ONG denuncia "ferimentos de jornalistas" em Moçambique
O MISA Moçambique, uma organização não-governamental de defesa da liberdade de imprensa, anunciou hoje que "tem registo de que houve ferimentos de alguns jornalistas" que entrevistavam esta segunda-feira o candidato presidencial Venâncio Mondlane, quando a polícia moçambicana interveio, "dispersando-os".
© ALFREDO ZUNIGA/AFP via Getty Images
Mundo Moçambique/Eleições
A ONG - Media Institute of Southern Africa (MISA) - sublinha ainda que registou "tiros contra jornalistas, quando entrevistavam o candidato presidencial Venâncio Mondlane, no local das manifestações marcadas para [dia] 21 de outubro, para reivindicar os resultados eleitorais e o assassinato do advogado Elvino Dias e [Paulo Guambe]", mandatário do partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), na madrugada de dia 19, de acordo com um comunicado divulgado esta segunda-feira.
Nota-se "através de diversas filmagens feitas no local, um cordão de segurança da Polícia antimotim a aproximar-se ao local" onde os jornalistas se encontravam a entrevistar Venâncio Mondlane, "deitando tiros e gás lacrimogéneo com intensidade, interrompendo a conversa, dispersando os jornalistas e criando uma tensão", reforça a organização.
O MISA anunciou que ainda não terminou o levantamento dos danos causados pela "má atuação da polícia, mas tem registo de que houve ferimentos de alguns jornalistas que se encontravam no local".
A capital moçambicana acordou hoje em aparente normalidade, com transportes a funcionar e filas de trânsito pela cidade, apesar do reforço policial visível após os violentos confrontos do dia anterior com manifestantes, que provocaram destruição e feridos.
Numa ronda feita pela Lusa esta manhã era possível ver um forte dispositivo policial, incluindo com blindados da Unidade de Intervenção Rápida colocados estrategicamente nos locais mais críticos dos protestos de segunda-feira, mas também restos de pneus queimados nas ruas no dia anterior e contentores do lixo destruídos ainda na via.
A avenida Joaquim Chissano foi o centro dos protestos, próximo do local onde na sexta-feira ocorreu o duplo homicídio dos dois apoiantes de Venâncio Mondlane, e para onde o candidato presidencial tinha convocado a saída de uma manifestação para a manhã de segunda-feira, que nunca chegou a acontecer devido à forte intervenção da polícia.
Os apoiantes de Venâncio Mondlane, que contesta os resultados preliminares das eleições gerais de 09 de outubro, levaram os protestos para vários bairros, no centro da cidade e nos subúrbios, como Polana Caniço, Xiquelene e Maxaquene, onde a polícia também realizou disparos e lançamento de gás lacrimogéneo para dispersar qualquer concentração.
Durante a noite não houve registo de confrontos significativos em Maputo.
Mondlane acusou as forças policiais de dispararem "balas verdadeiras" contra manifestantes durante as marchas e afirmou que os moçambicanos se juntaram para "salvar o país".
O candidato presidencial convocou as marchas no sábado, como forma de repúdio pelo homicídio de Elvino Dias e Paulo Guambe, mandatário do partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), que o apoia.
Mondlane classificou os líderes da polícia moçambicana como verdadeiros terroristas e prometeu continuar os protestos em mais três fases até à divulgação dos resultados finais das eleições pelo Conselho Constitucional.
Já hoje, o candidato voltou a convocar manifestações pacíficas a partir de quinta-feira, dia em que devem ser divulgados os resultados peça Comissão Nacional de Eleições (CNE), que contesta.
A resposta policial às manifestações foi condenada pela comunidade internacional e houve vários apelos à contenção de ambas as partes, nomeadamente de Portugal, da União Europeia e da União Africana.
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