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"Sentimos que tornamos corações vazios em corações cheios"

André Leonardo, português distinguido como um dos sete jovens que está a transformar o mundo, é um dos entrevistados de hoje do Vozes ao Minuto.

"Sentimos que tornamos corações vazios em corações cheios"
Notícias ao Minuto

15/06/18 por Natacha Nunes Costa

País André Leonardo

Com 28 anos, o açoriano André Leonardo já visitou 43 países, 23 dos quais sozinho com mochila às costas para conhecer histórias inspiradoras. Escreveu um livro sobre essa aventura com o nome de Faz Acontecer, deu mais de 100 palestras motivacionais, que chegaram a pelo menos 35 mil pessoas, tem um programa no canal Q sobre empreendedores portugueses, que vai agora para a segunda edição. Está ainda a implementar uma série de academias para dar aos mais jovens ferramentas para que lutem pela concretização dos seus sonhos e ainda dá aulas de empreendedorismo no ISCTE.

Não é por isso de estranhar que a Pangea, uma associação espanhola que procura despertar a geração millennial, o tenha distinguido como um dos sete jovens que está a transformar o mundo.

André é, sem dúvida, o espelho do que quer transmitir. Desde cedo que faz acontecer e prova ao mundo que é possível concretizar todos os sonhos, porque, tal como garante, “difícil é diferente de impossível”. Por isso mesmo, este sábado, dia 16 de junho, o jovem empreendedor açoriano realiza, pela quarta vez, o maior evento de atitude empreendedora de Portugal na Ilha Terceira, de onde é natural.

O Faz Acontecer Talks 2018, com os 500 bilhetes já esgotados, conta com 14 oradores, entre os quais Tomaz Morais, ex-selecionador de Rugby, Susana Torres, coach de Alta Performance que ficou conhecida por ter ajudado o futebolista Éder, Jorge Pina, atleta paralímpico, Nini Andrade Silva, designer de interiores, e o músico João Direitinho. Um evento que promete tornar "os corações vazios em corações cheios”.

Como é que se tornou num dos sete jovens que estão a transformar o mundo?

Para mim até é difícil pensar nisso dessa forma, não sei se estou a transformar o mundo ou não. Simplesmente estou a fazer uma coisa de que gosto e pelos vistos isto está a ter impacto na vida de algumas pessoas. Se isso é transformar o mundo, pois que seja. Quando me dizem isso eu fico um bocadinho desconfortável porque eu não vejo que esteja a mudar, isso não é de todo o meu objetivo é uma consequência do trabalho que está a ser feito e isso é giro.

E como é que tal aconteceu?

Eu tinha um propósito muito grande de inspirar as pessoas a fazerem acontecer, isto porque em Portugal passámos a crise económica e foi uma altura complicada para todos. Queria ajudar as pessoas a darem a volta, foi a partir dessa ideia que tudo nasceu e fui fazendo acontecer.

Como é que surgiu a ideia de dar a volta ao mundo à procura de histórias de sucesso?

Ainda na faculdade, organizei um dos primeiros eventos de empreendedorismo em Portugal. Que foi um evento que aconteceu na ilha Terceira, em 2011, para 600 pessoas, e que juntou vários oradores, entre eles o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que nunca tinha ido a nenhum evento do género. A partir daí, implementei uma série de workshops na Ilha Terceira para as pessoas poderem aprender a montar o seu negócio. E depois disso, sim, organizei uma segunda edição desse evento e pensei: 'isto nos Açores está já a conseguir envolver muita gente, como é que eu agora vou levar esta inspiração a Portugal inteiro?' E aí é que surgiu a ideia da volta ao mundo sozinho.

Posteriormente, tive a ideia de contar esta história e trazê-la de volta a Portugal e mostrar às pessoas que também é possível fazer acontecer. Durante a viagem, em 2014, consegui perceber quais são as características que as pessoas que fazem acontecer têm. Então, quando cheguei a Portugal, decidi dar palestras e formações para ensinar às pessoas como é que elas podem fazer acontecer também na sua vida, independentemente, de onde estão e da situação em que vivem. É isso que tenho feito até hoje.

Qualquer que seja o problema, faz parte da soluçãoE quais são essas características?

