Merkel revela como lidava com Trump (e conselho do Papa Francisco)
A ex-chanceler alemã contou que não ficou com uma "boa sensação" sobre Donald Trump durante a sua visita à Casa Branca, em 2017. "Concluí das minhas conversas: Não haveria trabalho conjunto para um mundo em rede com Trump", lamentou.
© PETER NICHOLLS/AFP via Getty Images
Mundo Angela Merkel
A ex-chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que esteve no cargo durante 16 anos, até 2021, revelou como lidou com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o primeiro mandato do republicano na Casa Branca, entre 2017 e 2021.
No seu próximo livro de memórias, cujos excertos foram publicados pelo semanário alemão Die Zeitn e citados pelo POLITICO, Merkel - que se tem mantida afastada da opinião pública - lembrou as primeiras interações que teve com Trump, incluindo quando ameaçou sair do Acordo de Paris sobre alterações climáticas.
"Ele julgava tudo na perspetiva do empresário imobiliário que tinha sido antes da política", escreveu no seu livro intitulado 'Freiheit' ('Liberdade'), que será publicado no dia 26 de novembro em 30 países. "Cada propriedade só podia ser atribuída uma vez. Se ele não a conseguisse, outra pessoa conseguiria. Era também assim que ele via o mundo".
Segundo Merkel, para Trump, "todos os países estavam em competição uns com os outros, em que o sucesso de um era o fracasso do outro". "Não acreditava que a prosperidade de todos pudesse ser aumentada através da cooperação", apontou.
A antiga líder da União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão) contou que chegou a pedir conselhos ao Papa Francisco sobre como lidar com Trump, na altura em que este ameaçou retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, que foi assinado em 2015 por 194 países e pela União Europeia.
"Sem citar nomes, perguntei-lhe como lidaria com opiniões fundamentalmente diferentes num grupo de personalidades importantes", adiantou Merkel, acrescentando que o pontífice a compreendeu "imediatamente".
"Respondeu-me de forma direta: 'Curve-se, curve-se, curve-se, mas certifique-se de que não se parte'", recordou.
"Gostei desta imagem. Repeti-a para ele. 'Curve-se, curve-se, curve-se, mas certifique-se de que não se parte'. Neste espírito, eu tentaria resolver o meu problema com o Acordo de Paris e Trump em Hamburgo", frisou.
No livro, a ex-líder alemã recordou o encontro que teve com Trump na Casa Branca, em março de 2017, apenas poucos meses após o então presidente ter tomado posse.
"Falámos a dois níveis diferentes. Trump a um nível emocional, eu a um nível factual", escreveu Merkel. "Quando ele prestava atenção aos meus argumentos, normalmente era apenas para construir novas acusações a partir deles".
De regresso à Alemanha, a ex-chanceler afirmou não ter tido uma "boa sensação" sobre o presidente norte-americano. "Concluí das minhas conversas: Não haveria trabalho conjunto para um mundo em rede com Trump".
No mesmo encontro, recordou ainda Merkel, Trump perguntou-lhe a sua opinião sobre o presidente da Rússia, Vladimir Putin. "Donald Trump fez-me uma série de perguntas, incluindo sobre as minhas origens na Alemanha de Leste e a minha relação com Putin", escreveu, frisando que "ele estava obviamente muito fascinado pelo presidente russo".
"Nos anos que se seguiram, tive a impressão de que os políticos com traços autocráticos e ditatoriais o cativavam", acrescentou.
Sublinhe-se que Angela Merkel foi considerada a mulher mais poderosa do mundo pela revista Forbes durante mais de 10 anos consecutivos. Foi chanceler da Alemanha, a maior economia da Europa, entre 2005 e 2021, sendo substituída por Olaf Scholz.
Escrito em colaboração com a sua antiga chefe de gabinete e assessora política Beate Baumann e lançado pela editora Kiepenheuer & Witsch, o livro terá 700 páginas e faz uma retrospetiva da sua vida em dois Estados alemães: "35 anos na Alemanha de leste e 35 anos na Alemanha reunificada".
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