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Ana Lua Caiano cria música na Covilhã com Adufeiras do Paul

Rodeada de pessoas de várias gerações com um adufe nas mãos, a cantora Ana Lua Caiano testou na última semana o que costuma experimentar a compor: a simbiose entre elementos nem sempre prováveis.

Ana Lua Caiano cria música na Covilhã com Adufeiras do Paul
Notícias ao Minuto

10:52 - 14/06/24 por Lusa

Cultura Covilhã

Hoje, a autora de 'Vou ficar neste quadrado' apresenta em concerto, às 22h00, no largo atrás da Câmara da Covilhã, com o grupo de cerca de vinte adufeiras com quem ensaiou nos últimos dias, o resultado dessa colaboração, que originou a criação de um tema, possivelmente a incluir no próximo álbum, e a recolha de vários sons do quotidiano, que se tornam instrumentos para fazer música.

A residência artística decorreu no âmbito do festival de arte urbana Wool e, no estúdio improvisado da rua estreita do centro histórico da Covilhã, Ana Lua Caiano densificou ideias que tinha para oito canções e escreveu as letras.

Depois de no feriado terem ensaiado todo o dia na Casa do Povo do Paul, vila a 30 minutos da Covilhã, é na cidade que se reúnem à noite, para não colidir com as obrigações profissionais de cada uma.

Distribuem-se os trajes a quem aproveitou a residência artística para se juntar às Adufeiras, comentam-se a algibeira, os tamancos, as características mais indicadas das pedras da ribeira que vão ser o acompanhamento do tema "Lavadeiras", das Adufeiras, e trocam-se dicas sobre técnicas para facilitar o toque.

Ao lado do bombo, do teclado, dos sintetizadores onde faz os 'loops', da caixa de ritmos e do adufe, sem os adornos das maravalhas nos cantos ou as fitas de cetim nas costuras, como os que tem à frente, Ana Lua Caiano distribui as folhas com os sete temas e indicações técnicas, reveem ritmos, confirmam o tipo de toque.

A mescla entre a música eletrónica e a tradicional soa no estúdio improvisado da casa em madeira, onde umas estão mais focadas em anotar os tempos, outras fazem dançar o adufe entre as mãos e balançam energicamente o corpo.

"Os ritmos que elas vão tocar comigo são ritmos que eu não conhecia tão bem", comenta Ana Lua Caiano, que também aprendeu a pôr duas pedras da ribeira entre os dedos para acompanhar uma das canções.

Desta sinergia nasceu uma nova canção, ainda sem nome, onde vai repetindo "já não aguento", a tocar hoje ao vivo. Para já, com voz e adufe, mas que vai incorporar outros instrumentos, novos sons recolhidos e ganhar camadas.

"Agora aquela nova que fizemos, com o ritmo dois/dois", diz a cantora, de 24 anos, ao grupo.

Ana Lua Caiano, revelação da música portuguesa e expoente da 'folktrónica', tem a expectativa de que várias faixas trabalhadas esta semana e as possibilidades experimentadas venham a integrar o próximo disco, tal como a que hoje é tocada ao vivo.

"No ensaio elas estavam a fazer um ritmo, eu disse-lhes para continuarem, cantei por cima e vamos fazer essa canção juntas, vai ser um bocadinho mais simples. Se esta música avançar, elas também farão parte da gravação. É uma canção que pode ser interessante e penso que irá estar no próximo álbum", adiantou a compositora, em declarações à agência Lusa.

Para Maria do Céu Ferreira, de 87 anos, esta é uma coisa diferente daquilo a que está habituada e mostra-se surpreendida com a sobreposição de melodias e os equipamentos utilizados por Ana Lua para fazer música.

Desde criança nas Adufeiras do Paul, Catarina Geraldes, de 21 anos, veio da cidade onde estuda para poder colaborar com a artista que mais tem ouvido e que admira pela capacidade de fundir aquele que é também o seu universo, o tradicional e o moderno.

A perspetiva de contribuir para um futuro disco é "muito entusiasmante" e conviver com a artista que mais tem ouvido tem sido "um privilégio".

"Isto que ela faz é também um sonho meu, que cresci no meio dos sons tradicionais e sempre gostei de os ver integrados em outros géneros", realçou a jovem adufeira, para quem "foi tudo tão natural" e pareciam que estavam todas "na mesma página".

A sueca Isabela Johansson, de 29 anos, residente no Paul e membro das adufeiras, considera que esta foi "uma boa oportunidade para misturar tradições e gerações".

Diana Silva, psicóloga, de 32 anos, aprendeu a tocar sozinha e viu na residência artística a oportunidade de partilhar "este espaço de comunhão" com a artista que costuma ouvir e com o grupo de adufeiras, a que se quer juntar.

"Sinto-me honrada e feliz por este trabalho colaborativo e comunitário que uniu mundos diferentes e vai influenciar gerações mais jovens. Isso foi o mais enriquecedor", enfatiza Diana Silva.

A fundadora das Adufeiras do Paul Leonor Narciso, de 68 anos, agradeceu o "desafio que enriquece toda a gente que participou", também "uma novidade" para a maioria o contacto com "este tipo de música", e lamenta a falta de tempo para mostrar a Ana Lua muito mais sons alternativos e identitários com que habitualmente fazem música.

"Nós vamos à fonte do tradicional, pegamos em instrumentos de trabalho, como as peneiras, os cântaros, e transformamos em instrumentos musicais. Vamos buscar referências da nossa identidade e transportamos para a atualidade", frisa Leonor Narciso, coordenadora de um grupo que não é nem pretende ser profissional, mas faz música "com muita alma".

Ana Lua Caiano, cabelo longo solto e postura reservada, aproveitou para ampliar a coleção de sons, criar sonoridades do futuro com instrumentos de onde o passado repousa e escrever letras como quem está vigilante para o mundo.

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