Saied apresenta recandidatura às presidenciais tunisinas
O chefe de Estado tunisino, Kais Saied, no poder desde 2019 e acusado pelos seus críticos de autoritarismo, apresentou hoje oficialmente a recandidatura às eleições presidenciais previstas para 06 de outubro.
© Getty Images
Mundo Tunísia
Kais Saied, de 66 anos, disse aos jornalistas em Tunes que a sua candidatura faz parte de uma "guerra de libertação e autodeterminação" destinada a "estabelecer uma nova república".
O Presidente detém todo o poder desde o seu golpe de força em julho de 2021, quando, após vários meses de impasse político, demitiu o primeiro-ministro e suspendeu os trabalhos do parlamento, antes de dissolver o órgão.
Segundo vários analistas, o caminho para as eleições presidenciais promete ser cheio de armadilhas para os potenciais rivais de Saied, democraticamente eleito em 2019.
Os critérios de aceitação são, segundo caracteriza a agência noticiosa France-Presse (AFP), draconianos: requerem o patrocínio de dez deputados ou 40 presidentes de autarquias locais - em grande parte a favor de Saied - ou 10.000 eleitores com pelo menos 500 assinaturas por círculo eleitoral, número que os analistas dizem ser difícil de recolher.
Saied negou que tenha tentado tornar estes critérios mais rigorosos.
"A lei aplica-se igualmente a toda a gente. Qualquer pessoa que fale de restrições está a iludir-se. Não aceitaremos qualquer interferência estrangeira nas escolhas do nosso povo", afirmou.
No verão de 2022, Saied fez aprovar por referendo uma nova Constituição, que institui um novo sistema de duas câmaras com poderes muito limitados, passando a Tunísia de um sistema parlamentar para um sistema ultra-presidencialista.
Os candidatos têm até terça-feira à tarde para se apresentarem oficialmente à corrida presidencial.
Outro nome que já consta na lista de candidatos é o de Abir Moussi, uma reconhecida crítica do Presidente que se encontra detida desde outubro de 2023.
Seis membros do comité de defesa da dirigente do Partido Destouriano Livre (PDL), que se afirma descendente dos autocratas Habib Bourguiba e Zine El Abidine Ben Ali, apresentaram o processo de candidatura na Autoridade Eleitoral Tunisina (Isie, na sigla francesa), segundo a rádio Mosaïque FM.
Crítica feroz de Saied e do movimento islâmico conservador tunisino Ennahdha, Abir Moussi, uma antiga deputada de 49 anos, foi detida a 03 de outubro de 2023 em frente ao palácio presidencial em Cartago, quando, segundo o seu partido, foi apresentar recursos contra os decretos de Saied.
Moussi é alvo de acusações graves, nomeadamente de "atentado com o objetivo de mudar a forma de governo", e suspeita de querer restabelecer um regime semelhante ao de Ben Ali, derrubado em 2011 pela primeira revolta daquela que ficou conhecida por "Primavera Árabe".
Outras figuras da oposição detidas, como Issam Chebbi e Ghazi Chaouachi, acusados de conspiração contra o Estado, tinham anunciado a intenção de concorrer à presidência, mas desistiram por não terem obtido uma procuração especial para se fazerem representar durante o processo.
Na quarta-feira passada, uma dúzia de candidatos, incluindo Nizar Chaari, uma figura destacada dos 'media' tunisinos, Kamel Akrout, um almirante reformado, e Abdellatif Mekki, um ex-ministro, emitiram uma declaração denunciando as restrições à sua liberdade de candidatura.
Esta semana, quatro mulheres que trabalhavam para o 'rapper' bilionário Karim Gharbi, conhecido como 'K2Rhym' - um potencial candidato presidencial - foram condenadas a penas de prisão de dois a quatro anos por compra de patrocínios, e três dos associados de Chaari foram detidos sob a mesma suspeita, categoricamente negada pelo candidato.
Na quinta-feira, cerca de 30 organizações não-governamentais (ONG), entre as quais a Liga Tunisina dos Direitos Humanos, condenaram as "detenções arbitrárias" de candidatos.
Nas mesmas declarações, as ONG denunciaram uma autoridade eleitoral que "perdeu a sua independência" e "uma monopolização do espaço público" com "a utilização de recursos do Estado para favorecer um candidato em detrimento de outros".
A 29 de julho, um primeiro candidato, totalmente desconhecido, depôs a candidatura na Isie após a abertura oficial da apresentação de candidaturas para as presidenciais tunisinas.
Fethi Krimi, um operário de 59 anos, foi o primeiro a apresentar a candidatura, de acordo com informações e fotografias difundidas pela rádio Mosaïque FM e outros meios de comunicação social locais.
De acordo com a Isie, mais de 100 potenciais candidatos já recolheram os formulários de patrocínio necessários e têm até terça-feira para apresentar as suas candidaturas, admitindo-se que poucos estarão legalmente aptos para o fazer.
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