Líder pró-independência apela à continuação da mobilização na Nova Caledónia
O líder de um partido pró-independência na Nova Caledónia apelou hoje para que os apoiantes "se mantenham mobilizados" no arquipélago no Pacífico e "mantenham a resistência" contra os esforços do Governo francês para impor reformas eleitorais.
© DELPHINE MAYEUR/AFP via Getty Images
Mundo Nova Caledónia
Christian Tein, líder do partido pró-independência The Field Acton Coordination Unit, dirigiu-se a apoiantes e manifestantes numa mensagem vídeo, divulgada nas redes sociais dois dias após se ter reunido com o presidente francês, Emmanuel Macron, em conjunto com outros líderes pró-independência, durante a visita do chefe de Estado ao território, após o início dos protestos que já mataram sete pessoas e deixaram um rasto de destruição.
O território encontra-se em estado de emergência desde a semana passada, na sequência de uma vaga de distúrbios que causou sete mortos e centenas de detidos e que obrigou a França a enviar forças de segurança adicionais para o arquipélago.
Hoje o Governo francês iniciou a retirada de turistas nacionais que se encontravam na Nova Caledónia, que foram transportados em aviões militares para a Austrália e a Nova Zelândia, de onde seguem em voos comerciais no regresso a França.
Macron apelou repetidamente à retirada das barricadas dos manifestantes de ambos os lados -- os indígenas Kanaks, que querem a independência, e os apoiantes de Paris, que não querem.
O presidente Macron disse a ambos os lados que o estado de emergência imposto por Paris por pelo menos 12 dias, a 15 de maio, para reforçar os poderes policiais apenas pode ser levantado se os líderes locais apelarem ao fim das barricadas que as pessoas ergueram para tentar proteger os seus bairros na capital Nouméa, e além dela.
Na mensagem vídeo, Tein apelou aos manifestantes para "aligeirarem ligeiramente o controlo" nas barricadas em Nouméa, os seus subúrbios e ao longo das principais estradas do arquipélago, para garantir o transporte de combustível, alimentação, medicamentos e facilitar o acesso a cuidados de saúde aos habitantes.
No entanto, Tein insistiu que as barricadas vão manter-se até que as autoridades francesas levantem a detenção domiciliária de vários dos membros do partido e Macron rasgue a reforma eleitoral que os Kanaks temem vir a diluir a sua influência ao alargar o poder de voto a recém-chegados ao arquipélago.
"Permanecemos mobilizados e mantemos todas as formas de resistência", disse Tein, que instou os apoiantes a manterem-se firmes e a absterem-se de violência.
"Houve demasiado sofrimento, está demasiado em jogo e temos de levar isto até ao fim e alcançar os nossos objetivos de forma coordenada, estruturada e organizada", disse o líder partidário, acrescentando: "O nosso objetivo principal é que o nosso país consiga a soberania total".
Barricadas feitas de veículos carbonizados e outros destroços transformaram zonas de Nouméa em zonas de exclusão e de circulação perigosa, incluindo para doentes em busca de tratamento médico e famílias em busca de alimentos e água, depois de as lojas terem sido pilhadas e incendiadas.
Nos últimos sete meses, o partido de Tein organizou grandes marchas pacíficas na Nova Caledónia contra a reforma eleitoral de Macron, tendo os protestos começado há duas semanas depois de uma manifestação contra a legislação em discussão no parlamento francês se ter tornado violenta.
A reforma já foi aprovada nas duas câmaras do parlamento francês e o passo seguinte seria uma reunião de ambas as câmaras em Versalhes para implementar a emenda à Constituição de França, o que era esperado para o fim de junho.
A população indígena Kanak da Nova Caledónia, que há muito luta pela independência, acusou a França de avançar com a controversa reforma sem ter em conta a forte oposição da maioria dos habitantes do território.
Durante uma visita ao território na quinta-feira, Macron anunciou uma pausa na reforma até que a situação acalme e as conversações políticas possam ser retomadas.
Macron apelou aos líderes locais para elaborarem um acordo alternativo para o futuro do arquipélago e apontou caminhos que disse poderem levar a outro referendo no território.
A Nova Caledónia tornou-se francesa em 1853, no reinado do imperador Napoleão III, sobrinho e herdeiro de Napoleão. Tornou-se um território ultramarino após a II Guerra Mundial, tendo a cidadania francesa sido garantida aos Kanak em 1957.
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