"Excesso" de 100 Kcal por dia pode levar a ganho de "4,5 kg por ano"
Investigadora analisa excesso de peso e fala sobre a influência das variantes genéticas.
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Lifestyle Obesidade
As pessoas obesas nem sempre "comem demais" e a dificuldade em combater o excesso de peso nem sempre é falta de vontade. Quem o diz é Cecilia Lindgren, diretora do Instituto de Big Data da Universidade de Oxford, que explica, numa entrevista ao jornal espanhol El País, que a sua equipa identificou múltiplas variantes genéticas que estão associadas a uma maior predisposição para acumular gordura em diferentes partes do corpo. Segundo a professora, um excesso de 100 calorias (Kcal) por dia podem levar ao aumento de cerca de 4,5 quilos (Kg) por ano.
"Estudos genéticos dizem-nos que a obesidade é regulada por sentimentos de saciedade e fome. Vivemos num ambiente com excesso de calorias. Se estás com muita fome e não te sacias quando comes, vai comer mais a qualquer hora", começa por explicar.
"Há um equívoco de que [obesos] são pessoas que apenas se sentam e se empanturram. Há sempre fotos de pessoas muito gordas a comer cinco hambúrgueres do McDonald's, mas a verdade é que basta comer um excesso de 100 calorias por dia para ganhar cerca de 4,5 quilos por ano. Não parece muito, mas se fizeres isso todos os anos, de repente ficarás muito gordo. Então não acho que seja uma escolha", acrescenta.
Segundo a professora e investigadora, são conhecidas cerca de 3.000 variantes genéticas associadas à obesidade. Cecilia Lindgren explica que não existe um gene da obesidade, notando que Stephen O'Rahilly, da Universidade de Cambridge, investigou doenças causadas por apenas uma ou duas mutações graves num gene, "doenças nas quais os pacientes não conseguem parar de comer".
"É importante ressalvar que não somos vítimas do nosso ADN, mas nascemos com uma predisposição. É essencial que essas pessoas saibam por que precisam trabalhar tanto para manter um peso saudável", sublinha.
"Pessoas com forte predisposição à obesidade, com todas as variantes genéticas, podem pesar cerca de 20 quilos a mais do que outra pessoa da mesma idade, sexo e altura. Mas há outras pessoas que têm sorte nessa lotaria e não correm risco de obesidade: têm uma predisposição para não passar fome", nota.
A investigadora explica depois do que se trata um ambiente obesogénico, "quando há comida em todos os lugares e em todos os momentos", e em que como isso influencia a alimentação.
"É comida não saudável e está sempre à mão, o que significa que se estiveres com fome, comes mais. Na década de 1960, havia álcool e tabaco nas mesas dos quartos. Hoje nunca faríamos isso, porque sabemos que é um erro. Nos anos 2000 havia batatas fritas e bagels nas mesas. Agora as pessoas estão cada vez mais conscientes e há mais frutas e água mineral. As pessoas estão a começar a entender que tu não precisas de ter comida em todos os lugares e em todos os momentos", afirma.
Questionada sobre se comer 500 calorias de bananas é o mesmo que comer 500 calorias de gelado, Cecilia Lindgren explica.
"Se colocares 500 calorias de banana num prato e 500 calorias de gelado num outro prato, as bananas pesariam cerca de cinco vezes mais que o gelado. Eles não contam apenas as calorias, mas a quantidade de comida que tu vais comer. Se tu comeres todas essas bananas, ficarás satisfeito por muito mais tempo. Se comeres 500 calorias de gelado, sentirás fome novamente uma hora depois. É muito rico em calorias, mas não te enche. Na alimentação, o peso, a quantidade de fibra, a consistência também importam", afirma.
Contudo, a professora defende que é "importante que a obesidade seja tratada como uma doença, para que as pessoas a levem a sério".
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