Depois de quatro anos na estrutura da equipa do ProTour, Tiago Machado saiu, desceu de divisão ao assinar pela NetApp-Endura, e abriu, finalmente, o livro de queixas relativo ao passado.

Ainda que negue qualquer desilusão ou ressentimento em relação à equipa de Fabian Cancellara e dos irmãos Schleck, o ciclista de Famalicão deixa transparecer o seu descontentamento: "Passei quatro anos fantásticos lá, não é por uma época menos conseguida que saio de lá frustrado ou triste. Se saí triste foi só com o meu rendimento, que não foi o que eu esperava, mas também não dependia de mim, porque apenas fazia o que me mandavam".

Se em anos anteriores, "Tiaguinho", como é conhecido no pelotão, negava que a Volta a França fosse um sonho, este ano, e depois de a equipa alemã ter sido uma das convidadas para a próxima edição da prova francesa, não tem problemas em afirmar que quer estar presente.

"Estou satisfeito e é um fator motivante para trabalhar ainda mais, de forma a merecer a confiança dos responsáveis da equipa para poder estar no Tour deste ano", começou por dizer, recordando, no entanto, que a participação não depende apenas da sua vontade.

Machado acredita que tem valor para estar entre os grandes do ciclismo mundial, "como já tinha noutros anos".

"Eu nunca fiquei chateado com as escolhas dos responsáveis da equipa, mas é um bocado frustrante saber que temos melhores condições do que certos atletas e ficamos de fora", confessou à agência Lusa.

Aos 28 anos, o carismático corredor rejeita que a mudança para a NetApp-Endura, da categoria continental, seja uma despromoção na sua carreira.

"Acho que o que faz as equipas neste momento é a conjuntura financeira, porque, quer queiramos quer não, toda a Europa está a atravessar uma crise financeira e as equipas com mais poderio financeiro têm capacidade para ter licença ProTour, as outras nem tanto. Mas estou satisfeito com as condições que encontrei na equipa NetApp, é muito organizada", destacou.

Segundo o português, até ao momento, a única diferença que encontrou é a dimensão do autocarro: "Nós agora temos um mais pequenino, mas cabemos todos lá dentro na mesma e não é por aí que o rendimento será inferior".

Assumindo que ainda não delineou objetivos para esta temporada por ter mudado recentemente de preparador, Machado garantiu que está satisfeito com as sensações que teve nos treinos.

"Agora vamos ver nas corridas como as coisas se vão desenrolar, porque treinar é uma coisa e competir é outra totalmente distinta. Mas é bom vir com boas sensações e agora é esperar pelos dias decisivos a ver se estou à altura dos acontecimentos", acrescentou.

O primeiro grande teste na nova etapa no pelotão internacional é a 40.ª Volta ao Algarve, um sonho antigo para aquele que no ano passado disputou ao milésimo o estatuto de melhor luso na classificação geral final com Rui Costa.

"Eu no outro dia vi um blogue curioso, do qual não sei o nome, que dizia que eu sou o quarto ciclista mais cotado em participações na 'Algarvia'. Claro que é legítimo fazer alguma coisa engraçada", contou.

Na Volta ao Algarve, "Tiaguinho" sente-se em casa, porque já vai na décima participação, e consegue explicar o porquê de ver tantas estrelas em território nacional.

"Para os estrangeiros, pelo que me dá a entender, é a preparação que eles aqui encontram para as clássicas. Quer queiramos quer não, isto tem subido de nível de ano para ano. Esta é uma das corridas mais importantes no início do ano e, talvez, se houvesse um pouco mais de dinheiro, se fosse ProTour, teríamos aqui pano para mangas", concluiu