"Solução governativa tem feito o que muitas vezes os portugueses pediam"
O socialista Ivan Gonçalves é um dos entrevistados desta semana do Vozes ao Minuto.
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Política Ivan Gonçalves
Ivan Gonçalves, recentemente eleito líder da Juventude Socialista, concedeu uma entrevista ao Notícias ao Minuto onde falou sobre a relevância das boas relações entre JS e PS e sobre a forma como a juventude partidária complementa a agenda do partido. O responsável pelos jovens militantes do PS analisou a atual governação e a posição da Direita em relação à mesma, classificando a posição de Marcelo Rebelo de Sousa de equilibrada e boa para o país.
A ligação entre PS e JS pode ser um entrave à discussão de certas propostas no seio da juventude do partido?
A nossa agenda não é diferente, é complementar. Somos perfeitamente solidários com a agenda do PS e até com a forma como o PS tem exercido este Governo, que acho que tem excedido as expectativas dos portugueses.
Mas não acho que seja um entrave, porque nós temos as nossas discussões de forma perfeitamente aberta. Aliás, na questão da prostituição, da regulação do trabalho sexual, o PS tradicionalmente é mais conservador e portanto há menos predisposição para discutir esses temas. Mas mesmo dentro da JS, estes temas muitas vezes tiveram de ser discutidos para que chegássemos a uma posição mais ou menos transversal que nunca é unânime. Por exemplo, quando nós defendíamos publicamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, alguns militantes da JS tinham algumas reservas, mas não era essa a posição da maioria e da estrutura.
Fomos conseguindo mudar a mentalidade dentro do PS. A regulamentação da prostituição ou da eutanásia vai seguir o mesmo caminho do casamento entre pessoas do mesmo sexoQuando conseguimos fazer essa transformação é importante, mas faz-se pela discussão dos temas. Fomos conseguindo também mudar a mentalidade dentro do PS. Hoje em dia, o PS aceita, na sua esmagadora maioria, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, isso não acontecia há seis/oito anos. É o caminho que vai seguir a regulamentação da prostituição ou da eutanásia. A questão passa por discutir os temas e explicá-los e aí conseguimos quebrar o preconceito.
Se há uma desigualdade que prejudica uma minoria, tem de ser uma preocupação da JS e do PS dar resposta a isso. Mas não condiciona nada a nossa relação com o PS, nós temos as nossas posições, grande parte dos militantes do PS aborda-nos dizendo que está plenamente de acordo com a nossa posição e o contrário também é verdade, mas não há qualquer tipo de condicionamento. Vamos fazendo o nosso caminho e habitualmente acabamos por ter razão e estar do lado certo da história na transformação da sociedade portuguesa, sendo pioneiros em assuntos que acabam por ser tidos como normais.
Tem um lugar na Assembleia da República assim como outros dois deputados da JS. De que forma essa posição é relevante para que as questões da JS sejam ouvidas e mais facilmente discutidas no Parlamento?
Essa posição ajuda mas também tem outra vertente. Nós, sendo deputados do PS, temos de ter atenção à forma como lidamos com os temas ou como os apresentamos na Assembleia da República. Temos a nossa agenda mas também temos uma agenda em compatibilizá-la com a do PS e não agimos como um grupo parlamentar autónomo. Tive a sorte de ser um dos primeiros secretários-gerais da JS eleitos já enquanto deputado e isso facilita em grande parte o nosso trabalho na Assembleia.
Habitualmente acabamos por ter razão e estar do lado certo da história na transformação da sociedade portuguesaQue propostas estão a ser pensadas pela JS que possam ser discutidas no Parlamento?
Tudo aquilo que temos vindo a falar são temas que vão sendo discutidos com o Grupo Parlamentar do PS e também com o Governo, já que temos essa relação tripartida, no sentido de que possamos transformá-los em iniciativas parlamentares. Não há uma questão particular que esteja a ser discutida, há várias que temos em cima da mesa e tentaremos que tenham alguma resposta. Há um caminho que é preciso ser feito em todas as propostas, estamos cientes disso, habitualmente estas mudanças não se fazem de forma abrupta até porque exigem alguns debates. Estamos certos de que fazendo estes trabalhos conseguimos levar a nossa agenda adiante.
Enquanto líder da JS, como olha para o atual Governo e para a solução arranjada e, até agora, maioritariamente eficaz?
Esta solução governativa tem o mérito de permitir que todos os partidos mantenham aquilo que são as suas posições em alguns dos casos divergentes. Esta solução tem feito aquilo que muitas vezes os portugueses pediam, que era que os partidos colocassem de lado algumas divergências e se entendessem. É, de facto, isso que está a acontecer. O Bloco de Esquerda, o Partido Comunista, 'Os Verdes' e o PS não pensam de forma igual sobre todos os temas, mas conseguiram colocar de lado algumas das suas divergências e ao mesmo tempo estabeleceram uma agenda comum que acho que acaba por ser mais benéfica para o país.
