Ex-candidato tunisino detido acusado de atravessar ilegalmente fronteira
Safi Said, opositor do regime tunisino que em 2014 desistiu da candidatura às eleições presidenciais, foi detido na terça-feira acusado de atravessar ilegalmente a fronteira com a Argélia, divulgaram hoje fontes judiciais do país norte-africano.
© Reuters
Mundo Tunísia
O antigo deputado e escritor Safi Said, de 70 anos, foi condenado em junho a quatro meses de prisão, acusado de ter falsificado apoios para apresentar a sua candidatura às eleições presidenciais de 2014.
Meios de comunicação social tunisinos noticiaram hoje que o tribunal de Kasserine (centro-oeste) determinou "a detenção do ativista político Safi Said e de um acompanhante por atravessarem ilegalmente a fronteira para um país vizinho", a Argélia.
Em 09 de agosto, este antigo jornalista explicou que desistiu de concorrer às eleições presidenciais de 06 de outubro, contra o atual chefe de Estado Kais Saied, queixando-se de "desigualdade de oportunidades, grandes obstáculos e falta de clareza nas regras do jogo".
A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) destacou que "pelo menos oito potenciais candidatos foram acusados, condenados ou presos" e, de facto, "foram impedidos de concorrer".
Entre estes incluem-se os líderes da oposição Issam Chebbi e Ghazi Chaouachi e, no outro extremo do espetro político, Abir Moussi, líder do Partido Destouriano Livre (PDL) - que agrupa os nostálgicos do antigo regime de Bourguiba e Ben Ali.
A Tunísia "está a preparar-se para realizar eleições presidenciais num contexto de crescente repressão da dissidência e da liberdade de expressão e na ausência de controlos vitais sobre os poderes do Presidente Saied", acrescentou a HRW, em comunicado.
Saied tem sido acusado de viragem para um regime autoritário desde o golpe de 25 de julho de 2021, pelo qual atribuiu a si todos os poderes.
Contra Saied, que procura um segundo mandato, apenas dois candidatos viram as suas candidaturas aceites: Zouhair Maghzaoui, de 59 anos, antigo membro da esquerda pan-árabe, e um industrial de 40 anos, Ayachi Zammel, líder de um partido liberal.
A autoridade eleitoral rejeitou outros 14 pedidos, alegando um número insuficiente de apoios, enquanto vários opositores se queixaram de requisitos demasiado exigentes para avançarem com uma candidatura.
O Sindicato Nacional dos Jornalistas Tunisinos (SNJT) condenou hoje a decisão do órgão eleitoral de retirar a acreditação de uma jornalista para cobrir as eleições presidenciais depois de questionar a sua imparcialidade e alertar para intimidações contra a imprensa.
A afetada, Khaoula Boukrim, editora-chefe do meio digital Tunez Media, publicou nas suas redes o e-mail enviado pela instituição no qual justificou a referida decisão considerando que não tinha prestado "cobertura objetiva, equilibrada e neutra do processo eleitoral" e "não respeitou o código eleitoral nem a ética da sua profissão".
O sindicato condenou esta medida "emotiva" que, frisou, faz parte de um ajuste de contas com as vozes que criticam o seu trabalho, acusando ainda este órgão de não cumprir a lei, que estabelece que deve ser emitido um aviso antes de emitir uma sanção oficial.
A Tunísia ocupa a 118.ª posição num total de 180 países segundo o ranking mundial de liberdade de imprensa realizado pela organização não-governamental de defesa da liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que aponta para um aumento da perseguição a jornalistas críticos do Presidente, que alega lutar contra aqueles que "procuram semear o caos, a discórdia e espalhar boatos e mentiras".
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