Moçambique. SADC preocupada com violência pós-eleitoral
Os líderes da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) expressaram hoje, em Harare, a sua condenação e preocupação com a escalada da violência pós-eleitoral em Moçambique, noticia a imprensa zimbabueana.
© Lusa
Mundo Moçambique/Eleições
A crise eleitoral em Moçambique foi um dos temas principais de debate e análises pelos chefes de Estado e de Governo da SADC, que estiveram hoje reunidos em cimeira extraordinária em Harare, capital do Zimbabué, país que detém a presidência rotativa da organização sub-regional.
O jornal zimbabueano Sunday Mail citou, na sua edição eletrónica de hoje, o secretário executivo da SADC, Elias Magosi, segundo o qual não era "previsível a deterioração do processo eleitoral" em Moçambique.
"Não esperávamos que o processo eleitoral pudesse deteriorar-se ao ponto de provocar conflitos graves, perturbações da atividade económica, ameaças à vida de pessoas e mesmo a perda de vidas, bem como danos materiais e infraestruturas", frisou Elias Magosi, na intervenção de abertura dos trabalhos.
"Existem estruturas adequadas ao abrigo das leis eleitorais e da Constituição dos Estados-membros que tratam das queixas e de quaisquer dúvidas sobre as eleições. Apelamos a todos aqueles que se sentem prejudicados com o processo eleitoral para que sigam estes procedimentos legais e garantam a segurança dos cidadãos e a estabilidade do país", acrescentou o secretário executivo.
Segundo o correspondente da DW em Harare, os líderes da SADC decidiram aguardar para ver se o diálogo proposto pelo Presidente Moçambicano, Filipe Nyusi, com os quatro candidatos presidenciais vai acontecer, antes de tomar medidas concretas em relação à crise pós-eleitoral moçambicana.
"Caso esse diálogo seja infrutífero, a SADC iniciará a sua mediação, enviando um mediador a Moçambique", relatou Privilege Musvanhiri, sem citar fontes.
Apenas quatro chefes de Estado da SADC participaram na cimeira, incluindo os Presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, de Madagáscar, Andry Rajoelina, e o recém-eleito Presidente do Botsuana, Duma Boko.
Outros Estados-membros enviaram delegações de nível inferior, o que, segundo o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros zimbabueano Walter Mzembi, representou uma mensagem para o Presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, destaca o Sunday Mail.
"Há uma mensagem importante a ser transmitida à Presidência do Zimbabué da SADC", disse Mzembi, que afirmou: "Os líderes regionais estão a pedir ao Zimbabué que resolva as questões de interferência nos assuntos internos dos Estados membros".
Mzembi referiu-se especificamente às alegações de que o Zimbabué facilitou irregularidades eleitorais em Moçambique, com alegações de que foram distribuídos bilhetes de identidade moçambicanos a zimbabueanos para influenciar o resultado das eleições.
A afirmação de Mzembi vem ao encontro do recurso que o candidato presidencial Venâncio Mondlane interpôs hoje junto do Conselho Constitucional moçambicano em que pede a nulidade da votação no círculo eleitoral do Zimbabué.
Mondlane alega que naquele círculo eleitoral votaram 296.519 zimbabueanos "sem capacidade eleitoral ativa".
De acordo com o recurso apresentado por Judite Simão, mandatária de Venâncio Mondlane, o mesmo invoca a "nulidade da eleição presidencial" de 09 de outubro na circunscrição do país vizinho, citando os dados do relatório da Southern Africa Human Rights Lawyers High Comission Mozambique, que refere que aquele número de cidadãos zimbabueanos votou "ilegalmente".
Venâncio Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou terça-feira aos moçambicanos para cumprirem três dias de luto nacional pelas "50 vítimas mortais" nas manifestações pós-eleitorais, a partir de hoje, incluindo uma paragem e buzinão dos carros por 15 minutos.
Segundo a edição eletrónica do jornal The Zimbabwe Mail, que refere igualmente as críticas por uma suposta interferência no processo eleitoral moçambicano, a violência em Moçambique, de que já resultaram dezenas de mortos, "tem vindo a afetar as relações na região".
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