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Na China, pagar com dinheiro vivo está a tornar-se 'coisa de antigamente'

Uma sociedade em que moedas e notas são obsoletas e tudo é pago via 'carteiras digitais' está a materializar-se rapidamente na China, impulsionando novos modelos de negócios e uma geração de consumidores mais autónomos.

Na China, pagar com dinheiro vivo está a tornar-se 'coisa de antigamente'
Notícias ao Minuto

07:00 - 24/09/17 por Lusa

Economia Digital

Zhao Gang, um jovem chinês radicado em Pequim, não tem dúvidas: "No que toca a pagamentos móveis, a China está à frente do resto do mundo".

À semelhança de milhões de compatriotas, Zhao há muito deixou de levar carteira quando sai de casa. O telemóvel basta-lhe.

Segundo a consultora iResearch, os pagamentos feitos via carteiras digitais na China atingiram, no ano passado, 5,5 biliões de dólares.

O fenómeno está a inspirar novos modelos de negócio, com impacto na rotina dos consumidores.

Para se deslocar para o trabalho, Zhao aluga uma das centenas de milhares de bicicletas hoje distribuídas pelas ruas de Pequim, fazendo a leitura do código QR com o seu telemóvel.

À hora do almoço, volta a alugar uma bicicleta e desloca-se até ao restaurante Renrenxiang, onde os pedidos e pagamentos são feitos via aplicativo Wechat e a refeição sai da cozinha num tapete rolante.

Lançado em janeiro de 2011, pelo gigante chinês da Internet Tencent, o Wechat tem hoje quase mil milhões de utilizadores, segundo dados da empresa.

Liu Zheng, fundador do Renrenxiang, diz à agência Lusa que o seu modelo de negócio é a "tendência do futuro".

"Noto que o perfil da mão-de-obra chinesa está a mudar muito", diz Liu, que trabalhou vários anos no departamento de Recursos Humanos de uma das maiores empresas de telecomunicações da China.

"Nas grandes cidades, há cada vez menos pessoas dispostas a fazer trabalho manual e por salários baixos", afirma.

Em 2015, a população em idade ativa na China registou a maior contração de sempre - 4,87 milhões de pessoas -, enquanto o país relega gradualmente o papel de "fábrica do mundo" para outras nações asiáticas.

Quan Bin, cofundador de uma rede de lojas de conveniência sem atendimento, diz que uma das maiores vantagens dos pagamentos móveis é o 'Big Data', a análise dos dados dos consumidores, que permite moldar a oferta à procura.

"Logo a partir do momento em que o cliente faz o registo, temos acesso aos seus dados pessoais. Sempre que ele faz compras, o nosso sistema armazena e analisa o seu historial de consumo", explica.

Nas lojas da Xiaomai, o cliente faz a leitura do código de barras e o pagamento com o telemóvel. A porta abre-se automaticamente, através de um sistema de reconhecimento facial.

Pequim apoia o fenómeno, que considera vital na transição para um modelo económico mais baseado no consumo e nos serviços, mas esforça-se para sufocar a liberdade criada pela internet através do "Grande Firewall da China".

Aquele mecanismo censura sites como o Facebook, Youtube e Google ou ferramentas como o Dropbox e o WeTransfer.

As versões eletrónicas de vários órgãos de comunicação estrangeiros também estão bloqueadas no país, enquanto comentários nas redes e espaços de discussão 'online' são sujeitos a controlo das autoridades.

Em 65 países analisados pelo grupo de pesquisa Freedom House, a China tem a Internet mais fechada, abaixo do Irão e da Síria.

Para Liu Zheng, no entanto, a internet chinesa oferece um potencial único.

"Em mais nenhum outro país o meu negócio seria tão bem-sucedido", atira. "Os serviços 'online' atingiram um nível de difusão ímpar na China".

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