Há várias, uma das mais importantes que eu sempre tive neste lema de vida é: qualquer que seja o problema, faz parte da solução. Todas as pessoas com quem eu falei, perante um problema preferem sempre pensar: ‘ok, temos esta situação, temos este problema, como é que o vamos resolver?’ em vez de: ‘fogo, grande problema e agora temos de voltar para trás, isto afinal não deu, e alguém tem de fazer alguma coisa’; E não é alguém, são eles. Outra característica é fazer do ‘não’ uma motivação, um combustível, quase todos os empreendedores com quem eu falei quando alguém lhes dizia: ‘não vão conseguir’, em vez de irem a baixo, respondiam ‘ai não, vais ver se não’. E isso é um combustível muito forte. A maioria das características que eu encontrei pelo mundo são coisas relativamente simples, mas que quando implementadas fazem muita diferença.

Notícias ao Minuto© Faz Acontecer

Quantos países visitou?

Já visitei 43 países, mas durante a volta ao mundo, que deu origem ao livro, fui a 23.

Quantas pessoas entrevistou para o livro ‘Faz Acontecer’?

Durante a preparação da viagem, o meu objetivo era entrevistar 100 pessoas, agendei 100 entrevistas, mas no final acabei com 143, porque, à medida que ia conhecendo pessoas, elas diziam-me ‘olha André estás aqui para falar comigo, mas eu conheço uma pessoa muito mais inspiradora do que eu’. E outras aconteceram porque quando vais de viagem sozinho, de mochila às costas pelo mundo, acontecem muitas coisas inesperadas, muitas entrevistas surgiram daí, nunca pensava que pudessem acontecer, e de repente conhecia uma pessoa fantástica e dizia: ‘olha tens 10 minutos para fazermos uma entrevista’, a pessoa dizia que sim e eu fazia a minha entrevista

Quanto tempo demorou a preparar a viagem?

Demorei dois anos a preparar a viagem. Não tinha dinheiro nenhum, os meus pais não são ricos, então vendi as minhas coisas, pedi patrocínios a 97 empresas e consegui sete, fiz uma campanha de crowdfunding e, mesmo assim, fui com pouquíssimo dinheiro. A segunda razão foi porque estava à procura de pessoas inspiradoras pelo mundo inteiro. Primeiro escolhi os países para onde queria viajar, depois contactei associações, câmaras municipais, etc., expliquei-lhe o projeto, pedi nomes com determinado perfil e eles recomendavam algumas. Posteriormente, lia o perfil, selecionava algumas delas e contactava-as para marcar as entrevistas. Na altura tinha um documento de Excel que se me o tivessem roubado eu não sabia o que fazia à minha vida.

Demonstrei que os outros estavam errados, que o maluco não era eu, os malucos eram os outros, e isso teve um poder muito forte em mimQual a melhor recordação que tem dessa experiência?

A melhor foi ter acontecido. Era uma coisa que muita gente à minha volta dizia que era impossível e ter concretizado a viagem, independentemente dos empreendedores, independentemente de todas as coisas fantásticas que eu vi, o ter acontecido, foi algo incrível. Porque achei que era capaz e demonstrei que os outros estavam errados, que o maluco não era eu, os malucos eram os outros, e isso teve um poder muito forte em mim. Tanto que, hoje em dia, quando me dizem que eu sou maluco eu acho que estou num bom caminho, e quando apresento um projeto a alguém, e esse alguém me diz: ‘ah boa, acho que vai dar certo’, começo a pensar que não estou a ser suficientemente ambicioso.

E a pior lembrança?

Não sou uma pessoa fatalista, gosto de olhar para as coisas como elas são e mesmo quando não corre bem isso é uma aprendizagem. Mas posso dizer-te que o momento mais triste que tive durante a viagem foi quando, num dia fui assaltado em Moçambique e fiquei sem praticamente nada do que tinha trabalhado durante dois anos. No dia seguinte, vou para a Índia de avião e quando aterro na Índia a mala, com o pouco que me restava, não apareceu e eu fiquei, literalmente só com a roupa que tinha vestida no corpo. Naquele aeroporto, durante 5 ou 10 minutos, foi complicado, não sabia o que havia de fazer.

E encontraram a mala?

