Abusos na seleção afegã: "Grita o que quiseres, ninguém te vai ouvir"
Agressões, insultos, ameaças, abusos, violações. Aumentam as denúncias sobre o presidente da federação afegã, que se encontra suspenso pela FIFA.
© Reuters
Mundo Invenção
Foi em novembro que o The Guardian abriu a cortina do que se passava: Keramuudin Karim, o presidente da Federação Afegã de Futebol, era acusado de abusos repetidos contra atletas da seleção feminina de futebol.
Esta quinta-feira, o mesmo jornal britânica desvenda os relatos de jogadoras às mãos de Karim.
Por medo de represálias, as atletas optaram por não revelar nomes. Alertamos desde já que os relatos incluem detalhes que podem ferir a suscetibilidade dos leitores.
Uma das atletas, após um treino, falou com o presidente sobre o dinheiro de custos de transportes. Karim terá aproveitado para encaminhar a atleta para um quarto anexo ao seu escritório."Não te preocupes, eu dou-te o dinheiro", terá dito à jogadora. Após entrarem, trancou a porta.
A futebolista conta que lhe pediu para a deixar sair. "Grita o que quiseres, ninguém te vai ouvir", terá respondido. Lá dentro, empurrou a jovem para a cama. Esta levantou-se e voltou a ser empurrada. A partir daí, agrediu violentamente a jovem enquanto esta resistia aos seus avanços, até que a dada altura ficou inconsciente.
"Quando acordei, não tinha as minhas roupas e havia sangue por todo o lado. Estava a tremer, não sabia o que me tinha acontecido. A cama estava coberta de sangue. Tinha sangue na boca, no nariz, na vagina. Fui à casa de banho. Lavei a caminha cara e vesti-me. Quando voltei disse-lhe que ia contar à imprensa o que me fez".
Foi nessa altura que o homem-forte da federação afegã terá pegado numa arma e apontado à cabeça da atleta. "Vês o que te fiz? Posso balear-te na cabeça e o teu cérebro vai estar por todo o lado. E posso fazer o mesmo com a tua família", ameaçou. De seguida, atirou o dinheiro que devia à cara da jogadora.
Sem poder contar à família o que se passou, a atleta fingiu uma lesão para evitar compromissos futuros pela seleção. Descobriu depois que Karim justificou a sua ausência perante técnicos e jogadores acusando-a de ser lésbica e ter sido apanhada num ato sexual com outra jogadora.
Os relatos não se ficam por aqui. Uma outra jogadora internacional afegã alega que Karim ameaçou, em frente a colegas, que lhe cortava a língua depois de esta ter fugido de Karim, numa altura em que este a assediava. Noutra ocasião, o presidente da federação afegã terá ainda tentado arrancar as roupas.
Uma terceira jogadora acusa Karim de a ter tentado beijar no pescoço e lábios. Depois de fugir, também deixou de ser convocada para a seleção.
Ashraf Ghani, presidente do país, anunciou a abertura de um inquérito para levar o caso até ao fim em termos jurídicos. As três atletas que falaram anonimamente ao The Guardian admitem, no entanto, terem pouca confiança na capacidade e vontade do Governo de levar o caso até Às últimas consequências.
Entretanto, há duas semanas, o Comité de Ética da FIFA suspendeu Keramuudin Karim provisoriamente, durante 90 dias, por infração do código de ética, anunciou hoje o organismo regulador da modalidade a nível mundial, em comunicado.
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