Preços dos alimentos? "Não é previsível que vão baixar muito"
Antigo ministro da Economia admite que preços dos produtos alimentares não vão subir tanto nos próximos tempos, mas não prevê uma grande descida. Interrogado sobre se acha que se limitar preços ou margens devia ser uma opção, nomeadamente em bens de primeira necessidade, Siza Vieira rejeita.
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Economia Siza Vieira
Pedro Siza Vieira, antigo ministro da Economia, considerou, esta terça-feira, que "não é previsível" que os preços dos produtos alimentares "vão baixar muito" nos próximos tempos.
Em entrevista no programa 'Tudo é Economia', da RTP3, o também advogado começou por ser interrogado sobre a inflação e sobre o aumento do preço dos alimentos e notou que Portugal tem "características muito específicas" no que diz respeito aos mercados de produtos alimentares.
"Em todos os países o preço dos alimentos aumenta mais do que a inflação em geral", disse, lembrando depois os efeitos da crise na Ucrânia nos produtores agrícolas.
Neste ponto, Siza Vieira lembrou que, há um ano, quando ainda era ministro e se iniciou a guerra na Ucrânia, o Executivo começou "a tentar perceber os impactos previsíveis", definindo três 'ideias': "Evitar que faltassem produtos essenciais" , sabendo que os produtos energéticos iam ser afetados, "assegurar que as empresas mais expostas à concorrência estrangeira" recebiam apoios para não pararem de laborar e uma "subida muito grande dos bens essenciais", sendo necessário "proteger o impacto sobre as famílias mais vulneráveis".
Tudo isto significa que os preços dos produtos alimentares, obviamente, têm de estar mais caros e subir mais que os preços dos produtos em média.
"Veio a confirmar-se, tivemos um crescimento muito grande dos preços", sublinhou, lembrando que os fertilizantes aumentaram e houve um impacto, por exemplo, na horticultura. Também as rações aumentaram, impactando as carnes e, posteriormente, lacticínios, etc.
Lembrando também ainda tudo o que é "intermédio", como a indústria transformadora alimentar, custos energéticos, transportes, o antigo ministro destacou: "Tudo isto significa que os preços dos produtos alimentares, obviamente, têm de estar mais caros e subir mais que os preços dos produtos em média".
Interrogado sobre se há ou não abusos de margens por parte de algumas empresas, sejam de produção, transformação ou distribuição, Siza Vieira recusou.
"Eu sinceramente não consigo dizer isso. O preço dos produtos alimentares ao consumidor aumentou menos do que o preço dos produtos alimentares no produtor. Ou seja, dá ideia que não é na distribuição que tem essencialmente ocorrido o aumento de preço. Também é preciso dizer que os preços dos produtos alimentares pagos ao produtor, em Portugal, são muito baixos, eram muito baixos", afirmou.
"Sempre ouvi dizer (...) que o preço do leite era uma coisa que não permitia as explorações leiteiras conseguir suportar todos os custos de produção. De facto, o preço do leite agora aumentou e aumentou muito substancialmente. Provavelmente também há aqui alguma correção de algo que não era desejável", defendeu.
O ex-ministro disse ainda que no setor agrícola há "uma grande concentração do lado da procura". "Temos poucas cadeias retalhistas, que são os grande compradores de produtos agrícolas, e temos uma grande pulverização de pequenos produtores e uma quase inexistência de organizações coletivas de comercialização para contrabalançar o preço", destacou.
"Há um peso excessivo da distribuição e provavelmente também está aqui a haver uma correção, que a meu ver é saudável do ponto de vista da capacidade das nossas empresas produtoras agrícolas conseguirem sobreviver, que estão a explicar este fator", reiterou.
É possível que preço dos produtos alimentares não subam tanto nos próximos tempos, mas também não é previsível que vão baixar muito
O antigo ministro defendeu ainda que não faz "muito sentido" procurar ou "apontar o dedo a responsáveis" por este aumento, notando que é necessário, neste contexto, "pensar qual a melhor forma de ajudar a nossa população a atravessar este período em que indubitavelmente essas coisas ainda se vão manter".
"Nós vamos provavelmente ver uma redução daqueles principais custos de fatores de produção que mais subiram no passado", disse, realçando que se reduziu os preços da energia e que há uma redução no preços dos fertilizantes. "É possível que preço dos produtos alimentares não subam tanto nos próximos tempos, mas também não é previsível que vão baixar muito", frisou.
Questionado sobre se acha que se limitar preços ou margens devia ser uma opção, nomeadamente em bens de primeira necessidade, Siza Vieira foi claro: "Francamente acho que não".
"Eu acho que, neste momento, não faz sentido. Eu acho que aquilo que está neste momento a acontecer, do ponto de vista da economia europeia e portuguesa, até nos tem surpreendido pela positiva. É verdade que estamos com preços a subir, mas do ponto de vista das nossa empresas, elas têm conseguido repercutir os custos nos preços que praticam junto dos seus clientes", considerou, defendendo que "esta recomposição das cadeias de abastecimento globais" tem levado as empresas portuguesas a marcar a sua presença nos mercados externos e ate robustecerem as suas margens".
"Se competirmos exclusivamente na base dos preços baixos também nunca vamos conseguir remunerar melhor os fatores de produção, designadamente os salários", rematou.
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