Não, não. A mala nunca apareceu, fui indemnizado pela companhia aérea, mas o valor que me deram nem dava para um terço do que tinha lá dentro. Mas também aprendi com isso, para a próxima não coloco coisas de valor na mala, embala-se a mala muito bem, coloca-se 50 cadeados na mala e a coisa não acontece. Portanto, também aprendi com isso. Isto sou eu a brincar, claro, mas não deixa de ser verdade.

Qual a história mais inspiradora que encontrou?

Há muitas, é difícil escolher, mas nas minhas palestras conto sempre a do Ricardo Teixeira. O Ricardo nasceu com todas as suas capacidades físicas, aos 16 anos estava a brincar na praia com os amigos e ficou tetraplégico e, como ele diz, quando uma pessoa fica tetraplégica tudo muda, tudo começa de novo. Como é que seguras um copo? Ou como é que desces uma escada? Ficas muito dependente. Mas hoje o Ricardo tem 40 e poucos anos, está à frente de cinco empresas, uma no Reino Unido, três em Lisboa e uma em Évora, emprega mais de 60 pessoas, é casado, tem um filho e conduz. É uma história fantástica! O Ricardo é um homem incrível, uma força da natureza, é alguém que faz acontecer nos negócios, claro, mas sobretudo na vida. E ele tem uma série de ensinamentos muito interessantes, por isso é que conto sempre essa história. Ele foi das primeiras pessoas que entrevistei, comecei com ele e comecei em grande. É um exemplo muito impactante.

Pensa em repetir a experiência?

Depois de dar a volta ao mundo, comecei a dar muitas palestras e formações e, porque acho que em Lisboa e Porto as coisas acontecem mais facilmente do que em outros lugares, comecei a implementar uma série de academias para ensinar jovens a fazer acontecer, para não aprenderem só português, matemática e físico químicas, que obviamente são importante.

Estou a implementar isso e estou a preparar já a segunda temporada do programa de televisão 'Fazer Acontecer', transmitido pelo Canal Q, em que dou a volta a Portugal para conhecer gente fantástica que faz acontecer. Para 2020, já estou a preparar outra aventura, portanto, faltam dois anos para a próxima aventura fora de Portugal, se tudo correr bem.

E já está a pensar no próximo livro?

Provavelmente, quando terminar o programa de televisão, vou lançar um livro com as histórias dos empreendedores em Portugal, inspirado nas histórias que conhecemos durante o programa e mais algumas. Quanto à minha nova aventura fora de Portugal, provavelmente, sim, também vou escrever um livro sobre isso.

E também é professor. O que transmite aos seus alunos? Usa a experiência que teve pelo mundo para os motivar?

Sim, também dou aulas no ISCTE, como professor de empreendedorismo I e II. Claro que uso a minha experiência durante as aulas porque acho que, hoje em dia, tudo o que é conhecimento muito técnico está à distância de um clique, na internet, e nos livros. Claro que a parte teórica faz parte e um professor tem de falar nisso, mas gosto sempre de aliar uma componente muito mais prática que é passada com experiências, com a vida real. É algo que não vem nos livros muitas vezes e aproveito as minhas experiências e as pessoas que conheço para passar a mensagem de outra forma.

Por um lado temos cada vez mais pessoas a fazer acontecer, por outro, há muita gente que não acredita em siAcha que faltam jovens empreendedores em Portugal?

Acho é que muita gente não acredita, e digo isso por experiência e pelo que vejo. Por um lado temos cada vez mais pessoas a fazer acontecer, por outro, há muita gente que não acredita em si, que não acredita que consegue, que acha que os outros só conseguem porque nasceram num berço de ouro ou porque são especiais. E não. Há casos e casos, mas quase toda a gente que eu conheço fez acontecer porque meteu mãos à obra e foi à luta.

Falta a muitas pessoas capacidade para acreditar nelas próprias, todos são capazes de cumprir os seus sonhos, com muito esforço e dedicação vão lá chegar, agora vão ter de fazer por isso, ninguém vai fazer por eles. Por exemplo, quando disse aos meus pais que queria dar uma volta ao mundo, que queria criar uma empresa, mesmo quando disse que queria criar a segunda, eles não me apoiaram muito, porque, para eles, o conceito de sucesso é ir para a faculdade e depois trabalhar para uma grande empresa. Portanto, quando lhes disse que não queria isso, a reação deles foi ‘não, tu não estudaste para dar a volta ao mundo, nem criares negócio’. Por isso acho que às vezes quem está à nossa volta também não nos apoia como nós precisávamos e isso também afeta a nossa capacidade de acreditar em nós próprios.

