Comandos: Médico pediu retirada "emergente, mas não urgente" de recrutas
O comandante da Companhia de Formação do curso de Comandos em que morreram dois recrutas disse hoje em tribunal que o médico de serviço pediu a retirada "emergente, mas não urgente" dos recrutas.
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País Curso
Os recrutas Dylan da Silva e Hugo Abreu morreram durante um treino. De acordo com as declarações do comandante da Companhia de Formação, capitão Rui Passos Monteiro, o recruta Hugo Abreu morreu 02:45 horas depois do pedido de retirada pelo médico de serviço.
Rui Passos Monteiro contou em tribunal que, pelas 15:50 de 04 de setembro de 2016, e após vários instruendos apresentarem dores e sintomas de mal-estar, foi informado de que já estavam "cerca de vinte" recrutas na tenda médica.
Na terceira sessão do julgamento do processo sobre a morte dos dois recrutas, que decorre em Lisboa, o oficial do exército explicou que, depois de se reunir com os instrutores dos quatro grupos, informou o diretor do curso, tenente-coronel Mário Maia, também arguido, de que "não havia condições" para prosseguir o curso, razão pela qual decidiram não realizar a última instrução do dia e marcar o reinício do curso para essa noite, devido ao calor.
Acrescentou que, pelas 19:00 desse dia, durante a hora de jantar, o capitão médico Miguel Domingues, responsável pela equipa sanitária e também arguido, informou "da necessidade" de retirar dois instruendos para o Hospital das Forças Armadas (HFAR), no Lumiar, utilizando a expressão: "evacuação emergente, mas não urgente".
O capitão Rui Monteiro depreendeu dessa expressão que a retirada dos dois instruendos - os quais não sabia, naquele momento, tratar-se dos recrutas Hugo Abreu e Dylan da Silva - não tinha de ser feita de imediato, além de que era ainda preciso trocar a roupa aos dois militares pois, no passado, já tinha havido críticas por instruendos destes cursos aparecerem com "roupa suja" no HFAR.
O arguido relatou perante o coletivo de juízes que pelas 20:45 foi informado pelo tenente-coronel Mário Maia, diretor do curso, de que a prova "tinha de parar" pois havia "um instruendo em paragem cardiorrespiratória".
Após receber esta informação, o capitão Rui Monteiro dirigiu-se para a tenda médica, onde, pelas 21:00, o segundo furriel Hugo Abreu "estava a receber manobras de reanimação" de dois enfermeiros, acrescentando que o capitão médico Miguel Domingues "não estava".
Em resposta ao procurador do Ministério Público (MP) José Nisa, o arguido reconheceu que houve um período durante o qual "não houve médico" no Campo de Tiro de Alcochete, admitindo que o capitão Miguel Domingues se tenha deslocado, nesse período, ao HFAR.
Pelas 21:25 chegou a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), com um médico e um enfermeiro, que, de imediato, continuaram com as manobras de reanimação. O óbito de Hugo Abreu viria a ser declarado no local às 21:45.
Só depois de declarada a morte deste recruta, é que os elementos da VMER passaram para o soldado Dylan da Silva que também precisava de "auxilio" e que acabaria por ser retirado numa ambulância para o HFAR, onde viria a morrer alguns dias depois.
O capitão Rui Monteiro disse ainda que o então comandante do Regimento de Comandos, Coronel Dores Moreira, chegou ao Campo de Tiro de Alcochete pelas 22.30 e os inspetores da Polícia Judiciária Militar já depois da meia-noite.
O comandante da Companhia do 127.º curso de Comandos afirmou não ter visto, durante as rondas que fez pelas instruções dos quatro grupos, nos dias 03 e 04 de setembro, qualquer tipo de "maus tratos" cometidos pelos instrutores que estavam sob a sua alçada.
Acerca da água, o capitão Rui Passos Monteiro relatou que o guião da 'Prova Zero' estipulava três litros (três cantis), mas que na reunião preparatória ficou acordado que se poderia aumentar a quantidade para cinco litros (cinco cantis). Sobre as altas temperaturas previstas para os dias do curso, este oficial revelou não ter recebido nenhum tipo de alerta em relação às condições climatéricas.
O coletivo de juízes, presidido por Helena Pinto, interrompeu a sessão ao final da tarde de hoje, prosseguindo na quinta-feira a audição do capitão Rui Monteiro.
O tribunal aceitou realizar uma inspeção judicial aos locais onde se realizaram o 127.º curso de Comandos, no Campo de Tiro de Alcochete e indeferiu um requerimento dos assistentes para que os arguidos prestassem declarações na ausência dos restantes militares.
O MP requereu a inquirição como testemunha um dos inspetores da Polícia Judiciária Militar responsáveis pela investigação que, "por lapso", não constava das 99 testemunhas arroladas no despacho de acusação.
Os oito oficiais, oito sargentos e três praças, todos militares do Exército do Regimento de Comandos, a maioria instrutores, estão acusados, ao todo, de 539 crimes de abuso de autoridade por ofensa à integridade física.
Dylan da Silva e Hugo Abreu, à data dos factos ambos com 20 anos, morreram e outros instruendos sofreram lesões graves durante a denominada 'Prova Zero' (primeira prova do curso de Comandos) do 127.º curso de Comandos, que decorreu na região de Alcochete, distrito de Setúbal, a 04 de setembro de 2016.
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