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Médio Oriente marcado por tensão no Golfo e contestações populares

Recorde o que aconteceu em 2019 no Médio Oriente.

Médio Oriente marcado por tensão no Golfo e contestações populares
Notícias ao Minuto

12:42 - 14/12/19 por Lusa

Mundo 2019

A tensão no Golfo Pérsico e a contestação popular no Iraque e no Líbano marcaram o ano na conturbada zona do Médio Oriente, palco de guerras que se arrastam e conflitos com décadas que extravasam a região.

Tensão no Golfo

A rivalidade entre a Arábia Saudita sunita e o Irão xiita não é nova e Teerão e Washington têm há muito relações difíceis, mas a situação atingiu este ano uma fase perigosa com ataques a petroleiros e bombardeamentos sem precedente contra instalações petrolíferas sauditas.

As potências rivais árabe e persa do Médio Oriente disputam há décadas a liderança regional e apoiam lados contrários na guerra da Síria (desde 2011) e do Iémen (desde 2014).

O Presidente sírio, Bashar al-Assad, tem no Irão um dos seus principais aliados, enquanto Riade apoia os rebeldes. No Iémen, a Arábia Saudita lidera uma coligação militar que desde março de 2015 ajuda o governo no combate aos rebeldes Huthis, apoiados pelo Irão.

Foram os rebeldes iemenitas que reivindicaram o ataque a 14 de setembro a duas instalações petrolíferas da estatal Aramco, no leste da Arábia Saudita.

Riade e Washington responsabilizaram Teerão, a quem imputaram igualmente os "atos de sabotagem" contra navios no Golfo e o ataque a um oleoduto saudita em maio.

No Estreito de Ormuz passa quase um quinto da produção mundial de petróleo e os Estados Unidos lançaram uma missão de proteção dos navios comerciais com aliados. O Irão insiste ser o responsável pela segurança da zona.

A tensão entre os Estados Unidos e o Irão, num crescendo desde que o Presidente Donald Trump retirou unilateralmente o país em maio de 2018 do acordo nuclear internacional de 2015 e restabeleceu sanções devastadoras para a economia iraniana, alarmou este ano a comunidade internacional.

Em junho, um dia depois dos iranianos terem abatido um avião não tripulado ('drone') norte-americano que teria violado o espaço aéreo do país, Trump afirma ter cancelado no último minuto um ataque contra o Irão.

No mês anterior, Teerão tinha anunciado a suspensão de alguns dos seus compromissos no pacto. E tem cumprido.

Para responder ao "comportamento hostil" da República Islâmica, Washington anuncia em maio o envio para o Médio Oriente de uma bateria de mísseis Patriot e um navio de guerra e menos de dois meses depois o destacamento de cerca de mil militares. Já este mês, o Pentágono disse estar a considerar enviar mais alguns milhares de militares - entre 5.000 a 7.000 - para a região.

As sanções norte-americanas têm-se intensificado e o Irão conta uma inflação superior a 40%. Ao anúncio do aumento substancial do preço da gasolina em meados de novembro seguiu-se uma forte reação da população com protestos em várias cidades iranianas, que se prolongam por alguns dias.

As forças de segurança reprimem os manifestantes e o governo bloqueia a Internet.

Centenas de pessoas foram detidas por envolvimento na contestação e a organização Amnistia Internacional dá conta de pelo menos 208 mortas pelas forças de segurança. Teerão só confirmou cinco mortes - quatro polícias e um civil - e qualificou de "mentiras absolutas" os balanços fornecidos por "grupos hostis"

Contestação popular no Iraque e no Líbano

Apelos espontâneos nas redes sociais a exigir trabalho e serviços públicos funcionais desencadearam a 1 de outubro protestos populares antigovernamentais na capital do Iraque, Bagdad, que se estenderam ao sul do país.

As manifestações, por vezes com alguma violência, denunciam a corrupção -- que deu ao Iraque um dos primeiros lugares mundiais -, o desemprego que atinge um quarto dos jovens, a pobreza endémica e as ingerências estrangeiras, particularmente as do vizinho Irão.

A desobediência civil bloqueou escolas e a administração, o consulado iraniano em Najaf (sul) já foi incendiado duas vezes e a repressão dos protestos foi-se intensificando com um balanço de mais de 450 mortos, maioritariamente manifestantes, e 25.000 feridos.

Após uma semana de protestos, o governo anunciou medidas sociais, mas nenhuma reforma profunda. O primeiro movimento social espontâneo em décadas no Iraque teve uma primeira vitória com a demissão a 1 de dezembro do primeiro-ministro, Adel Abdel Mahdi.

Mas os manifestantes querem mais, uma nova Constituição e a renovação total da classe política, considerando que a atual, inalterada há 16 anos, fez desaparecer o equivalente a duas vezes o produto interno bruto (PIB) do país na espiral da corrupção.

Três militantes antigovernamentais foram assassinados em menos de 10 dias e as autoridades garantem não conseguir identificar ou prender os responsáveis por dezenas de sequestros ou os autores de um recente massacre em Bagdad, na praça Tahir, onde os contestatários têm montado um "mini-Estado".

No Líbano foi uma nova taxa sobre as chamadas e mensagens através da aplicação WhatsApp, num contexto de crise económica, que desencadeou o protesto a 17 de outubro.

A decisão foi anulada no mesmo dia e o governo de Saad Hariri anunciou reformas económicas de emergência, mas as manifestações com milhares de participantes, na capital Beirute e um pouco por todo o país, continuaram e os cortes de estradas deixaram o país praticamente bloqueado.

Também aqui os contestatários exigem a saída de uma classe dirigente considerada corrupta e incompetente e conseguem a 29 de outubro a demissão do primeiro-ministro.

As manifestações continuaram, em defesa de um governo composto de tecnocratas e independentes, mas as negociações para a formação de um novo executivo têm-se arrastado.

Até ao momento os protestos têm sido largamente pacíficos, mas muitos manifestantes foram detidos e alguns atacados por militantes dos partidos xiitas Amal e Hezbollah.

Cerca de um terço dos libaneses vive abaixo do limiar de pobreza e o desemprego, que atinge mais de 30% da população jovem, tem aumentado.

Hariri, que continua a gerir os assuntos correntes, pediu no passado dia 06 ajuda financeira a "países irmãos e amigos", como França, Arábia Saudita, Estados Unidos, Rússia, China, Egito e Turquia.

Numa reunião internacional em Paris para ajudar o Líbano a sair da crise política, no dia 11, a comunidade internacional condicionou todo o apoio financeiro à criação de um governo reformador.

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