As pessoas dizem muitas vezes: ‘não te metas nisso, isso vai dar muito trabalho, vê lá que tu nem sabes fazer entrevistas, nunca viajaste, tu isto, tu aquilo’. Isso faz com que duvidemos de nós próprios e essa pode ser uma das razões que leva as pessoas a não acreditarem em si.

Essa é a principal dificuldade que os jovens empreendedores enfrentam em Portugal?

Os pais tentam dar tudo o que têm aos filhos e isso faz com que muitas vezes os filhos não tenham de se esforçar muito, porque as coisas vieram de forma muito fácil. A nossa geração acha muitas vezes que as coisas vêm de forma fácil e não vêm e quando temos de enfrentar o mercado de trabalho, quando há 100 pessoas para uma vaga, as coisas não são assim tão fáceis, não é como mandar quatro e-mails, não é assim. Às vezes, temos de fazer coisas de que não gostamos, temos de passar por sacrifícios, temos de lutar muito até as coisas acontecerem como queremos e acho que há muitos jovens que ainda não perceberam isso, estão à espera que lhes venham resolver as coisas, que os pais, o Governo ou alguém faça por eles, é sempre alguém, são sempre os outros. Sendo que os outros somos nós.

O que é que as pessoas podem retirar das suas palestras? O que é que aprendem com elas?

Eu sou muito fã de utilizar modelagem, ou seja, conto histórias de pessoas que fazem acontecer, explico o que é que elas têm que as fez fazer acontecer e digo às pessoas: ‘olha, se eles fizeram, eles que eram só pessoas, tal como vocês, então vocês também podem fazer’. No fundo é isso que eu faço. Nas palestras conto muitas histórias de pessoas que conheci, nos eventos, tal como vamos ter na Praia da Vitória, temos muitos oradores que vão contar como é que fizeram acontecer na sua vida e quem está na plateia provavelmente vai pensar: ‘espera aí, se o João Direitinho, que tem 22 ou 23 anos, conseguiu criar uma banda chamada ÁTOA, dá concertos pelo país inteiro, está agora a montar uma empresa de turismo, já fez isso tudo, eu também posso fazer isso ou outra coisa qualquer’. A minha fórmula de inspirar as pessoas vai muito por aí.

Como é que escolhe os oradores para os seus eventos?

O primeiro evento começou em 2011, vai agora para a 4.ª edição. As Fazer Acontecer Talks estiveram paradas durante algum tempo, quando eu fui dar a volta ao mundo. O evento voltou o ano passado e este ano vamos repetir. Os bilhetes já estão esgotados, são 500 pessoas. Temos oradores de muitas áreas, desde o João Direitinho que é músico, ao Tomaz Morais, que é treinador de rugby e que levou a Seleção portuguesa amadora ao mundial. Temos a Nini Andrade que é designer, o Carlos Gonçalves que criou uma empresa chamada Mendes&Gonçalves, conhecida pela marca Paladin, e que emprega 250 pessoas na Golegã. Portanto, temos pessoas muito diferentes e o objetivo é esse mesmo, é trazer gente diferente, com experiências diferentes, de áreas diferentes.

Para que tipo de público são estes eventos?

Digo sempre que estes eventos são dos oito aos 80, desde que tenham sonhos e queiram atingir algo mais. Portanto, é para toda a gente porque aquilo que eu entendo é que ser empreendedor é fazer acontecer e podes fazer acontecer criando um negócio, podes fazer acontecer trabalhando para outros, ou podes fazer acontecer na tua vida como eu fiz ao dar a volta ao mundo. Eu até costumo dizer que o Faz Acontecer Talks é um evento para toda a gente desde que tenha sonhos.

E acha que é possível transformar o mundo?

Entendo que transformas o mundo, quando mudas a vida de alguém e, portanto, acredito que nos eventos já fazemos isso. Muitas pessoas vêm ter connosco no final, para nos dar feedback, lidamos com as críticas menos boas e ficamos com as críticas excelentes. Por isso, no final destes encontros, sentimos que estamos num bom caminho. Sentimos que tornamos corações vazios em corações cheios.

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