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Charles viveu 50 anos num hospital por ser "desafiador". E não é o único

Na Escócia isso acontece a muitos utentes com "dificuldades de aprendizagem".

Charles viveu 50 anos num hospital por ser "desafiador". E não é o único
Notícias ao Minuto

15:25 - 10/05/24 por Notícias ao Minuto

Mundo Doenças mentais

Um homem escocês de 62 anos, que sofre de epilepsia e tem algumas dificuldades de aprendizagem, viveu num hospital mais de 50 anos, apesar de não ter nenhuma doença grave.

À BBC, Charles Esler admitiu que se sentia triste com a situação e que não gostava de estar "trancado" no hospital.

Já a irmã, Margo, contou que sempre lutou para que Charles fosse transferido para um lugar onde pudesse ser independente, algo que só aconteceu o ano passado, quase cinco décadas depois de ter sido internado, por aconselhamento médico.

De acordo com a instituição Richmond Fellowship Scotland, apesar da família ter lutado "durante anos para encontrar um lugar adequado" para Charles, "infelizmente há algumas pessoas, como ele, que ficam 'presas' no sistema".

Algo confirmado agora pela BBC através de uma investigação. De acordo com este meio de comunicação social, centenas de pessoas com dificuldade de aprendizagem estão confinadas em hospitais ou a viver a quilómetros das suas famílias, na Escócia.

Isso acontece apesar de décadas de políticas governamentais terem deixado claro que todos os pacientes deveriam ser transferidos das instituições de longa permanência para as suas próprias casas.

Há dois anos e meio, o governo escocês prometeu, inclusive, que a "maioria" destes utentes iam ser transferidos para as suas moradias até março de 2024. No entanto, segundo dados obtidos pela BBC, ao contrário do que seria de esperar, o "número de pessoas internadas aumentou" de 173 para 191, desde o verão passado, em vez de diminuir, o que revolta as famílias.

O caso de Charles é a prova de que as pessoas com dificuldades de aprendizagem podem também viver em comunidade, desde que apoiadas e acompanhadas. "Ele foi incrível durante a transição, está a crescer, bastante independente", declarou a irmã.

E o sorriso de Charles prova isso mesmo. "Agora posso sair e ir a alguns lugares. Posso ir a um bar, almoçar fora. Gosto de 'fish and chips' (prato típico do Reino Unido que inclui batatas e peixe frito)", relatou, acrescentando que gosta de se sentar no sofá a ver filmes do James Bond e que está a aprender a cozinhar, jardinar e a limpar a casa sozinho.

"É uma sensação boa. Nunca tive esta liberdade antes", sublinhou.

Charles foi internado, pela primeira vez, quando era apenas uma criança, depois de os pais serem aconselhados por médicos a fazê-lo por este ter um "comportamento desafiador" e estarem com "dificuldades em acertar a medicação para a epilepsia".

Apesar da sua reintegração na sociedade estar agora a correr bem, o processo "não foi um conto de fadas" e não ocorreu do dia para a noite, como lembrou a irmã. "Teve muita gente envolvida e demoramos cerca de 14 anos para encontrar o lugar certo para ele", revelou, sublinhando que "todos deviam ter alguém capaz de garantir que não somos apenas um número".

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