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Nova geração garante tradição do Fado Vadio em Alfama

Jovens fadistas saltam de tasca em tasca, em Alfama, Lisboa, para darem tudo na "paixão" pelo fado, puxam pelas cordas, cativam público, formam uma nova geração e garantem que o Fado Vadio está vivo na guitarra e na voz.

Nova geração garante tradição do Fado Vadio em Alfama
Notícias ao Minuto

06:14 - 13/11/22 por Lusa

Cultura Fado português

Afonso Carvalhais tem 18 anos. Desenvolveu a paixão pela guitarra portuguesa durante a pandemia, e foi a "sonoridade única" do instrumento que lhe despertou a vontade de tocar.

Carvalhais é um dos novos guitarristas assíduos na Tasca do Jaime, casa que lhe abriu as portas, e lhe deu a oportunidade de tocar e aprender ao lado de mestres, com a primeira guitarra oferecida pela mãe.

Começou a aprender música "no piano", mas os filmes antigos de Vasco Santana foram os cúmplices que o puxaram para o som da guitarra portuguesa, com referências a intérpretes históricos como Carlos Paredes, Alcino Frazão e Zé Pracana.

Dona Laura Nunes, a "Margaret Thatcher da Tasca", como Jaime se refere à dona da casa, é quem garante o espaço aos jovens artistas que aparecem no Fado Vadio.

Laura entende que tem o "dever de dar oportunidade" aos mais novos, e aponta com orgulho o exemplo dos guitarristas Daniel Freire e Afonso.

A empresária enaltece a "grande experiência" de trabalhar com jovens, além de a agradecer, porque também é mãe.

Daniel Freire tem 17 anos, começou a tocar guitarra portuguesa aos 10 anos por influência da família, sente as letras e tenta dar o espírito que lhes corresponde, sem conseguir explicar "algo que vem de dentro".

Ao longo da noite, os jovens artistas puxam pela voz e pelas guitarras para receberem o agradecimento do público, a maioria estrangeiros que, sem perceberem a língua, demonstram satisfação em aplausos e nos olhares que dirigem aos fadistas.

Eduardo Batista completa 19 anos e começou a cantar aos oito, por herança do avô. O fadista defende que a sonoridade do fado é inigualável e "toca a alma" de qualquer pessoa, mesmo aos estrangeiros, porque a "guitarra toca em qualquer coração", indiferente à língua.

Toda a intensidade colocada no fado é "trespassada" para todas as linguagens, só existe nesta maneira de cantar, e em Portugal, sendo a música que mais lhe toca a alma, precisa Eduardo Batista à agência Lusa.

Outra figura incontornável das violas de Lisboa é o "Dr. Heleno", como os jovens artistas chamam ao médico reformado, a quem o "amor" pelo fado, como era tocado há 50 anos, o leva a Alfama acompanhar os jovens artistas.

O médico Fernando Heleno, com a sua viola, assume ser o "travão" e o "equilíbrio da malta mais nova", porque eles "trazem outras ideias" e podem desvirtuar a essência do "Velho Fado", de que é defensor.

'O viola' argumenta que o fado tem uma "forma própria", e os mais novos estão ainda um "bocado à deriva", devido à pouca experiência que ainda têm.

Carolina Gomes, de 19 anos, despertou a sua paixão pelo fado durante uma homenagem à irmã, que morreu precocemente. Quando cantaram um fado em sua memória, foi aí que percebeu a essência desta música e deste canto.

Na altura, optou entre a natação e uma escola de fado, para tirar os "primeiros tons", e hoje é uma das vozes mais aplaudidas por Alfama.

A fadista começou nas casas de fado e nas tascas, por serem as portas de entrada de eleição a quem "quer esta vida", disse Carolina à Lusa, com um sorriso nos lábios e os olhos brilhantes.

As tascas de Alfama ainda "recuperam" da pandemia, sem saber o futuro do negócio ou do turismo, enquadrou Jaime Nunes frente à Tasca antes de a noite de fados começar.

A paragem fez com que as gavetas das registadoras tivessem ficado vazias, "sem moedas para a 'bucha'", mas valoriza o facto de estarem vivos. E a paixão pelo Fado Vadio faz ultrapassar qualquer dificuldade ou pandemia.

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