Governos africanos devem aos bancos ocidentais o triplo do que à China
A ONG Justiça da Dívida disse hoje que os governos africanos devem três vezes mais a credores comerciais ocidentais do que à China, a quem pagam o dobro dos juros face ao cobrado pelos credores chineses.
© iStock
Economia Bancos
"Os governos africanos devem três vezes mais dívida aos bancos ocidentais, gestores de ativos e intermediários petrolíferos do que à China, e pagam o dobro dos juros", diz esta ONG dedicada à questão da dívida pública, em particular dos países mais desfavorecidos.
Numa nota enviada à Lusa, a Justiça da Dívida vinca que "os líderes ocidentais, através do G7, têm atribuído o falhanço sobre o progresso da reestruturação da dívida à China, mas os dados mostram que isto é um engano", acrescenta-se no texto.
No relatório com a análise dos montantes e decomposição da dívida, a Justiça da Dívida afirma que "apenas 12% da dívida externa dos governos africanos é devida à China, o que compara com os 35% devidos a credores comerciais ocidentais" e acrescenta que "os juros da dívida sobre os empréstimos privados são quase o dobro do que os países pagam nos empréstimos chineses, com os países mais endividados a, provavelmente, não terem a dívida dominada por credores chineses".
No total, os países africanos deviam, no final de 2020, cerca de 247 mil milhões de dólares (245,1 mil milhões de euros) a credores privados não chineses, ao passo que eram devidos 83 mil milhões de dólares (82,3 mil milhões de euros) a chineses e mais 93 mil milhões de dólares (92,3 mil milhões de euros) a outros governos, além de 274 mil milhões de dólares, quase 272 mil milhões de euros, a instituições multilaterais.
De acordo com esta ONG, a média dos juros cobrados pelos investidores privados aos governos africanos ronda os 5%, ao passo que os bancos chineses cobram, em média, 2,7%.
Os números agora divulgados, nas vésperas da reunião dos ministros das Finanças do G7, na sexta-feira e no sábado na Indonésia, fazem parte do pedido que a Justiça da Dívida tem repetidamente feito: que os governos aprovem legislação para obrigar os credores privados a participarem no programa de alívio da dívida lançado pelo G20, a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) e o Enquadramento Comum para além do DSSI.
Dos 22 países com uma dívida mais alta, 12 pagam aos credores privados mais de 30% dos pagamentos totais, numa lista que inclui Cabo Verde, Chade, Egito, Gabão, e outros, ao passo que a dívida aos credores chineses está acima dos 30% em apenas 5 desses 22 países, incluindo Angola, República do Congo e Etiópia, entre outros.
"Os líderes ocidentais culpam a China pela crise da dívida em África, mas isto é uma distração; a verdade é que os seus próprios bancos, gestores de ativos e intermediários petrolíferos são bem mais responsáveis, mas o G7 está, na prática, a deixá-los escapar" das suas responsabilidades, concluiu o economista-chefe da ONG, Tim Jones.
Leia Também: Estratégia recomenda mudanças na composição da dívida pública moçambicana
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com