Verdades e mitos sobre o lupus na gravidez
O lupus é "uma doença complexa", que atinge mais mulheres - em cada 10 doentes, nove são mulheres e a grande maioria em idade reprodutiva.
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O lupus é uma doença autoimune, no qual o sistema imunológico, se vira contra o próprio corpo e o ataca, provocando inflamação e alteração da função do sistema afetado. Atinge em maior escala as mulheres, principalmente em idade fértil. No entanto, ao contrário do que se diz não é uma limitação para a gravidez.
Segundo um comunicado da Associação de Doentes com Lúpus, o 'segredo' para o sucesso de uma gestação viável e sem complicações graves é a mulher com lupus "planear com antecedência a sua gravidez", para que ocorra com a doença estável e com a toma de medicamentos seguros para o feto e ser vigiada por uma equipa multidisciplinar (medicina interna, reumatologia, nefrologia e obstetrícia; dependendo da doença, outras especialidades poderão estar envolvidas) ao longo da gestação.
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Carlos Vasconcelos, especialista em medicina interna com diferenciação na área de imunologia clínica, e António Braga, especialista em ginecologia e obstetrícia, explicam que "o lupus por si só não é causa de infertilidade". Todavia, "a doença não controlada associada à acumulação de dano de órgão ou ao uso de tratamentos tóxicos podem conduzir à diminuição da fertilidade em algumas doentes". "Ao contrário do que a maior parte dos médicos diziam há anos atrás, uma mulher com LES - Lupus Eritematoso Sistémico - pode engravidar, mas com cuidados adequados e específicos: escolher uma altura em que o LES esteja controlado e ter uma vigilância apertada quer do médico assistente na área do lupus, quer do obstetra, com experiência no acompanhamento destas doentes. Existem raras situações em que a gravidez numa mulher com LES deve ser, de todo, desaconselhada."
É importante referir que, na gravidez, há produção de diversas hormonas que podem aumentar o risco de ocorrer alguma agudização da doença - agravamento dos sintomas ou desenvolvimento de novos sintomas. Da mesma forma, a grávida com lupus tem um risco acrescido de algumas patologias específicas da gravidez. Em 25% dos casos podem nascer bebés prematuros e de baixo peso.
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Para os especialistas, "o avanço da medicina já possibilita que metade das gestações em mulheres com lupus sejam completamente normais. No entanto, todas as fases da gravidez apresentam riscos específicos". "Na nossa experiência clínica, o agravamento do lupus é mais frequente logo no início ou no final da gestação. O risco de complicações obstétricas como a subida da tensão arterial ou o desenvolvimento de fetos mais pequenos é também mais frequente no 3.º trimestre da gravidez. Estas gestantes têm necessidade de uma maior frequência de consultas e exames ecográficos devido ao risco acrescido de desenvolverem complicações obstétricas", alertam, sublinhando ainda que, "em algumas doentes é necessário programar o final da gestação de forma a reduzir a probabilidade de desenvolver complicações típicas do termo e permitir por exemplo, parar de forma atempada fármacos que aumentem o risco hemorrágico, como as heparinas. Também após o parto a vigilância clínica deve continuar a ser apertada, dado ser uma altura em que podem acontecer agudizações da doença”.
Sendo essencial prevenir os surtos de lupus na gravidez, a gestante deve "evitar situações de stress que possam dar origem a estados de ansiedade e cansaço, adotar estratégias e comportamentos que promovam o seu bem-estar, aplicar protetor solar (com fator de proteção 50) em todas as atividades ao ar livre, durante todo o ano, e evitar a exposição ao sol e a luz fluorescente, repousar de forma adequada e de acordo com as suas necessidades físicas e emocionais, manter a prática de atividade física por forma a evitar a rigidez articular, a fraqueza muscular e a fadiga e acima de tudo respeitar as indicações e conselhos clínicos".
Existe ainda um mito associado ao bebé que importa esclarecer: segundo os especialistas, "a probabilidade de uma mãe com LES ter um filho com lupus é muito baixa, menos de 5%". "O bebé durante alguns meses tem os anticorpos da mãe – nomeadamente aqueles anticorpos associados à doença – mas depois esses anticorpos desaparecem, sendo por isso importante acompanhar o bebé ao longo do primeiro ano de vida."
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