Hong Kong em 2019. Protestos na rua e mais de meio ano a desafiar Pequim
Mais de meio ano após os primeiros protestos, a população de Hong Kong despediu-se de 2019 praticamente como começou junho: na rua, em desafio ao Governo local e a Pequim, exigindo reformas democráticas na ex-colónia britânica.
© Reuters
Mundo 2019
Houve mortos e feridos, e até um cerco a uma universidade. Mais de seis mil detenções e mais de 16 mil granadas de gás lacrimogéneo. As forças de segurança registaram o disparo de mais de dez mil balas de borracha e quase meio milhar de agentes feridos durante os confrontos.
Contas feitas, a escalada da violência dos confrontos naquela região administrativa especial chinesa foi visível na estatística, mas sobretudo nas ruas, quase diariamente, mas com especial intensidade ao fim de semana.
No início do mês, a 08 de dezembro, 800 mil manifestantes -- segundo a organização - voltaram a invadir as principais artérias da ilha de Hong Kong, encorajados pelo resultado das eleições que, duas semanas antes, lhes deram o controlo de 17 dos 18 distritos naquelas que são as únicas eleições livres no território, com o campo pró-democracia a garantir quase 90% dos assentos.
Os primeiros protestos levaram para a rua milhões de pessoas, com a organização a estimar que a 16 de junho tenha participado quase um terço da população.
Começaram pacíficas e com uma única exigência, a da retirada das emendas à lei da extradição que permitiria a entrega de suspeitos de crime às autoridades chinesas, mas a aparente irredutibilidade do Governo liderado por Carrie Lam terá dado 'fôlego' a um movimento radical.
A invasão e vandalismo do parlamento de Hong Kong, a queima de bandeiras chinesas, a destruição repetida de várias estações de metro e as investidas sobre esquadras da polícia ilustraram a violência dos confrontos e testaram a paciência de Pequim, de acordo com os analistas, que estacionara de prevenção tropas na vizinha cidade de Shenzhen.
As exigências ao longo dos protestos multiplicaram-se e a cedência de Carrie Lam, ao retirar a lei da extradição, não sossegou os protestos pró-democracia, que mantêm até hoje outras quatro: amnistia para os manifestantes detidos e que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins; um inquérito independente à violência policial; a demissão da chefe de Governo; e, finalmente, a eleição por sufrágio universal para o cargo de chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo.
Quatro exigências que resultam de uma espécie de fusão entre os acontecimentos mais recentes e do legado da luta pró-democracia intensificada esta década.
Se as primeiras três expressam o 'abismo' criado com as autoridades nos últimos seis meses, a última revela o grande objetivo de garantir reformas democráticas que as primeiras mudanças no sistema eleitoral, com a 'benção' de Pequim, não aplacaram: a ampliação da comissão eleitoral que escolhe o chefe do Governo e a criação de mais vagas para os deputados eleitos por voto direto.
Em 2014, o movimento de desobediência civil que ficou conhecido como a "Revolução dos guarda-chuvas" não conseguiu forçar as eleições livres, mas apenas que a China aceitasse o sufrágio universal, mas com os candidatos a terem de ser aprovados por Pequim.
Um ano depois, os deputados de Hong Kong rejeitaram formalmente a proposta e, também em junho, mas de 2019, a proposta de emendas à lei da extradição 'ressuscitou' um movimento que termina o ano sem qualquer concessão, tanto do Governo local como da China liderada pelo Presidente Xi Jinping.
O fim da violência e a reposição da ordem pública continuam hoje a ser duas das prioridades para o Governo de Hong Kong que, em meio ano, 'mergulhou' numa recessão e numa crise que está a ter um inegável impacto no comércio local e no setor do turismo naquele que é um dos principais centros financeiros mundiais.
O 'lobbying' do movimento pró-democracia transpôs fronteiras internacionais e, quase a acabar o ano, no meio de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, a situação em Hong Kong motivou a aprovação das autoridades políticas norte-americanas de duas leis em defesa dos direitos humanos no território.
As leis preveem a adoção de sanções contra as autoridades chinesas caso sejam violadas as liberdades civis e os direitos humanos no território.
Por outro lado, o seu estatuto especial como parceiro económico dos EUA fica dependente de um relatório anual a ser apresentado ao Congresso norte-americano, que deve analisar se Hong Kong possui autonomia suficiente em relação à China.
Hoje, independentemente da interpretação feita pelo campo pró-Pequim ou pró-democracia, a realidade parece desmentir a afirmação do primeiro chefe do Governo de Hong Kong, a 01 de julho de 1997, aquando da transferência de soberania, quando declarou: "Pela primeira vez na história, nós, o povo de Hong Kong, seremos donos de nosso próprio destino".
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