Passava pouco das 4 horas da madrugada quando as autoridades receberam o alerta para um naufrágio entre São Pedro Moel e a Praia da Vieira, na Marinha Grande, distrito de Leiria.
Quase 12 horas depois da tragédia, ainda é desconhecido o destino de três dos 17 pescadores que seguiam na embarcação 'Virgem Dolorosa'. Há pelo menos três mortos, onze pessoas resgatadas e os restantes três ocupantes estão desaparecidos.
A dúvida não reside apenas sobre o que o estado das três pessoas que ainda não foram encontradas, mas também sobre o porquê da tragédia. Em comunicado, a Autoridade Marítima Nacional deu conta de que ainda "se desconhecem as causas que estão na origem do acidente", algo reforçado pelo presidente da câmara da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, que apontou em declarações aos jornalistas que o "mar estava calmo", pelo menos até ao naufrágio, que aconteceu depois de os pescadores "terem recolhido o peixe".
A dificuldade em encontrar os corpos prende-se não só com a área do mar, "mas também pela dificuldade que é avistar corpos ou pessoas" na zona de buscas, segundo a Força Aérea. Apesar de o barco ter naufragado a 1,5 km da costa, as buscas estendem-se por alguns quilómetros e com a ajuda de aeronaves.
As vítimas
Para já, é conhecido que um dos pescadores está em estado grave com problemas respiratórios. A explicação foi dada pela diretora clínica do Hospital Distrital da Figueira da Foz, Sónia Campelo Pereira, que referiu que este homem, de 57 anos, vai ser transferido para a ULS de Coimbra.
Nesta unidade hospitalar "deram entrada sete vítimas, todas do género masculino, entre os 23 e os 57 anos", referiu a responsável. Há ainda doentes em observação, e pelo menos um já teve alta hospitalar. Os que estão em observação mostram "alguma consternação pela situação que viveram". Estes pacientes estão a ser acompanhados pela medicina interna, dando conta de alguns "quadros respiratórios e taquicardias".
Pedro Santana Lopes referiu que já tinha estado com algumas das vítimas e que não insistiu muito em perceber, nesse primeiro momento, o que se passou, dado que havia "choque" entre os sobreviventes - um dos quais lhe contou que não passou "mais de três minutos na água".
Já também o armador do barco, António Lé, presidente da Organização de Produtores da Figueira da Foz, disse não haver explicações para o naufrágio da embarcação. "A embarcação estava no exercício da sua atividade, em conjunto com as outras [mais seis da mesma organização] e, de um momento para o outro, virou. Não se sabe as razões, não se sabe nada, virou", explicou António Lé, detalhando que o barco foi comprado há três anos e que era não só moderna, como quem lá seguia era experiente. "Nada justifica o que aconteceu", reforçou.
Já o porta-voz da Autoridade Marítima Nacional (AMN), José Sousa Luís, explicou que 15 dos 17 tripulantes eram portugueses e os outros dois indonésios. Tanto os desaparecidos como as vítimas mortais são de nacionalidade portuguesa. Em declarações aos jornalistas, o porta-voz da AMN adiantou que os tripulantes tinham idades entre cerca de 30 e 65 anos.
"À partida, esta ondulação que estamos aqui a sentir não é suficiente para a embarcação ter naufragado. Não estão condições oceanográficas muito adversas", referiu José Sousa Luís.
O armador António Lé, presidente da Organização de Produtores da Figueira da Foz, disse hoje não haver explicações para o naufrágio da embarcação "Virgem Dolorosa" ao largo de praias de Leiria, que causou a morte a, pelo menos, três pescadores.
Lusa | 11:08 - 03/07/2024
As reações
O chefe de Estado lamentou "profundamente" a tragédia, e numa nota no site da Presidência endereçou "as sinceras condolências às famílias, associando-se à dor e ao luto daqueles que perderam um ente querido, um colega de faina ou um amigo, bem deseja rápida recuperação aos feridos desta trágica ocorrência".
"A perda das vidas destes valorosos homens é uma tragédia para todos nós", rematou.
Também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, lamentou a situação. "O primeiro-ministro de Portugal lamenta profundamente o naufrágio de uma embarcação de pesca entre a praia de São Pedro Moel e a Praia da Vieira, no concelho da Marinha Grande, ocorrido esta madrugada, e a consequente perda de vidas. Luís Montenegro apresenta sentidas condolências às famílias das vítimas nesta hora de pesar", refere o comunicado.
Para além de endereçar as condolências e ter estado com os familiares das vítimas, referindo que haverá um dia de luto municipal, Santana Lopes considerou a situação "um horror", referindo que era "importante que quem está vivo fique bem".
Já o presidente da Câmara da Marinha Grande, Aurélio Ferreira, deixou uma "palavra de conforto" aos familiares" e apontou que agora o foco era encontrar quem ainda esta desaparecido. O responsável escreveu ainda que "havia mais barcos à volta" quando a tragédia aconteceu e foi quando deixaram de ter sinal da embarcação.
Os próximos passos
Uma equipa de mergulhadores já fez buscas em redor da embarcação, que se encontra virada, e verificou que ninguém está preso nas redes. O porta-voz da AMP, José Sousa Luís, diz que ainda "não há condições" para fazer uma verificação dentro da embarcação.
O mesmo responsável deu conta de que já foi aberto um inquérito de sinistro marítimo, assim como outro que vai investigar as três mortes já confirmadas.
"Estamos concentrados nas buscas e em encontrar as três pessoas que se encontram desaparecidas", disse José Sousa Luís.
O Comando de Operações Marítimas da Marinha Portuguesa mobilizou uma embarcação da Estação Salva-Vidas da Nazaré e um helicóptero da Força Aérea Portuguesa para as buscas. Está ainda empenhada a equipa de vigilância aérea do Comando-local da Polícia Marítima da Nazaré.
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