Ana Rita precisa de 84 mil euros para travar cancro. "Pelos meus filhos"
A enfermeira, de 41 anos, lançou uma angariação de fundos no 'Go Fund Me'. Até dia 3 de maio tem de informar a oncologista se vai ou não iniciar o tratamento que não é comparticipado pelo SNS.
© Go Fund Me / Ana Rita Campos
País Cancro da mama
A luta de Ana Rita começou há quase um ano, mas a enfermeira, de 41 anos, ainda se comove quando fala de como tudo começou. A alegria de um abraço apertado ao filho mais velho foi substituída por uma forte dor numa das mamas. De imediato, passou-lhe o pior pela cabeça. Mas como ainda amamentava a filha mais nova, manteve a esperança de que se tratava de um problema relacionado com a amamentação.
Com a experiência que adquiriu ao longo dos anos, como mãe de segunda viagem e profissional de saúde, iniciou de imediato os tratamentos adequados a mastites e ductos mamários obstruídos. Contudo, a dor não melhorou. Pelo contrário. Além de ficar pior, a zona começou a ficar vermelha e a mama deformada. E aí Ana começou a ficar realmente preocupada.
Seguiram-se várias consultas e exames e, algumas semanas depois, o tão temido diagnóstico. Ana tinha cancro. Não numa mas nas duas mamas - carcinoma invasivo da mama e bilateral - e já com o comprometimento de gânglios linfáticos e de tecidos exteriores aos gânglios, o que agrava o risco de metástases. "Nós temos sempre a esperança que seja outra coisa e caiu-me o chão nesse dia", confessa, com a voz embargada, em entrevista ao Notícias ao Minuto.
Seguiram-se os tratamentos – quimio e radioterapia - e as cirurgias – mastectomia às duas mamas e esvaziamento da axila. Contudo, o cancro de Ana é "muito agressivo" e, tal como nos conta a enfermeira, a probabilidade de voltar, mas desta vez a um órgão vital - como pulmões, fígado ou cérebro - e aos ossos, nos próximos dez anos, "é muito elevada" e pode ser fatal.
Esperança reside num tratamento que custa 84 mil euros
Perante este cenário, a oncologista que a segue e que exerce no Hospital da Luz, em Lisboa, propôs-lhe realizar um tratamento alternativo - Abemaciclib (Verzenius) em combinação com hormonoterapia - durante dois anos. O problema é que este, apesar de já ter sido aprovado pelas sociedades de oncologia europeia e americana e estar a ser utilizado noutros países para prevenção, como é o caso do Reino Unido, em Portugal é apenas comparticipado para doentes em cuidados paliativos.
A única alternativa é fazer o tratamento no privado, mas este custa 3.500 euros por mês e tem de ser feito durante dois anos. Ou seja, no total, o tratamento vai custar a Ana 84 mil euros, um valor financeiramente insustentável para a família Campos, que vive em Odivelas.
Apesar disso, Ana e o marido não baixaram os braços. Criaram uma página no Go Fund Me onde contaram a sua história, pedindo a ajuda a todos os que queiram (e possam) ser solidários. Em sete dias, já conseguiram angariar 33 mil euros. O que a deixou surpreendida e agradecida.
"Tem sido uma onda amor e generosidade incrível. As pessoas mandam-me mensagem a dizer que vai correr bem, que ajudaram e contribuíram, que partilharam. Estou super surpreendida porque as pessoas ainda fazem muito umas pelas outras. Algumas pessoas conhecem-me mas há muitos que não me conhecem. E realmente a adesão tem sido fantástica. Nunca me passou pela cabeça em sete dias conseguir tanto. Claro que não é o suficiente mas tem sido incrível as pessoas unirem-se para ajudar os outros", salienta.
'Ok' a tratamento tem de ser dado até dia 3 de maio
No entanto, para Ana poder financiar o tratamento, ainda falta mais do dobro do valor do mesmo. E tem apenas até dia 3 de maio para decidir se vai iniciá-lo ou não.
"Dia 3 de maio tenho de dar a confirmação à minha médica. A minha médica diz que a partir do momento que começo, tenho de terminar porque os estudos têm resultado é para tratamentos feitos durante dois anos, não menos do que isso. Podemos pagar por mês, não preciso pagar logo tudo. A minha esperança é ir conseguindo aos poucos", explica Ana ao Notícias ao Minuto, acrescentando que tem consciência de que o Abemaciclib não lhe dá "100% de certezas de não voltar a ter cancro".
"Nada me garante que eu não volte a ter cancro mas eu quero ter a certeza de que fiz tudo para estar mais tempo viva. Pelos meus filhos… a acompanhá-los. Quero vê-los chegar a adultos", diz, emocionada.
"Temos de lutar por todos nós"
Além de querer angariar dinheiro para o tratamento, ao expor o seu caso, Ana pretende também dar força (e esperança) a quem passa pelo mesmo.
"Tenho esperança de que esta minha situação também seja um exemplo. Se calhar há muitas pessoas que já passaram por isto e que viram que não tinham hipóteses de pagar e pronto, não o fizeram. Nós temos de lutar também por todos nós. Isto é para todos. Se todos reclamarmos será mais rápido o acesso a estes tratamentos. Estou na esperança que isto também ajude outras mulheres na mesma situação que eu. Que o Infarmed autorize mais rapidamente e que este tratamento seja comparticipado para estas situações também", realça.
Além da angariação de fundos na plataforma 'Go Fund Me', em breve Ana vai leiloar o quadro que um artista de renome lhe ofereceu para este propósito. Além disso, se a quiser ajudar também pode fazê-lo para a conta com o NIB 0061 0050 0552 4740 5004 8.
Financiamento do Verzenios no SNS "encontra-se em avaliação"
Em esclarecimento ao Notícias ao Minuto, o Infarmed confirmou que o Verzenios está financiado e é utilizado nos hospitais do SNS, mas apenas em dois casos:
- "Tratamento de mulheres com cancro da mama metastático ou localmente avançado com recetor hormonal (HR) positivo e recetor do fator de crescimento epidérmico humano tipo 2 (HER2-) negativo, em combinação com fulvestrant em mulheres que receberam anteriormente uma terapêutica endócrina";
- "Tratamento de mulheres pós-menopausa com cancro da mama metastático ou localmente avançado com recetor hormonal (HR) positivo e recetor do fator de crescimento epidérmico humano tipo 2 (HER2-) negativo, em combinação com um inibidor da aromatase como terapêutica endócrina inicial".
Contudo, segundo o instituto a utilização deste medicamento "encontra-se em avaliação para efeitos de financiamento em combinação com terapêutica endócrina", algo que é indicado para o "tratamento adjuvante de doentes adultos com cancro da mama precoce com recetor hormonal (HR)-positivo, recetor do fator de crescimento epidérmico humano tipo 2 (HER2)-negativo, com gânglios positivos e com elevado risco de recorrência (ver secção 5.1). Em mulheres pré- ou peri-menopáusicas, a terapêutica endócrina com um inibidor da aromatase deve ser combinada com um agonista da hormona de libertação da hormona luteinizante (LHRH)".
[Notícia atualizada às 11h06 do dia 2 de maio, com o esclarecimento do Infarmed sobre o uso do Abemaciclib (Verzenius)]
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