Violência doméstica: "Contem a alguém" é o conselho de alunos de Lourosa
Alunos de uma escola do concelho de Santa Maria da Feira protagonizaram hoje duas performances artísticas contra a violência doméstica, apelando a que as vítimas "contem a alguém" o problema com que se deparam.
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País Performance
O tema foi abordado na Escola Básica do 2.º e 3.º Ciclos António Alves Amorim, na freguesia de Lourosa, e assinalou o primeiro Dia de Luto Nacional pelas Vítimas de Violência Doméstica, num registo informal perante cerca de 70 estudantes do 5.º ao 9.º ano, 20 professores e funcionários, e a secretária de Estado da Educação, Alexandra Leitão.
As duas performances foram concebidas e encenadas pelos jovens que integram os grupos de teatro e música dessa escola, que é frequentada por cerca de 500 estudantes, e uma das alunas envolvidas no processo defendeu que o melhor conselho a dar às vítimas de violência doméstica é "que contem a alguém".
Isa Oliveira tem 14 anos, frequenta o 9.º ano de escolaridade, é também "jovem autarca" no concelho e explicou à Lusa: "Pode ser difícil falar, porque as pessoas podem não querer perceber ou até julgar-nos, mas é preciso que quem passa por isto fale com alguém, porque estamos todos a lutar contra o mesmo mal".
Para explorar a temática em causa, os alunos dos grupos de teatro e música afetos ao programa Eramus+ desenvolveram coreografias e canções em que as atitudes agressivas de um homem sobre a mulher e respetivos filhos só terminou com a interferência de um elemento externo à família.
Para Isa Oliveira, o mais difícil na produção da performance foi transmitir emoções sem recorrer a diálogo, pelo que "os gestos e as expressões faciais tiveram que ser exagerados para as pessoas perceberem o que se queria contar". Após alguns ensaios, contudo, a mensagem ficou clara e beneficiou sobretudo os alunos do 5.º e 6.º anos, porque, "como são mais pequenos, antes desta experiência não tinham tanta noção do que é realmente a violência doméstica".
A secretária de Estado Alexandra Leitão concorda que serão os mais jovens a assegurar uma efetiva mudança de comportamento no futuro e disse isso mesmo aos estudantes, numa linguagem que todos percebessem: "Temos que pôr todas as fichas na vossa geração, para que não sejam perpetuados nem sequer tolerados estes comportamentos [abusivos]".
Realçando que o combate à violência doméstica também passa por fazer enraizar nos mais jovens uma plena noção quanto aos seus direitos humanos, em especial o direito à igualdade de género, que está na génese da maioria das agressões em contexto familiar, a governante apelou depois a que as escolas complementem a aprendizagem teórica com ensinamentos práticos.
"Não basta que os jovens conheçam os seus direitos - também é preciso que saibam como se proteger e como proceder quando veem esses direitos violados", afirmou.
Alexandra Leitão acredita que essa aprendizagem estará a ser "multiplicada pelas diversas escolas do país", onde o assunto já era abordado anteriormente, mas reconhece que o tema vem ganhando nova e redobrada atenção considerando que "Portugal teve um número absolutamente assustador de vítimas mortais de violência doméstica só nestes primeiros dois meses do ano, o que reflete uma situação de gravidade extrema".
O conselho de Isa Oliveira quanto à necessidade de as vítimas partilharem as suas angústias é particularmente adequado porque, como notou a secretária de Estado, além das mortes já confirmadas em janeiro e fevereiro de 2019, "há ainda todas aquelas situações que não chegam aos jornais ou que não se traduzem na perda de uma vida, mas que continuam a ser insuportáveis para o nível de civilização que se quer para o país".
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