"As competências sociais são aquelas que vão ser necessárias no futuro"
A Amazon é uma das empresas, senão a empresa, na vanguarda da automatização, uma empreitada que começou mais a sério em 2014 e que apresenta agora o impressionante número de 100 mil robots nas suas instalações espalhadas por todo o mundo. Quais serão os negócios lucrativos do futuro? Que competências serão as mais procuradas?
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Mundo Yoko Ishikura
A robótica e a Inteligência Artificial (IA) estão a trazer uma mudança tectónica nas organizações de trabalho e sociais. Para já, sentem-se as primeiras ondas de uma vaga de alterações que acontecerá de forma galopante nos próximos anos, segundo grande parte das previsões.
É a luz do dia depois do amanhecer da quarta revolução industrial – ou Indústria 4.0 -, a revolução ao sabor das inovações tecnológicas, assentes em conceitos como a Internet das Coisas, sistemas ciber-físicos, realidade aumentada, armazenamento em cloud, Inteligência Artificial, etc. Um mar de conceitos onde a premissa é a diluição da fronteira entre o homem e a máquina através da internet e redes convencionais, num sistema simbiótico inteligente assente na partilha de dados.
Estas alterações configurarão um novo tipo de sociedade, cheia de desafios. Qual é o caminho? Lutar pela estabilidade ou abraçar a mudança?
Yoko Ishikura, professora emeritus de estratégia empresarial internacional na Hitotsubashi University, em Tóquio, no Japão, está esta sexta-feira no Porto para ser oradora na Conferência GPA ‘Cidadania e o Futuro da Sustentabilidade’, sobre a temática O Cidadão do Futuro, e falou com o Notícias ao Minuto sobre o futuro das tecnologias e da IA.
A tecnologia está em pleno processo de transformar a forma como vivemos e como trabalhamos e as legislações não estão a acompanharStephen Hawking discursou na última Web Summit e fez uma previsão sombria sobre o futuro da Inteligência Artificial (IA). Grosso modo, Hawking disse que, em 20 anos, os computadores vão ser capazes de imitar o cérebro humano e, depois, vão ser capazes de decidir se querem ou não destruir a humanidade. Partilha destas preocupações?
[Risos] Não necessariamente. Não sou engenheira, deixe-me só deixar claro que não sou especialista em IA. Não posso discutir o futuro da IA per se. A IA melhorou, fez progressos tremendos no último ano ou dois. Estamos a falar de muitas coisas que a IA poderá fazer agora que não fazia antes mas acho que há espaço para a inteligência humana e para a criatividade humana.
A tecnologia e a IA estão a evoluir a velocidades diferentes em diferentes países. Qual acha que deve ser o papel dos governos, em termos de legislação?
A tecnologia está em pleno processo de transformar a forma como vivemos e como trabalhamos e as legislações não estão a acompanhar, vamos pôr as coisas assim. Por exemplo, no caso de trabalhadores de plataformas digitais, como se vai gerir isso? Acho que o trabalho do futuro vai ser muito diferente da forma de trabalhar atual. As legislações e a maior parte dos sistemas sociais estão muito assentes no pressuposto de que a forma de trabalhar tradicional vai continuar a existir, quando não vai.
Na minha opinião, vão existir muito mais trabalhadores em regime freelance ou independentes no futuro, provavelmente a trabalhar em plataformas digitais e acho que a legislação ainda não se atualizou. Nem sequer acho que haja uma solução ou uma resposta certa para o problema porque ainda não sabemos.
Criatividade e imaginação, essas sim, são as competências que vão preencher a lacuna [no futuro]Há muitos estudos que falam em taxas assustadoras de substituição de homem pela máquina no local de trabalho. De que maneira vão as tecnologias mudar a economia e como podem os trabalhadores adaptar-se a esta nova realidade?
As indústrias, a sociedade, a forma como trabalhamos ou como vivemos estão a ser transformadas e o caminho a seguir é assegurar-mo-nos de que as pessoas continuam a aprender novas competências. No que toca à substituição de humanos por robots, não serão perdidos assim tantos empregos per se, no cômputo geral. No entanto, muitas atividades nesses empregos irão ser atribuídas a robots e inteligência artificial.
