BBC anuncia reestruturação, com supressão de mil empregos e mais digital
A BBC anunciou uma reestruturação forte, devida a constrangimentos orçamentais, com a supressão de mil postos de trabalho e a aceleração da transformação digital, com fusão de canais e passagem de outros para a transmissão pela internet.
© Reuters
Tech BBC
Depois de nos últimos anos ter sido sujeito a vários planos de poupança e ao envelhecimento das suas audiências, o conglomerado do audiovisual público, instituição cuja influência vai bem além das fronteiras britânicas, viu o seu horizonte financeiro deteriorar-se este ano, com a decisão do governo conservador de congelar o valor da taxa paga pelos telespetadores, durante dois anos.
As notícias anunciadas hoje pela instituição, em comunicado, pretendem também economizar 500 milhões de libras (586 milhões de euros) por ano, dos quais 200 milhões para tapar a maior parte do défice criado pela decisão governamental.
O restante deve ser investido no digital "para construir uma BBC que dê a prioridade ao digital, algo verdadeiramente novo (...), uma força positiva para o Reino Unido e o mundo", afirmou o diretor-geral, Tim Davie, dirigindo-se aos trabalhadores.
Está prevista a criação de uma cadeia noticiosa única - BBC News -- para as audiências britânica e internacional, que hoje estão separadas, "salvaguardando a possibilidade de difundir conteúdos distintos, conforme os acontecimentos".
O grupo vai deixar de difundir em antena a sua cadeia para crianças CBBC, dedicada ao grupo etário 6-12) e a cultural BBC 4, que passarão a ser transmitidas em linha.
Alguns serviços em língua estrangeira também vão passar a ser emitidos apenas em linha e a difusão rádio por ondas longas vai ser suprimida.
No conjunto, estas decisões implicam a eliminação de mil postos de trabalho, dos 22 mil existentes.
A 'venerável' BBC está a atravessar um período difícil, devido às mudanças de hábitos de consumo das suas audiências, com a emergência da Netflix ou da Disney+ e as relações difíceis com o governo conservador, agravadas agora com a nomeação para o Ministério da Cultura de Nadine Dorries, claramente hostil ao audiovisual público.
Esta decidiu, em janeiro, congelar durante dois anos o valor da taxa para o audiovisual, de 159 libras (185 euros) e questionou o prolongamento no tempo deste modo de financiamento mal-amado, em particular em tempos de inflação histórica.
O poder conservador acusa a BBC de ter coberto o Brexit de maneira parcial, com um enviesamento a favor da saída da União Europeia.
Acusa-a também, de forma geral, de estar centrada nas preocupações das elites urbanas, mais do que nas classes populares.
O anúncio do plano de transformação coincide com o lançamento de uma revista da missão do grupo público por Nadine Dorries, personalidade muito conservadora e um dos membros do governo mais leais a Boris Johnson, durante a recente série de escândalos.
Com aquela revista da missão da BBC, o governo conservador quer "tornar a BBC mais imparcial, mais acessível e a refletir melhor da diversidade das opiniões".
Outro objetivo é uma obrigação legal de 25% do pessoal ser proveniente das 'classes populares' e a maioria dos programas ser produzida fora de Londres até 2027, além de se conceber o fim da taxa a partir de 2028.
O presidente da BBC, Richard Sharp, sublinhou que a empresa enfrenta "uma questão existencial".
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