A sondagem divulgada pela estação pública RTE após o encerramento das urnas, às 22:00 (mesma hora em Lisboa), confirmou a igualdade das três grandes formações e abre a possibilidade de centristas (Fianna Fail) e democratas-cristãos (Fine Gael) reeditarem a histórica coligação governamental dos últimos quatro anos, na qual também entraram os Verdes.

A contagem terá início no sábado e os primeiros resultados provisórios poderão ser conhecidos a meio da tarde, o que dará uma ideia do número de lugares que os partidos obterão com base na transferência de votos entre candidatos, conforme permitido pelo complexo sistema eleitoral irlandês.

Harris alertou hoje que estão pela frente "vários dias fascinantes", lembrando que as sondagens podem apontar para um partido com mais votos, o que não significa que acabará por ter mais lugares na câmara baixa (Dáil), composta por 174 deputados.

Foi o que aconteceu com a líder do Sinn Féin, partido nacionalista de esquerda e da oposição, Mary Lou McDonald, que ganhou o voto popular em 2020, mas ficou um lugar atrás do Fianna Fáil após a transferência de votos.

O fracasso da líder nacionalista em formar um Governo deu lugar à histórica coligação entre centristas e democratas-cristãos, rivais desde a Guerra Civil (1922-1923), que partilham o poder desde então.

"Comparem isto com o sistema britânico. O relógio do Big Ben toca às 10 horas e a Sky News diz quem ganhou. O nosso sistema é diferente", destacou o primeiro-ministro ('taoiseach') ao votar de manhã na abertura das urnas no seu círculo eleitoral do condado de Wicklow, a sul de Dublin.

As últimas sondagens tinham dado aos três partidos um apoio de cerca de 20%, um empate técnico causado pela queda de popularidade de Harris - até recentemente o favorito -, pelo regresso de McDonald e pela estabilidade de Martin, vice-primeiro-ministro e 'taoiseach ' entre 2020 e 2022.

Por esta razão, Martin declarou-se hoje "cautelosamente otimista" quanto às suas possibilidades de vitória, dado que é o candidato mais popular quando se trata de receber transferências de votos de outros partidos e candidatos, a tal ponto que mesmo os democratas-cristãos, internamente, o darem como favorito.

Por seu lado, McDonald destacou ainda o seu "otimismo, esperança, confiança e ambição" para se tornar, após a recontagem, a primeiro líder do Sinn Féin a chegar ao poder em Dublin e acabar com a hegemonia dos dois grandes partidos.

Perante tanta igualdade, os três partidos serão obrigados a procurar pactos entre si e/ou com outras forças minoritárias, enquanto Harris e Martin se mostraram favoráveis à reedição, se necessário, do pacto da última legislatura, em que os Verdes entraram, embora já tenham descartado o Sinn Féin.

Os três líderes podem também olhar para o bloco independente, que obtém 14,6% dos votos, enquanto formações como o Partido Trabalhista e os social-democratas recebem 5 e 5,8%, respetivamente, e são apresentadas como possíveis parceiros.

Durante a campanha, os democratas-cristãos e os centristas destacaram o bom progresso da economia e apelaram ao voto para manter a estabilidade financeira num país próspero, mas afectado por uma grave crise habitacional, pela deterioração dos serviços públicos e pela recuperação da imigração.

Por seu lado, o Sinn Féin, que foi a ala política do grupo paramilitar Exército Republicano Irlandês (IRA, na sigla inglesa), que lutou durante décadas contra os britânicos na Irlanda do Norte, até ao acordo de paz de 1998, voltou a colocar estes problemas no centro do seu programa para tentar repetir o sucesso eleitoral de há cinco anos, ao qual acrescentou agora um plano para realizar um referendo sobre a reunificação da Irlanda antes de 2030.

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