Sabemos que a nossa situação não é das mais fáceis, grande parte da Europa tem um preconceito para com os países do Sul, temos uma economia periférica frágil, se houver um problema no mundo sabemos que somos dos países europeus mais expostos e não estamos livres de que volte a acontecer, mas sabemos que o país tendo um défice tão baixo como vai ter este ano está a cumprir aquilo que são os tratados orçamentais e os acordos externos e, ao mesmo tempo, está a devolver os rendimentos que tinham sido cortados e a mostrar que é possível ter contas públicas saudáveis sem que sejam feitos cortes nos mesmos: classe média e baixa.
O que este Governo tem vindo a fazer é devolver salários, acabar com a sobretaxa, ao mesmo tempo que tem as melhores contas que Portugal alguma vez teve desde o 25 de Abril. Nós estamos a fazer a nossa parte e agora é preciso que a nível internacional não exista nenhum problema.
A Esquerda glorifica-se pelos resultados atuais, mas a Direita garante que não são assim tão positivos...
A Direita, especialmente o PSD, ainda não encontrou uma narrativa para esta passagem para a oposição e teve grande dificuldade em perceber que se a maioria dos portugueses não a quer a governar, não devia estar a governar. A maioria dos portugueses votou em partidos que rejeitavam esta solução e, portanto, esses partidos souberam entender-se e formaram Governo. Logo aí, se recuarmos um ano, o discurso era de ilegitimidade deste Governo e que não tinha base social de apoio e o que temos vindo a perceber é exactamente o contrário. Depois, o discurso era de que este Governo não teria credibilidade lá fora e que as instâncias europeias iam rejeitar as políticas deste Governo que eram demasiado expansionistas.
A Direita ainda não encontrou uma narrativa para esta passagem para a oposiçãoNaturalmente, é difícil que PSD e CDS tenham uma narrativa que tente contrariar estes bons resultados. É óbvio que acho que neste momento eles estão apostados em que tudo corra mal a Portugal. O PSD está a apostar tudo para que as coisas corram mal na Europa e em Portugal para que este Governo não tenha sucesso. Isto é das poucas opções que a liderança do PSD vai tendo e isso é mau para os portugueses porque se as coisas correrem mal na Europa, correm necessariamente mal para os portugueses e não é isso que nós desejamos.
Mas PSD e CDS já aceitaram a decisão política em que estamos inseridos?
Não, acho que ainda hoje existe alguma dificuldade. Acho que já aceitaram o facto de estarem na oposição mas existe alguma dificuldade em reconhecer o mérito a este Governo, porque o PSD e CDS passaram quatro anos convencidos de que não havia alternativa para o país a não ser aplicar as medidas de austeridade que aplicaram, e este Governo num ano mostrou que havia outra forma de consolidar as contas públicas. Parece que os partidos à nossa Direita ficaram um bocadinho sem chão, porque nem eles próximos sabem explicar porque é que as coisas correm tão bem, porque é que o emprego baixa, o défice é tão baixo. Mas isso é uma coisa que diz pouco aos portugueses, o que interessa aos portugueses é se a situação está a correr bem e neste momento parece-me que está.
O PSD está a apostar tudo para que as coisas corram mal na Europa e em Portugal para que este Governo não tenha sucessoMarcelo Rebelo de Sousa tem contribuído, de facto, para que os ânimos nacionais estejam mais calmos?
O Presidente tem tido uma posição moderada, que os partidos não têm tido, de reconhecer que há um Governo que está a fazer bem a sua função e a cumprir com os acordos orçamentais, com o programa de Governo - e este é, porventura, o primeiro Governo desde há muitos anos que cumpriu exactamente aquilo que prometeu em campanha eleitoral. O Presidente tem agido no sentido de descrispar. O PSD e o CDS têm tentado continuar essa crispação.
Mas está a levar o Governo 'ao colo' como se tem ouvido?
Não acho que esteja a levar o Governo ao colo, não está a obstaculizar, está a dar suporte quando entende que isso é necessário e as medidas que o Governo toma são tomadas pelo Governo. Claro que é importante que o Presidente não obstaculize e crie condições para que exista paz social e acho que isso tem acontecido.
Olhando para o futuro, crê que esta solução está a beneficiar o PS e que pode ir às urnas nas próximas eleições?
Não, acho que não faz muito sentido que falemos numa coligação entre os quatro partidos, porque têm visões diferentes da sociedade, programas de governo diferentes e necessariamente isso deve traduzir-se numa ida às urnas separada, em que os portugueses atribuam a cada um o peso que acham que este deve ter. Depois esses acordos devem ser feitos à posteriori e acho que há condições para se manterem no futuro, tendo cada força partidária o peso que os portugueses lhe derem.
*Pode ler a segunda parte desta entrevista aqui.
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