta.
"Não vi uma tecnologia nos últimos 20 anos que ninguém tenha tentado utilizar indevidamente ou que não tenha sido realmente mal utilizada", sublinha a especialista em cibersegurança.
"Será o mesmo para a IA. Por isso, muitos dos casos de utilização que gostaríamos de ter para a Internet e até mesmo para a IA são para o bem", e as regulações "existem porque, infelizmente, temos um historial de não conseguirmos autorregular. E há regulação, mas a regulação é lenta", continua.
Por isso, considera que "é tempo" de se começar "também a pensar, quando se concebe tecnologias, não pensar apenas como podem ser utilizadas, mas como podem ser mal utilizadas" e "torná-las um pouco mais resilientes contra este uso indevido", defende.
Isto porque "podem não ser apenas utilizados indevidamente contra a pessoa, por exemplo, trabalhando com ela, mas podem ser utilizados indevidamente contra a sociedade", como as redes sociais, que "têm sido utilizadas indevidamente para campanhas de desinformação, o que não era a intenção dos fundadores destas plataformas", argumenta.
Outra das razões prende-se com facto de os governos já entrarem "tarde" no jogo da regulação. Em suma, diz, "precisamos de ter um pouco mais de visão".
Sobre a diretiva de cibersegurança NIS2, Christine Bejerasco considera positiva porque o seu âmbito é muito mais amplo. "Agora, é uma faca de dois gumes" porque, primeiro, precisa-se de regulação, já que "não nos conseguimos autorregular".
No caso da cibersegurança, refere que se tem "evangelizado nas últimas três décadas sobre construir a sua segurança, garantir que se constrói produtos que são seguros", mas foi preciso criar regulação.
Portanto, "há valor na regulamentação e na garantia de que temos uma sociedade segura para operar porque, sejamos realistas, a nossa sociedade é agora digital e física. O mundo digital faz parte da sociedade em que operamos e os governos precisam de fazer parte dela", salienta.
Por outro lado, "para as organizações que tentaram aumentar a sua segurança já antes da entrada em vigor", existe "um fardo extra que as regulamentações trazem porque são agora menos ágeis. É um pouco mais burocrático", considera.
E, depois, diz que depende "em quantos países da UE está a operar porque pode haver pequenas 'nuances'", já que cada país "pode adicionar um pequeno extra", é o que "acontece com as diretivas".
A isto soma-se "um fardo extra para a organização que pode ter os seus recursos" em tecnológicas com sede nos EUA, tais como AWS, Google Cloud, entre outros e isso tem de ser gerido porque torna as empresas europeias "um pouco menos competitivas" que as outras.
Para a sociedade em geral, "é um movimento na direção certa" porque proporciona uma base "um pouco mais larga e segura".
Christine Bejerasco foi uma das participantes da edição deste ano da Web Summit.
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