Como a reabilitação física pode melhorar a vida do doente oncológico
"Apesar dos significativos avanços da ciência ao serviço da saúde, o diagnóstico de um cancro continua a ter um enorme impacto na vida de uma pessoa", explica Cristina Freitas Pereira, Médica Fisiatra e Diretora Técnica de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital CUF Porto, neste artigo de opinião partilhado com o Lifestyle ao Minuto.
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Lifestyle Médica explica
Quando é diagnosticado um determinado tipo de cancro a preocupação inicial e natural é dirigir todos os esforços para conseguir tratar da melhor forma possível esse problema. Os enormes avanços médicos têm permitido tratar várias situações oncológicas conseguindo muitas vezes a cura ou, pelo menos, um controlo eficaz dessa situação. Os tratamentos disponíveis atualmente abrangem um leque muito diversificado de procedimentos que podem incluir a cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia, a hormonoterapia, a imunoterapia, entre outros. Contudo, os tratamentos são muitas vezes prolongados aos quais podem associar-se efeitos laterais que têm impacto na qualidade de vida. Esses efeitos manifestam-se quase sempre de uma forma mais intensa durante o tratamento, mas podem persistir ao longo da vida, deixando sequelas definitivas.
Como pode a medicina física e de reabilitação (M.F.R.) melhorar a qualidade de vida dos doentes com cancro?
A M.F.R. é uma especialidade médica muito abrangente, cujo objetivo principal é a otimização funcional e a melhoria da qualidade de vida de um indivíduo.
Assim, facilmente se compreende que a reabilitação pode assumir um papel muito importante no tratamento e acompanhamento do doente oncológico. Seja para recuperar um défice, minimizar efeitos secundários lesivos ou promover o alívio da dor, a M.F.R. tem à sua disposição um conjunto de técnicas/tratamentos que podem ser úteis, se prescritas corretamente e no momento adequado.
Todos os doentes oncológicos devem fazer fisioterapia?
A orientação para um programa de reabilitação deve ser avaliada em contexto multidisciplinar. O doente oncológico tem potenciais fragilidades e carece de uma avaliação médica cuidadosa dos riscos/benefícios antes de ser proposto para um determinado tratamento de reabilitação.
Cristina Freitas Pereira© DR
Habitualmente, as equipas que tratam doentes com cancro são multidisciplinares, o que pode ajudar a identificar as necessidades de cada doente, acompanhar e orientar para os cuidados mais adequados em cada fase da doença, nomeadamente a indicação para reabilitação física.
Quais as principais áreas de atuação da M.F.R. no doente oncológico?
Qualquer órgão/tecido do nosso organismo pode ser local para o desenvolvimento de um cancro. De acordo com os dados do Instituto Português de Oncologia, os tipos de cancro mais frequentes em Portugal são os que atingem a mama, pulmão, próstata e cólon/reto. Cada cancro tem as suas especificidades e cada tratamento pode condicionar um vasto leque de efeitos laterais, que podem variar de doente para doente.
De uma forma geral, os tratamentos de fisioterapia podem ser úteis quando se verificam alterações do estado geral, com diminuição da força e massa muscular, permitindo um recondicionamento e impedindo perda de capacidades, como a marcha. As técnicas de mobilização tentam impedir que as articulações fiquem limitadas e percam amplitudes.
Algumas cirurgias por vezes deixam cicatrizes extensas, aderentes e dolorosas, como por exemplo as cirurgias da mama, que podem beneficiar com tratamentos dirigidos à melhoria das cicatrizes, diminuição do edema (inchaço) mamários ou no braço (linfedema) e prevenção da perda de mobilidade do ombro.
Quando as sequelas se localizam no aparelho respiratório (pulmões) técnicas especializadas de cinesiterapia respiratória e de higiene brônquica permitem auxiliar na melhoria da capacidade ventilatória, aumento da resistência ao esforço, diminuição de fadiga e facilitar eliminação de secreções.
Uma incontinência urinária pode ser uma consequência de uma cirurgia a um cancro da próstata e muitas vezes é possível melhorar com a reabilitação do pavimento pélvico.
Existem técnicas de reabilitação para o controlo da dor, contribuindo, por exemplo, para a diminuição do consumo de analgésicos. Deste modo, a M.F.R. tem, igualmente, um papel importante nas Unidades de Cuidados Paliativos, onde o conforto do doente e a prevenção de complicações são privilegiados.
Estes são apenas alguns exemplos de intervenções específicas. A área oncológica é extremamente diversificada e complexa, mas uma reabilitação adequada pode ajudar a superar dificuldades e a vencer alguns desafios.
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