Por exemplo, os médicos. Os computadores conseguem acumular quantidades extraordinárias de dados relacionados com diferentes doenças e os seus diferentes tratamentos. Os médicos humanos, por outro lado, são limitados em relação àquilo que sabem e em relação à quantidade de informação que conseguem acompanhar sobre o resto do mundo. Ou seja, esta parte do trabalho pode ser feita de forma mais eficaz por uma máquina. No entanto, os médicos têm de explicar os diagnósticos, o tratamento, saber como o paciente se está a sentir através da interação.
Yoko Ishikura é uma personalidade conhecida internacionalmente, tendo participado na TEDxTokyo, em 2014 © Direitos Reservados
Que tipo de competências não podem ser replicadas por robots?
Resolução de problemas complexos, começando pela capacidade de identificação de problemas porque isso requer alguma capacidade de avaliação. No entanto, as competências sociais são aquelas que vão ser necessárias no futuro porque vamos precisar de trabalhar com pessoas diferentes, especializadas em campos diferentes, e ao mesmo tempo vamos precisar de aprender a cooperar com robots e IA, para que possamos obter os melhores resultados.
São necessárias competências técnicas, definitivamente, mas essas podem ser aprendidas através de ensino online e outros ensinos do género. Criatividade e imaginação, essas sim, são as competências que vão preencher a lacuna.
Novos modelos de negócio, como a Uber ou a Airbnb, tendem a colidir com as legislações tradicionais e com os grupos de interesse tradicionaisAcha que as gerações que se seguem precisam de um novo tipo de formação escolar e curricular?
O currículo atual ou tradicional é ensinado pela via escolar ou pela via da formação de emprego. Precisamos de novas competências, aquelas que vão ser necessárias. No que toca à forma como serão ensinadas, essa é a grande pergunta agora, porque creio que ainda estamos na fase de experimentação. Como é que se desenvolve criatividade e imaginação nas pessoas, por exemplo? Como é que se desenvolvem competências sociais? Acho que se podem aprender mais através da experiência do que através de manuais.
A Uber é um exemplo de um novo modelo de negócio baseado em serviços. Alguns países, no entanto, são contra as suas novas regras, em termos de concorrência. É este um sinal de uma mudança que está a chegar na estrutura dos negócios e da legislação?
Acho que a tecnologia trouxe-nos (e vai possibilitar cada vez mais) a construção, desenvolvimento e implementação de novos modelos de negócio, como a Uber ou a plataforma Airbnb. Isso tende a colidir com as legislações tradicionais e com os grupos de interesse tradicionais. Resta-nos saber como resolver estes conflitos, porque estamos em território desconhecido. Não sabemos como regular, ninguém sabe. Temos de nos assegurar de que há uma rede de segurança, de que há igualdade. Mas isso ainda falta saber, não acho que alguém tenha uma resposta clara, para já.
Há muitas vantagens em usar tecnologia. Ao mesmo tempo, temos de nos assegurar que vivemos agora e aquiA que velocidade acredita que vamos chegar a um novo tipo de sociedade, a sociedade depois da quarta revolução industrial?
Será muito mais rápido do que alguma vez esperamos. Será exponencial ao invés de linear. E o progresso exponencial ou a velocidade exponencial é muito difícil de compreender porque tendemos a pensar de forma linear. No entanto, é o que está a acontecer. Algumas pessoas dizem que o progresso que vai acontecer nos próximos 20 anos vai ser superior ao progresso a que assistimos nos últimos 300 anos.
Como vai a tecnologia e a IA mudar a forma como vivemos e interagimos?
A tecnologia torna muitas coisas possíveis, antes não havia a possibilidade de comunicar ou ver o que se passava em sítios diferentes. Acho que torna as distâncias, assim como o tempo, muito menos importantes. Há muitas vantagens em usar tecnologia. Ao mesmo tempo, temos de nos assegurar que vivemos agora e aqui. Temos de nos assegurar de que temos consciência disso.
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