Júlio Magalhães de volta à TVI? "Não depende de mim"
Jornalista esteve à conversa com Maria Cerqueira Gomes no programa ‘Conta-me’, da TVI.
© Instagram - maria_cerqueira_gomes
Fama Júlio Magalhães
Depois de ter sido anunciado a saída do Porto Canal, Júlio Magalhães foi entrevistado por Maria Cerqueiro Gomes que quis saber as razões que o levaram a despedir-se da estação, sem esquecer do tempo em que trabalhou na TVI.
Mas antes, o jornalista recordou o seu passado, como o momento em que chegou a Portugal. Júlio morava em Angola quando se mudou para a cidade do Porto com a família.
“Foi um choque grande porque em África tínhamos uma vida confortável que cá nos primeiros tempos não tivemos”, lembrou, destacando que a família ajudou “imenso” nesta transição.
“Mas para recomeçarmos todos a nossa vida tivemos que ir trabalhar, tive que ir trabalhar. O meu pai depois teve uma empresa de colchões e uma de candeeiros, e eu andei com o meu irmão a trabalhar nessas duas empresas. Todos tínhamos que ajudar. E foi também um choque de mentalidade. O Porto era uma cidade muito fechada na altura. Os meus amigos na escola viviam muito em casa, estava sempre tudo muito em casa, e nós lá vivamos ao ar livre”, acrescentou.
“Lembro-me que a mãe de alguns amigos meus não queriam que eu fosse a casa deles porque tinha vindo de África”, contou, explicando também que essa fase durou cerca de um a dois anos e depois a sua vida voltou a ‘normalizar-se’.
Uma conversa onde recordou ainda a partida da irmã, quando esta tinha 56 anos. “Foi uma perda grande para nós”, confessou, lembrando também a morte do pai, que aconteceu quando foi trabalhar para a RTP.
“O meu pai morreu na semana em que eu entrei na televisão. Ainda lhe disse, ele estava já no hospital... acho que já não percebeu”, partilhou. “Sei que ele sorriu na altura, mas não sei se percebeu que ia mesmo para a televisão. E a partir daí fiquei por minha conta”, destacou.
Os primeiros momentos no pequeno ecrã foram “um misto tremendo de emoções”. Na altura já tinha trabalhado nos jornais e na rádio, mas pensou que um dia iria fazer parte da televisão portuguesa. “Foi um orgulho e uma alegria enorme para a família toda”, acrescentou.
E foi nesta altura que recordou a sua passagem pela TVI, onde foi também diretor do canal que, diz, “foi o momento mais difícil da sua carreira profissional”.
“Foram momentos muito difíceis, foram a seguir a momentos muito violentos em termos políticos, em termos de comunicação, de audiências… Mas foi também aquele onde senti a maior solidariedade de sempre de todas as pessoas que trabalhavam comigo. Hoje olho para trás e penso que valeu a pena por causa disso", disse.
"Nos primeiros meses eu vivia num desespero total. Nem dormia porque todos os dias, no dia a seguir havia problemas. E estava tudo muito dividido. No último ano em que lá estive, as pessoas uniram-se de uma tal maneira… Tinha uma belíssima equipa, aquilo não dependia só de mim, foi aí que senti também que um trabalho de equipa é um trabalho de equipa, ninguém sozinho consegue fazer nada. Se quisesse ser naquela altura um diretor arrogante e autoritário, tinha caído ao primeiro mês”, realçou.
Sobre o dia em que decidiu deixar a estação de Queluz, lembrou: “Quando me despedi da TVI tinha 400 pessoas num espaço que eles arranjaram e marcaram lá uma festa de despedida. Esse foi um momento em que disse que vale a pena ser assim, valeu a pena isto”.
Na altura, Júlio Magalhães despediu-se da TVI para começar uma nova etapa no Porto Canal, cargo a que disse adeus no início deste ano.
“São nove anos, foi uma bela viagem, um belo ciclo no Porto Canal. Ao fim de nove anos há um desgaste natural entre a minha pessoa e as pessoas que mandam. Houve um desgaste que terminou agora porque é como eu digo, não podemos ser eternos e a determinada altura as ideias não são as mesmas. E depois se nos queremos perpetuar nos sítios ou querer continuar e agarrar-nos aquilo que é o nosso lugar, o que é que acontece? Começa a haver divergências e num combate que a determinada altura tem que se descer de nível”, explicou, tendo também realçado a importância de “sabermos sair” e que “nunca se apegou ao poder”.
Questionado por Maria Cerqueira Gomes se fica alguma mágoa, o jornalista respondeu: “Foi muito civilizada esta saída. Foi muito tranquila”.
“Foi absolutamente conversado e chegamos à conclusão que já não tínhamos projetos iguais. A administração do FC Porto legitimamente quer ter um canal mais cidade, mais de clube. Eu sempre disse que se fosse para fazer um canal mais de clube ou de local não era comigo, e não precisavam de mim para nada. Quando me propuseram foi um canal do Porto para o país, para o mundo. Acho que ao longo de sete anos fizemos isso, acho que eu e a minha equipa deixamos ali uma marca grande. O Porto Canal tornou-se numa marca, todos os políticos, todas as instituições vão hoje ao Porto Canal porque fizemos esse trabalho”, destacou.
Júlio Magalhães pretende continuar a carreira profissional. Mas será que volta para a TVI?
“Não sei, não depende de mim. Gostava de voltar a fazer televisão, na TVI ou noutro lado qualquer. É a minha vida, é a minha profissão. Agora, percebo que as pessoas também já não queiram. O mercado é assim hoje em dia, já não está tão aberto como estava, é mais difícil”, disse, salientando que espera que o futuro lhe traga novos desafios, seja na TVI “ou noutro sítio qualquer”.
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