É necessário "canalizar as poupanças para o investimento na economia"
O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, destacou hoje a necessidade de se trabalhar no sentido de serem encontradas formas para canalizar poupanças captadas através de seguros de vida e fundos de pensões para o investimento na economia nacional.
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Economia Siza Vieira
Pedro Siza Vieira, que falava na abertura da conferência anual da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), admitiu que este caminho necessite ainda de algum trabalho, nomeadamente em matéria de supervisão, mas considerou que esta é uma vertente de investimento que não pode ser ignorada.
"Tenho falado bastante da necessidade para que possamos encontrar formas de melhor canalizar as poupanças dos portugueses, designadamente as captadas através dos seguros de vida e através dos fundos de pensões, para o investimento na economia nacional, seja em investimentos de longo prazo (...) , seja naquilo que é um investimento na capitalização das nossas empresas", disse o ministro, indicando ser esta uma área onde lhe "parecer existir um desfasamento entre aquilo que é a capacidade de captação de poupança e a disponibilidade de produto para investir".
Admitindo que pode haver nesta vertente necessidade de trabalho ao nível da supervisão, o ministro da Economia e da Transição Digital referiu que "certamente" há aqui um trabalho a fazer, uma vez que não se pode "ignorar o volume de recursos que podem ser colocados à disposição da economia nacional e que são geridos pelos representantes do setor segurador".
Pedro Siza Vieira destacou também a contribuição da indústria seguradora na identificação de riscos climáticos, no trabalho com o setor público na proteção contra riscos catastróficos e na mobilização dos agentes económicos para a melhor perceção dos riscos, considerando que estas são vertentes relevantes na construção de uma sociedade mais madura e assente no conhecimento.
O ministro referiu ainda a reduzida cobertura de riscos climáticos e a reduzida perceção de riscos por parte dos agentes económicos (empresas e famílias), dando como exemplo os grandes incêndios de 2017 e o furacão nos Açores que vieram mostrar que empresas e famílias ou não tinham proteção e seguros ou tinham coberturas insuficientes.
A questão dos riscos climáticos e da sua proteção foi também referida pela presidente da ASF, Margarida Corrêa de Aguiar, que apontou as estimativas que indicam que em Portugal mais de metade do parque imobiliário não está coberto para riscos de catástrofe natural relevantes como tempestades e cheias. No caso do risco sísmico, indicou, a penetração de seguros será mesmo inferior a 20%.
"As alterações climáticas irão, previsivelmente, aumentar a severidade e frequência de ocorrência de fenómenos naturais adversos, reforçando os receios de crescentes limitações na disponibilização de cobertura de seguros ('insurability') ou da sua disponibilização a tarifas economicamente viáveis ('affordability')", precisou a presidente da ASF.
Margarida Corrêa de Aguiar defendeu que o desenvolvimento de medidas que estimulem a procura e possibilitem a oferta de produtos "a preços comportáveis, com vista à colmatação do 'protection gap', vai ser "essencial para propulsionar a resiliência nacional a fenómenos daquela natureza", apontando que estas medidas "passarão inevitavelmente pela cooperação entre entidades governamentais, entidades públicas e entidades privadas.
"Destaco, neste contexto, a necessidade de dispormos de um mecanismo público que responda ao 'gap' evidente na cobertura dos riscos de fenómenos sísmicos", referiu acentuando que a ASF está disponível, e dispõe de estudos realizados neste domínio para, em cooperação com o Governo, trabalhar uma solução que contribua para a redução do 'gap' existente.
O 'protetion gap' corresponde ao diferencial entre as perdas económicas decorrentes de eventos adversos e aquelas que se encontram efetivamente protegidas por intermédio de cobertura seguradora.
A presidente da ASF considerou que a existência de uma taxonomia para a sustentabilidade, comum a nível global, "é fundamental para clarificar o que são genuínos investimentos verdes" e assegurar um campo nivelado de atuação, destacando haver ainda trabalho a fazer a este nível, e que tal requer "um esforço coordenado a nível político e regulatório".
No âmbito da transição digital, a presidente da ASF referiu o risco cibernético, destacando a dupla vertente que tem no setor segurador, quer enquanto risco que estas empresas enfrentam, quer enquanto linha de negócios que pode ser explorada.
Durante a sua intervenção, Margarida Corrêa de Aguar alertou que os "riscos cibernéticos estão a crescer", sendo "maior a sua intensidade e severidade" e acentuou que os grandes desafios "estão na sua prevenção e no desenvolvimento de um mercado de oferta de seguros para a cobertura destes riscos".
Através de uma mensagem gravada, a comissária europeia dos Serviços Financeiros, Mairead McGuinness, destacou o 'Pacto Verde' da União Europeia, tendo ainda salientando a importância da adoção de uma taxonomia climática, que abre caminho, nomeadamente para incentivar a cobertura de seguros sobre riscos ambientais.
A comissária apontou ainda a necessidade de se tornar a sustentabilidade financeira mais inclusiva, o que inclui a melhoria da cobertura de seguros nos riscos ambiental e climáticos.
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